DJ Juliao DJ Julião – foto: reprodução Facebook

M.I.A, nova festa do DJ icônico Julião em parceria com Luke Stowe, promete mesclar novos talentos com pilares da cena em locações inusitadas em São Paulo.

Claudia Assef
Por Claudia Assef

DJ Julião, referência da noite paulistana, se une ao inglês Luke Stowe e começa novo projeto na cidade com espaço para novos talentos da discotecagem

Se você se considera “da noite de São Paulo” e não conhece o DJ Julião, precisamos resolver essa questão já. Estamos falando de um dos guerreiros da cena underground e não é de hoje. Antes de falar de sua mais nova empreitada – ele não se acomoda, sempre inventa coisas novas – vamos direto para a lousa fazer uma introdução ao “Julião Avançado – Book 1”.

Quando Oswaldo de Oliveira Jr. resolveu reformar o clube que tinha na Penha, o Showbusiness, para abrir outro no lugar, começou a desenhar a história da nova casa pela escolha dos DJs. Decidiu manter o DJ que já trabalhava na Showbusiness e convidar um estreante para formar dupla com ele. O veterano era Marky – na época DJ Marco Antônio – e o novato, Julião.

Depois da reforma, a casa reabriu com o nome de Sound Factory, no final de 1991. Na época, Julião vendia camisetas com estampas de grupos de EBM para lojas de discos do Centro – entre elas a Discomania, que também pertencia a Oswaldo. “Fui tocar um dia na Contra-Mão, como convidado do Ricardo Guedes. O Oswaldo me viu, gostou e me chamou para ser residente”, conta Julião, DJ de techno e breaks conhecido por suas festas intermináveis.

Time de peso, hein! Apenas Laurent Garnier ao lado de Julião, na Sound Factory, nos anos 90

O curioso é que, quando a Sound Factory começou a funcionar, Julião tocava discos de jungle, enquanto Marky apostava em techno e house tribal. “Pouco depois invertemos os papéis. Acho que era mais lógico mesmo. O Marky virou o rei do jungle, e eu caí totalmente para techno e house”, avalia Julião, seguramente o DJ brasileiro que tem mais carinhas smiley tatuadas pelo corpo – são mais de trinta. Entre os discos prediletos de Julião na época, estavam singles de house do selo nova-iorquino Strictly Rhythm. “Quem me apresentou foi o professor Marquinhos MS”, reverencia.

A Sound Factory foi o primeiro clube underground da Zona Leste. Da música à estética, tudo trazia referências da cultura de clubes, que existia havia alguns anos em inferninhos dos Jardins e do Centro de São Paulo. “A gente inseriu o underground na ZL”, acredita Julião. Ele lembra que uma vez Marky e ele tocaram montados. Foi na festa Juju Telefunken por Elas.

“Era uma brincadeira com o programa Hebe por Elas. Teve até sofá para fazer entrevistas com a galera. A gente era pirado”, diverte-se. Os apelidos Juju Telefunken e Marquinhos Marky Mark foram, segundo Julião, ideia do promoter da Sound Factory, um sujeito de bem com a vida chamado Luana Malucat, que chegou a ser homenageado com uma música por outro DJ e produtor brabíssimo, o XRS.

xrs

Dos flyers às drags, a cultura underground de clubes como o Senhora Krawitz tinha endereço certo na Penha. “Era muito legal ver as drags da perifa se sentindo à vontade para dançar na pista com a molecada”, lembra Julião. Entre os hits da Sound Factory, estavam grupos como Altern 8 e Prodigy.
“Era a época dos pré-cybermanos. Eles adoravam Prodigy, mas ainda não se vestiam igual ao Keith Flint”, diz o DJ, referindo-se ao vocalista do grupo, de quem os manos copiaram o visual exagerado que começaram a usar em 1996, 97.

O clube ganhou um programa na rádio Metropolitana, que era apresentado por Julião. Depois da saída de Marky para a Toco, no final de 1992, outro DJ marcou a história da Sound Factory: o Yes America.
A notícia da Sound Factory chegou até os Jardins. “Começou a aparecer um povo fashion. Bebete Indarte e [o estilista] Heitor Werneck não perdiam um sábado. Muita gente legal ia para a Sound Factory antes de ir para o Hell’s”, lembra. O próprio Julião passou a ser frequentador assíduo e residente mensal do afterhours mais famoso do Brasil até hoje.

Julião com Anibal, o argentino genial que foi proprietário da Lôca

Em 1995, foi tocar na então recém-inaugurada Sound Factory de Pinheiros, onde ficou até 1997. Depois foi para A Lôca, espécie de instituição underground da cidade, fechada com blocos de tijolo pela prefeitura em julho de 2017. Outro clube que marcou sua carreira foi o simpático inferninho Susi in Transe. Inaugurado em 2002 na rua Aurora, o clube mudou de endereço dois anos mais tarde e resistiu até 2006. No Susi, Julião inovou com o Insomnia, um afterhours que acontecia nas tardes de sábado – de- pois que todos os outros clubes já haviam fechado… mesmo. “Meu negócio é o underground.”

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Gostaram de conhecer um pouquinho da trajetória do Julião? O texto acima está contido no meu livro Todo DJ Já Sambou [que você pode comprar aqui mesmo] e qualquer reverência a esse mestre é pouca. Então que tal prestigiar essa nova empreitada do DJ ao lado do amigo (e também seletor) inglês Luke Stowe? A nova festa M.I.A. acontece neste sábado (23) e o nome vem do termo missing in action, usada quando um soldado é perdido em batalha, mas que também pode ser uma expressão para se referir à perda dos sentidos em qualquer situação em algum lugar ou ação!

A festa vai rolar embaixo de um viaduto no centro de São Paulo e além do Julião tem nomes superconhecidos da cena, como Mau Mau e Renato Cohen, e nomes que têm esquentado as festas mais novas, como Angelica Moller, Nikkatze (Blum), Rogermultiuse (VGLNT) e Transvegana.

“A ideia desta festa é abrir espaços para novos artistas e também trazer nomes já conhecidos da cena. O público vai se supreender com a locação, totalmente inusitada”, adianta Julião, feliz da vida em poder voltar a tocar e promover suas noites. “Estou me sentindo aliviado por continuar vivo e propondo diversão através da música para o nosso público, já que o nosso setor foi o mais prejudicado durante este período!”, resume. Um top 3 do que com certeza irá rolar na festa? Tá aqui.

214 – Windwye

The Exaltics – Skyway Chase

Umwelt – Days Of Dissent

 

 

M.I.A
Sábado, 23/4, a partir das 17h
Ingressos: no shotgun e sympla
Preços: de R$ 30 a R$ 60 (de acordo com o lote)
Line-up:

ALEX PEARCE (London Uk)
LUKE STOWE (London – Uk)
DEEJAY JULIÃO
DJ MAU MAU
RENATO COHEN
DJ MAGAL
KEITH MARSHALL (Ireland)
ANGELICA MOLLER
NIKKATZE ( Blum Sp)
ROGERMULTIUSE (VGLNT)
TRANSVEGANA
YONOID
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+ PERFORMERS
RADIO _TV BILU
RATO DIS´TOPICO
A. HONDA

+ Hostess: Indoor
Revoltx Cardoso

+ Fotografia:
Gê Veloso

+ Drone e imagens
Skywalker Drone

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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