O que dá quando se junta Junior Lima com influências de Daft Punk? Conheça (e se supreenda) com o Manimal

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Primeiro veio a curiosidade, depois a cara de “olha, até que é legal” e no final da clipe eu já estava convencida de que o novo projeto do Junior Lima, o eterno Sandy & Junior de hits como Vamo Pulá, com o DJ Julio Torres é um sopro de vida criativa para o universo da música eletrônica pop.

A junção de Junior e Julio ganhou o nome de Manimal e o clipe que eu vi é o da música Think About It, uma superprodução que tem participações de Ariel Goldenberg, Marco Luque, José Aldo, OSGEMEOS e Carol Trentini e roteiro escrito pelo próprio Junior. Dá uma olhada.

Think About It – Manimal

As influências que gritam são Daft Punk e Justice, dois nomes que são a ponta do iceberg de uma gigantesca cena de música eletrônica francesa, da qual Junior se declara fã. Mas existe também uma pegada de rock e até funk dos anos 70. Quem pilota o Manimal com Junior é Julio Torres, um dos DJs brasileiros que mais conseguem circular do under ao pop – se por um lado ele mantém um projeto com Amon Lima (Família Lima), o Crossover, por outro ele faz coisas como o programa Vinyl Sessions, com o DJ Andy, em que só recebemos convidados (DJs e pessoas do meio da música eletrônica) “do underground”.

Vinyl Sessions com DJ Marky

Leia abaixo a entrevista que fiz com os meninos dias depois do lançamento do projeto, que aconteceu com festa na sede no Google, em São Paulo.

Music Non Stop – Vi o vídeo do lançamento e vi as referências óbvias a Daft Punk, nas máscaras, vocoders. Quais são as outras referências mais fortes (eletrônicas) de vocês?

Junior Lima – Gosto bastante da cena francesa em geral: SebastiAn, Justice etc… Soulwax era o que eu mais ouvia antes de começar a trabalhar com música eletrônica. Também ouço muito Bonobo, Mount Kimbie, Flying Lotus. Essa galera.

Júlio Torres – Acho que tudo que tiver efeitos de voz processada e brincadeira com máscara vai ser relacionado ao Daft Punk. Mas, quando as pessoas ouvirem as outras tracks, vão entender que o projeto vai pra um caminho mais abrangente. As máscaras fazem alusão ao nosso primeiro videoclipe, por isso a brincadeira com elas. Nossa escola vem do rock e do funk dos anos 70. No caso do primeiro single, Think About It, vocês podem escutar linhas de baixo puxadas pro funk, influenciadas por bandas como Fatback e Brass Construction. Gostamos de trabalhar com distorções de guitarra em praticamente todos os tracks.
As referências são muitas e distintas, pra esse projeto vão mesmo de projetos tipo Soulwax e SebastiAn, MSTRKFT a LCD Soundsystem, Crazy P a Jamie Woon, Air a Justice, Mutemath a The Whitest Boys.

Music Non Stop – A letra de Think About It parece brincar com a experiência do Junior de ter vivido um papel de superstar. Falem um pouco sobre a letra e este momento atual mais simplão, vamos dizer assim, da carreira.

Junior Lima – Eu percebo, e sempre fez parte da minha vida, essa relação com a fama ou não. Sempre foi uma coisa que eu vivi e, hoje em dia, com lance de redes sociais e a maneira como o mundo está, sinto que existe uma busca incessante pela fama. Deu uma espalhada, uma generalizada. Acho importante lembrar as pessoas do que realmente importa na vida. Eu já vivi isso e sei o que realmente me deixa feliz ou não, sei o que trouxe minhas crises e o que trouxe minhas alegrias. Quis questionar isso porque é uma coisa que me chama atenção.
O Manimal nasce para ser simples. Nas linhas, no conceito visual, na sonoridade, enfim…

Na vida esquecemos que precisamos de pouco pra viver bem e feliz. O mundo atual, na minha opinião, se preocupa demais em agradar ou se equiparar ao próximo, mas o legal mesmo é viver com o que a gente tem. Sempre tive o conceito de fazer o meu trabalho com o que eu tenho. Às vezes a gente não se dá conta, mas nossa vida é bem mais legal do que a desses supostos “superstars”, e essa música está aí para lembrar bem a gente.

Crianças famosas desde sempre: Junior com a irmã, Sandy

Music Non Stop – O clipe de Think About é uma superprodução se formos comparar ao mercado de clipes nacionais. Há investimento do bolso de vocês ou tem alguma marca investindo no Manimal?

Julio e Junior – Totalmente do bolso. A gente queria contar a história da maneira certa e fizemos o necessário. Mas é uma produção independente. Estamos trabalhando e cuidando de cada detalhe deste projeto por mais de um ano. Ficamos muito felizes com o resultado e queremos mostrar toda a qualidade possível deste novo projeto, que foi e esta sendo feito de forma total independente, ou seja, bancado por nós.

Music Non Stop – Qual o papel de cada um de vcs no projeto?

Junior – A gente trabalha muito como uma equipe, os dois fazem de tudo. Dividimos as funções, as responsabilidades. Acaba que os dois são muito voltados para a produção de música, cada um com suas particularidades, mas de forma complementar. O Júlio tem muita experiência com produção e a parte técnica dos softwares, computadores, como mexer nos programas e plugins. E eu tenho experiência com música de outros gêneros, com instrumentos, como captar, que sons quero tirar de cada um. A gente junta as experiências de cada um e o resto dividimos.

Julio – Fazemos tudo juntos, cuidando de todo processo. Gosto muito da parte dos detalhes, timbragem e da definição do som. Como inserimos muitos elementos orgânicos de guitarra e voz nos tracks, o Junior tem uma ação fundamental no desenvolvimento das ideias e somos muito atentos a pequenos detalhes. Às vezes perdemos horas rosqueando em cima de um timbre ou beat pra que o som fique perfeito e o processo final de mixdown também. Fazemos questão de fazer.

Music Non Stop –  Julio é DJ há muito tempo, como vocês se conheceram pra formar o Dexterz e agora o Manimal?

Junior – A gente se conheceu através do Amon [Lima], quando formamos o Dexterz. Fui vê-los tocarem no projeto Crossovers, que eles já têm há 11 anos, e a gente se conheceu ali. Cheguei pra uma canja em um show e fizemos um show juntos. Acabou virando uma coisa que as pessoas pediam e daqui a pouco formamos o Dexterz, que durou quatro anos. Quis dar uma pausa, fiquei um período evoluindo, buscando outras coisas, fazendo pesquisas. Quando retornei, voltei a produzir sozinho e no processo, naturalmente, comecei a chamar o Júlio. Tivemos experiências em estúdio e percebi que a gente se dava bem junto. As coisas que eu estava fazendo em casa tinham influência de eletrônico e mandei para ele ver. Quando percebi, estávamos fazendo música juntos. Assim nasceu o projeto Manimal.

Music Non Stop – Vocês curtem EDM?

Junior – Cara, eu não tenho muito preconceito, curto muitos subgêneros da música eletrônica. Mas sou basicamente fã de house e de música eletrônica que tem mais influência de rock. Tudo que sinto mais a influência do rock e funk eu tendo a gostar mais.

Julio – Gosto de groove, de música que mexe, que tenha swing. Mas nada contra a EDM, só acho uma fórmula repetitiva.

Music Non Stop – O Manimal tem uma vibe bem roqueira. Essa é uma forma de trazer a experiência do Junior com instrumentos/banda pro universo eletrônico?

JuniorLed Zepellin, Michael Jackson e soul music em geral, tudo de disco, funk, são referências fortes pra mim. O Júlio também gosta bastante e minha experiência com 9 Mil Anjos, os instrumentos e tal ajuda muito. É uma maneira de estar na música eletrônica com os gêneros que sempre gostei bastante. Quando se bebe dessas fontes, alguns ícones desses gêneros são inevitáveis. Com certeza Justice e Daft Punk bebem de fontes em comum. Mas acredito que a gente já tenha encontrado nossa identidade musical. Com o tempo e conhecendo melhor nossas musicas, pode-se notar isso.

Julio – Acho que é muito da nossa verdade e de coisas que sempre gostamos de ouvir. O rock sempre esteve presente na minha vida, mas o balançar do funk fala mais alto. Estamos aprendendo a misturar isso aos poucos. O projeto tem muito a evoluir e estou muito empolgado com as tracks que estão engavetadas, esperando para sair. Nossas escolas musicais, juntas, têm muito a que se experimentar.

 

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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