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KVSH: “A música eletrônica sofre dificuldade de renovação de público”

Vitória Zane
Por Vitória Zane

DJ e produtor mineiro fala com Vitória Zane sobre novo hit, mercado, momento de carreira e sua brazilian house

Alcançando a primeira posição do chart de bass house no Beatport, a maior plataforma de venda de música eletrônica, na última sexta-feira (24), KVSH tem Party All The Time como sua grande aposta em 2024. Em quinto lugar no momento desta publicação, a faixa, feita com um sample de berimbau e em parceria com Disorder e Ceres, promete desenvolver uma sonoridade identificada pelo artista como brazilian house, marcando o seu movimento de retorno à cena eletrônica depois de passear por diversos estilos dentro dela, como funk e trap.

Com raiz fincada no open format, o artista já figurou na lista da Forbes Under 30 e venceu a categoria DJ lanso a braba no MTV Miaw. Entre hits de seu catálogo, como Sicko Drop, e remixes para grandes artistas de outros gêneros, como Natiruts, Teto, Gilsons e Jota Quest, o DJ e produtor mineiro já figurou entre grandes festivais da cena eletrônica, como Tomorrowland, Lollapalooza e Rock in Rio, além de eventos de outros públicos como em circuitos de rodeios e festivais de sertanejo.

Falamos com ele para entender como surgiu o novo hit e o momento da sua carreira.

Vitória Zane: Em sete dias, “Party All The Time” chegou ao topo do Beatport no chart de bass house. Como rolou a ideia de colaboração com Disorder e Ceres?

KVSH: A colaboração aconteceu de forma muito natural. Os meninos do Disorder são meus amigos há anos, e já temos algumas faixas juntos. Estamos sempre compartilhando novas ideias, e quando me enviaram a primeira versão de Party All The Time, ainda faltava o elemento principal do drop. Foi então que tive a ideia de tentar algo diferente. Quando terminamos o primeiro rascunho, fizemos um brainstorm para escolher qual cantora brasileira se encaixaria melhor em um som mais “EDM” internacional. A Ceres, além de ser uma grande amiga, vem se destacando na cena internacional com essa sonoridade. Ela se apaixonou pela base da música. Criamos um grupo no WhatsApp para desenvolver a letra juntos.

Você utilizou o timbre de um berimbau na produção. Há mais algum elemento que remeta às sonoridades do Brasil? Nesse sentido, você não chegou a considerar a ideia de um vocal em português para deixá-la ainda mais abrasileirada?

Algumas das percussões usadas foram retiradas diretamente do meu sample pack autoral, chamado BRAZILIAN HOUSE. Busco sempre incorporar essa identidade sonora em minhas produções, mesmo que de forma sutil. Aqueles com ouvidos mais atentos poderão identificar esses elementos na mixagem final.

Quanto ao vocal em português, não consideramos, pois a ideia era criar uma música que funcionasse bem nos charts internacionais, mas que ainda carregasse discretamente alguns elementos brasileiros.

Não podemos negar que outros artistas nacionais também têm conseguido esse feito no Beatport. Um exemplo é o Maz, que frequentemente figura nos rankings da plataforma. Como você enxerga o momento atual da cena eletrônica no país?

Eu diria que estamos em um momento misto. Por um lado, artistas brasileiros estão se destacando nos charts internacionais e vendo seu trabalho cada vez mais reconhecido por grandes produtores mundiais. Por outro, o show business brasileiro enfrenta um período conturbado, com grandes eventos sendo cancelados ou adiados e uma incerteza geral sobre o setor.

A música eletrônica, em particular, sofre com uma dificuldade de renovação de público, um tema que tem sido muito discutido recentemente entre os principais players do mercado.

KVSH

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Você se aventurou por outros gêneros, como o funk, e trabalhou com artistas do trap e rap, numa fase mais open format. Como foi esse período para você, e de que forma o público recebeu essa sua mudança de postura?

O open format está intrínseco ao KVSH. Quando fui contratado para tocar nas minhas primeiras festas, antes mesmo de o projeto existir, eu tocava de tudo: trap, funk, eletrônica, o que fosse necessário. E fazia isso porque amava todos os estilos. O próprio KVSH começou como um DJ de trap e, posteriormente, fui me adaptando até ser reconhecido como um DJ de eletrônica. Mas o que o público muitas vezes não entende é que tudo é eletrônica. Para produzir trap, pop, funk ou house, você utiliza exatamente as mesmas ferramentas no seu computador.

Quanto à recepção, acho que foi superpositiva, até porque essa mistura de estilos já é algo comum na cena eletrônica. Claro, existem pessoas mais céticas em relação a esse tipo de mudança, mas, ao meu ver, isso é um caminho sem volta e será adotado por cada vez mais artistas, independentemente do gênero. A tendência é vermos, com mais frequência, colaborações entre funk, sertanejo, pop, eletrônica, trap, e assim por diante.

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Você acabou entrando em circuitos de shows com artistas de vários gêneros, participando de rodeios e festivais sertanejos, por exemplo. De certa forma, essa foi uma tentativa de seguir os passos do Alok, que furou a bolha do gênero e entrou para o escalão mais comercial e mainstream do mercado? Qual era o intuito por trás dessa abertura de sonoridades?

Meu objetivo é sempre levar minha música ao maior número possível de pessoas. O mercado popular, que inclui rodeios e festivais sertanejos, é atualmente o foco de muitos artistas, independentemente do gênero. Nesse ambiente, consigo tocar para 10, 15, até 20 mil pessoas semanalmente, em palcos com produção cenográfica de primeira linha. O melhor de tudo é que esse público está totalmente aberto a conhecer meu trabalho. Alguns dos meus melhores shows até hoje foram para esse público, e acredito que essa estratégia atrairá outros artistas da cena em breve.

Entendemos Party All The Time como um retorno para a música eletrônica, efetivamente, na cena onde você despontou, junto com a tentativa de criação do movimento brazilian house, como você comentou. Pode nos explicar melhor qual a ideia por trás desse conceito? O que podemos esperar do KVSH agora?

Eu realmente não diria que é um retorno, porque nunca deixei a música eletrônica de lado. Minha essência está ali. Este ano, lançamos pelo menos cinco singles e bootlegs voltados para as pistas, como forma de aquecimento para Party All The Time. O movimento brazilian house será um tema que vai caminhar lado a lado com tudo o que o KVSH pretende transmitir daqui em diante.

Isso começou a se formar na minha mente desde a minha apresentação na Tomorrowland Bélgica em 2022, quando me perguntaram por que os artistas brasileiros não exportam sua própria cultura em suas músicas. Foi aí que comecei a desenvolver o conceito de incorporar elementos típicos brasileiros, especialmente do nordeste e do norte de Minas Gerais, à batida eletrônica — seja ela house, afro-house ou bass house. O importante é mostrar que temos uma força cultural no Brasil que merece ser exportada, e meu projeto em 2024 será 100% pautado nisso.

Espero também, em breve, poder falar sobre a comemoração dos dez anos do KVSH. O que posso adiantar é que será algo grandioso, unindo toda a minha trajetória passada com meu futuro.

Vitória Zane

Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música.

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