Pioneiros negros Sister Rosetta Tharpe. Foto: Reprodução

Criatividade à prova de racismo: os gênios negros que criaram a música moderna

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Neste Dia da Consciência Negra, lembramos dos pioneiros pretos que pavimentaram o caminho para os sons que curtimos hoje

Pioneiro, “que ou aquele que vai adiante, que anuncia algo de novo ou se antecipa a alguém ou a algo; precursor”, segundo o dicionário Oxford. No mundo da música, o conceito vai além: aquele que enfrenta comentários como “que maluquice é essa?” ou “isso não vai vender nunca!” vindos de donos de estúdio e de gravadoras. Caras que confiam no taco, firmes na missão de trazer algo novo para o mundo. Nesse quesito, ninguém bate os negros, descendentes do musical e ritualístico continente africano, inventores dos mais sofisticados batuques e com música e dança no sangue.

Sem a sua coragem e criatividade, não haveria Beatles, Alok, Anitta, festivais de música sertaneja, DGTL, punk, heavy metal… enfim, não haveria basicamente nada. Ou, pelo menos, seria muito diferente (e sem graça).

O mérito deste povo ainda conta com um componente triste: o racismo. Toda essa criatividade vinha de um ambiente no qual os negros tinham extrema dificuldade de acesso à educação, a bons empregos e á remuneração decente. Logo, também eram afastados de instrumentos e estúdios de boa qualidade. Mas nem isso segurou a sua grana criativa. Se a arte vem do sofrimento, da necessidade de se expressar, a qualidade da produção musical do povo preto é uma prova.

Que o digam os gêneros musicais majoritariamente negros, como o blues e o reggae. Muitas vezes, a apropriação cultural rolava solta. Gravadoras descolavam um artista branco, aceito pelo público conservador, para gravar a música que a galera já estava fazendo há um tempão na quebrada. Por isso que os títulos de rei do rock, por exemplo, foram para Elvis Presley e Roberto Carlos. Ou Frank Sinatra como o grande ícone do jazz, por mais talentosos que tais artistas tenham sido.

Quando se fala em pioneirismo, sempre é importante colocar a coroa na cabeça certa. Vem com a gente!

Sister Rosetta Tharpe – Rock’n’Roll

A verdadeira rainha e criadora do rock’n’roll, acelerando o gospel e adicionando guitarra elétrica

Tião Carreiro – Música Sertaneja

O precursor do pagode (sertanejo), o ponteio de viola que virou símbolo da música caipira

Louis Armstrong – Jazz

Obrigado Sinatra, mas esta aqui é a verdadeira “a voz” do jazz!

Donga – Samba

O cara que gravou o primeiro samba da história

Kool Herc – Hip-Hop

O DJ inventou o rap para animar a festa de aniversário da irmã

Frankie Knucles – House Music

Artistas ouviam seu set na warehouse e iam para casa compor house music para agradar o DJ

Florence Price – Música clássica

Nascida em 1887, foi a primeira compositora negra da história da música clássica

Ray Charles – Soul Music

I Got A Woman, de 1954, é considerado o primeiro disco de soul da história

Juan Atkins – Techno

Mostrou o techno ao mundo com o pioneiro No UFOs / Model 500

Abdullah – Funk Carioca

Na aurora do gênero, um dos primeiros hits do funk carioca, em 1989

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.