Até o fim de sua vida, mãe do ator visitou em segredo David Burchell
Em 1991, a rotina de Michael Caine, em Los Angeles, foi abalada. Enquanto trabalhava nas filmagens de Em Terreno Selvagem, ao lado de Steven Seagal — uma produção que passava longe dos grandes clássicos que pontuaram sua carreira, como Batman: O Cavaleiro Das Trevas, ou o cultuado Hannah e Suas Irmãs, de Woody Allen —, o ator recebeu uma ligação de um jornalista do tabloide inglês People.
Enquanto faziam uma matéria para denunciar as precárias condições de um asilo para doentes mentais na Inglaterra, um dos enfermeiros mostrou um interno e disse: “este aqui é irmão de Michael Caine”. O jornalista queria confirmar a informação, e isso intrigou o astro.
Puxou algumas lembranças da mãe, Ellen Frances Marie Micklewhite, e, principalmente, uma memória que sempre o intrigou: todas as semanas, Ellen saia sozinha, para “ir à igreja” ou “visitar uma prima”, e jamais permitiu que alguém a acompanhasse. As saídas em segredo da mãe ocorreram até a sua morte, com 89 anos de idade, em 1989.
Conforme contou em sua autobiografia The Elephant To Hollywood, Michael sentiu que a ligação do jornalista merecia sua atenção. De volta a Londres, o ator foi ao asilo para ver a pessoa que diziam ser seu irmão. E o que encontrou atingiu em cheio seu coração. David Burchell tinha, em seu quarto, várias fotos do artista, de quem era fã. O mais intrigante era que Burchell sabia do parentesco, e foi ele quem revelou toda a história.
Seis anos antes do nascimento de Caine, Ellen Frances ficou grávida. À época, ela não havia ainda conhecido seu futuro marido e pai dos irmãos Stanley e Maurice Micklewhite (nome real de Michael Caine). A mulher escondeu, tanto do pai, quanto dos filhos, a existência de David.
O garoto, aos dois anos de idade, foi atropelado e ficou com os movimentos das pernas limitado. Além disso, sofria com graves episódios de epilepsia, o que o levou a viver, por toda sua vida, em um asilo psiquiátrico.
Desde que o filho foi internado, Ellen o visitou semanalmente, até morrer. David sabia de tudo. Da nova família, do motivo pelo qual estava internado e, também, de por que sua identidade não era revelada aos irmãos. A mãe tinha medo da rejeição que o rapaz sofreria de sua nova família.
A preocupação mostrou-se, pelo menos em parte, infundada. Michael ouviu estupefato a história de David, e isso só fez aumentar a admiração que tinha por ela.
Logo após o encontro, Caine começou a financiar melhores condições de vida para David, além de passar a visitá-lo regularmente, como fazia sua mãe. A amizade, no entanto, durou apenas 18 meses, quando o “novo” irmão faleceu, em 1992.
“Fiquei maravilhado em como ela conseguiu manter isso em segredo, todas as segundas-feiras, por 50 anos. Não havia nada que ela não fizesse pelos filhos. E, talvez, fazia isso porque havia um filho pelo qual ela não pôde fazer tudo o que era preciso” — concluiu o artista em sua biografia.