Música e esporte Telão no meio do show do The Killers mostra a vitória da Inglaterra na semifinal da Eurocopa. Foto: Reprodução

Você reparou? Música e esporte estão cada vez mais conectados

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Enquanto a música invade as competições, o esporte começa a ocupar espaço nos shows

No mundo dos grandes espetáculos de entretenimento, a música e o esporte estão cada vez mais unidos, dando a pinta de uma tendência que, apesar de não ser nova, tem surpreendido com novos formatos de parceria. Até pouco tempo atrás, o movimento era da música invadir os eventos esportivos através de shows de intervalo e DJs. No entanto, 2024 nos mostrou um “contra-ataque” do povo do esporte, invadindo grandes apresentações de artistas.

No último 03 de agosto, picada pelo mosquito olímpico, a britânica Adele interrompeu seu show de surpresa para transmitir ao vivo, pelos telões da arena em que tocava, na cidade de Munique (Alemanha), as finais dos cem metros rasos. 75 mil pessoas assistiram à prova e aplaudiram os competidores, antes da cantora retomar seu show.

Algumas semanas antes, em julho, The Killers também parou a apresentação para transmitir os últimos minutos da partida semifinal entre Inglaterra e Holanda na Eurocopa. A vitória ficou com os ingleses. Time da casa, já que a banda estava tocando em Londres. Ao som do apito final, fogos de artifício e os primeiros acordes do hit Mr. Brightside proporcionaram um momento único.

O casamento entre os esportes e a música ganhou corpo graças à iniciativa muito bem-sucedida de incluir apresentações de grandes artistas no intervalo da grande final de futebol americano nos Estados Unidos, o Super Bowl, o evento com maior audiência televisiva do país. A fórmula de sucesso foi copiada pela liga de basquete, abrindo um espaço midiático enorme para artistas, que retribuem trazendo sua base de fãs para os jogos.

Mas não foram só os produtores estadunidenses que cresceram os olhos neste filão. Desde 2006, a FIFA, organizadora da Copa do Mundo de Futebol, criou suas fanfests — telões em lugares abertos onde o público que não conseguiu ingressos para os jogos pode assistir no meio da galera. Claro, com muita música. Apesar de não incluírem shows no intervalo, como no formato dos Estados Unidos, os palcos espalhados pelas cidades do mundo abrem oportunidades para muito artista.

A ideia é agigantar ainda mais o espetáculo. DJs agora são presença obrigatória em diversos esportes, animado a plateia antes, depois, e até mesmo durante as partidas, no momento em que as equipes fazem as paradas técnicas. A moda foi absorvida nas Olimpíadas e já não se pode mais imaginar um jogo sem a presença desses artistas, cuja criatividade gera histórias curiosas.

Quando as meninas do Brasil disputavam com o Canadá a medalha olímpica no vôlei de praia, um bate-boca entre as quatro jogadoras se formou no meio da partida, com direito a dedo na cara e gritaria. Esperto, o DJ começou a tocar o hino pacifista Imagine, de John Lennon, enquanto o público cantava junto fazendo sinais de coraçãozinho com a mão. A sacada do discotecário tornou a discussão constrangedora para as atletas.

Nos campeonatos brasileiros, as ligas estão começando agora a acordar para o tremendo potencial desta união entre música e esporte. A plataforma de streaming Amazon Prime acaba de fechar um acordo com a Copa do Brasil para transmitir shows durante o intervalo das partidas. O projeto estreou no último dia 07, com a transmissão do show da dupla sertaneja Diego & Victor Hugo no intervalo da partida entre Palmeiras e Flamengo. As apresentações, no entanto, são pré-gravadas e transmitidas pelo telão, para o público presente.

No maior exemplo de parceria onde todo mundo ganha — público, promotores esportivos e artistas —, a união da música com o esporte em um mesmo espetáculo só da pinta de crescer. Principalmente no Brasil, onde há muito espaço a ser ocupado ainda. E pensando bem, se os grandes músicos, há tempos, já escolheram os estádios de futebol como suas arenas prediletas, também veremos mais e mais competições esportivas chegando de surpresa no meio dos shows.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.