Tomorrowland Brasil Festuvais brasileiros Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

4 lições que os festivais brasileiros aprenderam (da pior forma) em 2023

Jota Wagner
Por Jota Wagner

O ano foi de aprendizado para organizadores de eventos em todo o país

No ano de 2023, o Brasil bateu todos recordes possíveis em festivais — seja na quantidade de rolês em todo o país, no valor dos ingressos e na quantidade de gente que os frequentaram. Nesta semana, o Music Non Stop listou os 10 melhores festivais do ano, em uma deliciosa retrospectiva.

Não teve, no entanto, só flores neste jardim festeiro. Teve tempestade e tragédia, fazendo com que os organizadores aprendessem da pior maneira lições que ficaram para sempre.

É uma nova era, na qual o mundo e as pessoas estão diferentes. Várias condições relevantes neste ecossistema mudaram para pior. A partir de 2024, não considerá-las configurará irresponsabilidade. Nós já observamos, porém, a partir do segundo semestre, que a situação já foi assimilada pelas grandes produtoras, e a expectativa é de que teremos eventos melhores e mais seguros.

Abaixo, listamos quatro grande lições que (assim esperamos) os festivais brasileiros devem ter aprendido em 2023.

1. Água é um direito, não um produto

No começo de dezembro, a edição brasileira do Primavera Sound, no autódromo de Interlagos (SP), teve estações de hidratação espalhadas pelo espaço, oferecendo água gratuita (e gelada) para quem quisesse encher sua garrafinha.

A ação foi um reflixo da caótica tragédia acontecida dias antes no Rio de Janeiro, durante a turnê de Taylor Swift. Além da organização proibir a entrada com água, ainda cobrava 12 reais por um copo dentro do local, com sensação térmica que chegou a bater 50 graus. O resultado: dezenas de desmaios e a morte de uma jovem.

O caso ainda segue sob investigação, mas acendeu um alerta em todos. Um evento que chega a cobrar quase mil reais por um ingresso não pode se negar a oferecer água de graça.

Aliás, ninguém pode. Na Europa e Estados Unidos, a água potável gratuíta é obrigatória. Trata-se de uma questão de saúde e segurança.

2. Os eventos climáticos, agora, são extremos

Até o ano passado, as produtoras marcavam a data, e torciam para não chover. Caso o toró viesse, bastava dizer que “fazia parte da experiência”. Lembra de Woodstock?

O problema é que as tempestades de hoje já não são as mesmas. Aquele tal de “aquecimento global”, que os cientistas falaram que um dia chegaria, chegou, até mesmo para os negacionistas. Com o calor extremo, as chuvas também ficaram mais violentas, acompanhadas de ventania e tempestades. Foi assim na primeira edição do The Town, no primeiro semestre, e também no Tomorrowland, em Itu, obrigado a cancelar um dos seus dias para poder recuperar a estrutura.

O público bateu forte nas redes sociais. Quem já esteve na edição belga do Tomorrowland estranhou a diferença entre as precauções à chuva utilizadas lá e aqui.

A partir de agora, quem organiza um grande evento tem de preparar o local para eventuais chuvas fortes, inclusive em questões de segurança do público, em casos de raios ou quedas de árvores e estruturas metálicas.

3. Segurança não é só para apartar brigas

Em 2023, solidificou-se uma tendência que já vinha sendo apontada nos anos anteriores: criminoso também vai em festival. Assaltos têm ocorrido, e agora os organizadores precisam orientar suas equipes de segurança para um trabalho preventivo. E não é só isso.

Abusos, assédio e o nefasto uso do “boa noite Cinderela”, drogas que tornam as vítimas passivas para crimes que vão da violência sexual ao roubo de bens e senhas bancárias. Em entrevista publicada pelo Music Non Stop sobre o perigo dos golpes do tipo, a especialista em segurança bancária Juliana Silveira D’Addio trouxe detalhes dos crimes mais comuns.

4. Flexibilidade (o famoso “plano b”)

No Rio de Janeiro, o MECA anunciou, com apenas três dias de antecedência, a redução do line-up pela metade e a alteração do local. O movito: a previsão de calor extremo na cidade, durante o final de semana. O que seria o primeiro (Super) MECA virou o MECA (Urca).

Ninguém reclamou. Pelo contrário, quem comprou ingresso recebeu uma mensagem de preocupação e cuidado da produtora, ainda mais após o trauma da tragédia do show de Taylor.

Isso mostra que tanto os frequentadores quanto os organizadores podem e devem estar flexíveis a mudanças, quando isso significar a redução do risco para o público, os trabalhadores do festival e os artistas.

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Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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