DJ Julião, referência da noite paulistana, se une ao inglês Luke Stowe e começa novo projeto na cidade com espaço para novos talentos da discotecagem
Se você se considera “da noite de São Paulo” e não conhece o DJ Julião, precisamos resolver essa questão já. Estamos falando de um dos guerreiros da cena underground e não é de hoje. Antes de falar de sua mais nova empreitada – ele não se acomoda, sempre inventa coisas novas – vamos direto para a lousa fazer uma introdução ao “Julião Avançado – Book 1”.
Quando Oswaldo de Oliveira Jr. resolveu reformar o clube que tinha na Penha, o Showbusiness, para abrir outro no lugar, começou a desenhar a história da nova casa pela escolha dos DJs. Decidiu manter o DJ que já trabalhava na Showbusiness e convidar um estreante para formar dupla com ele. O veterano era Marky – na época DJ Marco Antônio – e o novato, Julião.
Depois da reforma, a casa reabriu com o nome de Sound Factory, no final de 1991. Na época, Julião vendia camisetas com estampas de grupos de EBM para lojas de discos do Centro – entre elas a Discomania, que também pertencia a Oswaldo. “Fui tocar um dia na Contra-Mão, como convidado do Ricardo Guedes. O Oswaldo me viu, gostou e me chamou para ser residente”, conta Julião, DJ de techno e breaks conhecido por suas festas intermináveis.
O curioso é que, quando a Sound Factory começou a funcionar, Julião tocava discos de jungle, enquanto Marky apostava em techno e house tribal. “Pouco depois invertemos os papéis. Acho que era mais lógico mesmo. O Marky virou o rei do jungle, e eu caí totalmente para techno e house”, avalia Julião, seguramente o DJ brasileiro que tem mais carinhas smiley tatuadas pelo corpo – são mais de trinta. Entre os discos prediletos de Julião na época, estavam singles de house do selo nova-iorquino Strictly Rhythm. “Quem me apresentou foi o professor Marquinhos MS”, reverencia.
A Sound Factory foi o primeiro clube underground da Zona Leste. Da música à estética, tudo trazia referências da cultura de clubes, que existia havia alguns anos em inferninhos dos Jardins e do Centro de São Paulo. “A gente inseriu o underground na ZL”, acredita Julião. Ele lembra que uma vez Marky e ele tocaram montados. Foi na festa Juju Telefunken por Elas.
“Era uma brincadeira com o programa Hebe por Elas. Teve até sofá para fazer entrevistas com a galera. A gente era pirado”, diverte-se. Os apelidos Juju Telefunken e Marquinhos Marky Mark foram, segundo Julião, ideia do promoter da Sound Factory, um sujeito de bem com a vida chamado Luana Malucat, que chegou a ser homenageado com uma música por outro DJ e produtor brabíssimo, o XRS.
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Dos flyers às drags, a cultura underground de clubes como o Senhora Krawitz tinha endereço certo na Penha. “Era muito legal ver as drags da perifa se sentindo à vontade para dançar na pista com a molecada”, lembra Julião. Entre os hits da Sound Factory, estavam grupos como Altern 8 e Prodigy.
“Era a época dos pré-cybermanos. Eles adoravam Prodigy, mas ainda não se vestiam igual ao Keith Flint”, diz o DJ, referindo-se ao vocalista do grupo, de quem os manos copiaram o visual exagerado que começaram a usar em 1996, 97.
O clube ganhou um programa na rádio Metropolitana, que era apresentado por Julião. Depois da saída de Marky para a Toco, no final de 1992, outro DJ marcou a história da Sound Factory: o Yes America.
A notícia da Sound Factory chegou até os Jardins. “Começou a aparecer um povo fashion. Bebete Indarte e [o estilista] Heitor Werneck não perdiam um sábado. Muita gente legal ia para a Sound Factory antes de ir para o Hell’s”, lembra. O próprio Julião passou a ser frequentador assíduo e residente mensal do afterhours mais famoso do Brasil até hoje.
Em 1995, foi tocar na então recém-inaugurada Sound Factory de Pinheiros, onde ficou até 1997. Depois foi para A Lôca, espécie de instituição underground da cidade, fechada com blocos de tijolo pela prefeitura em julho de 2017. Outro clube que marcou sua carreira foi o simpático inferninho Susi in Transe. Inaugurado em 2002 na rua Aurora, o clube mudou de endereço dois anos mais tarde e resistiu até 2006. No Susi, Julião inovou com o Insomnia, um afterhours que acontecia nas tardes de sábado – de- pois que todos os outros clubes já haviam fechado… mesmo. “Meu negócio é o underground.”
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Gostaram de conhecer um pouquinho da trajetória do Julião? O texto acima está contido no meu livro Todo DJ Já Sambou [que você pode comprar aqui mesmo] e qualquer reverência a esse mestre é pouca. Então que tal prestigiar essa nova empreitada do DJ ao lado do amigo (e também seletor) inglês Luke Stowe? A nova festa M.I.A. acontece neste sábado (23) e o nome vem do termo missing in action, usada quando um soldado é perdido em batalha, mas que também pode ser uma expressão para se referir à perda dos sentidos em qualquer situação em algum lugar ou ação!
A festa vai rolar embaixo de um viaduto no centro de São Paulo e além do Julião tem nomes superconhecidos da cena, como Mau Mau e Renato Cohen, e nomes que têm esquentado as festas mais novas, como Angelica Moller, Nikkatze (Blum), Rogermultiuse (VGLNT) e Transvegana.
“A ideia desta festa é abrir espaços para novos artistas e também trazer nomes já conhecidos da cena. O público vai se supreender com a locação, totalmente inusitada”, adianta Julião, feliz da vida em poder voltar a tocar e promover suas noites. “Estou me sentindo aliviado por continuar vivo e propondo diversão através da música para o nosso público, já que o nosso setor foi o mais prejudicado durante este período!”, resume. Um top 3 do que com certeza irá rolar na festa? Tá aqui.
214 – Windwye
The Exaltics – Skyway Chase
Umwelt – Days Of Dissent
M.I.A
Sábado, 23/4, a partir das 17h
Ingressos: no shotgun e sympla
Preços: de R$ 30 a R$ 60 (de acordo com o lote)
Line-up:
ALEX PEARCE (London Uk)
LUKE STOWE (London – Uk)
DEEJAY JULIÃO
DJ MAU MAU
RENATO COHEN
DJ MAGAL
KEITH MARSHALL (Ireland)
ANGELICA MOLLER
NIKKATZE ( Blum Sp)
ROGERMULTIUSE (VGLNT)
TRANSVEGANA
YONOID
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+ PERFORMERS
RADIO _TV BILU
RATO DIS´TOPICO
A. HONDA
+ Hostess: Indoor
Revoltx Cardoso
+ Fotografia:
Gê Veloso
+ Drone e imagens
Skywalker Drone