Natiruts Luís Maurício e Alexandre Carlo são os remanescentes da formação original do Natiruts. Foto: Reprodução/Facebook

Do reggae raiz ao milionário mundo pop: a trajetória do Natiruts, que está saindo de cena

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Grupo brasiliense surgiu na explosão do cenário de reggae brasileiro e virou queridinho dos maiores festivais do país

O Natiruts, grupo de reggae mais popular do país, anunciou sua turnê de despedida, Leve com Você, após 30 anos na estrada. A banda começa sua viagem de adeus em sua cidade natal, Brasília, com showzão no estádio Mané Garrinha, e conclui em Belém do Pará dia 07 de dezembro, no Náutico Marine Club. A agenda completa da tour está no final desta matéria.

Começar o corre de despedida em um estádio de futebol guarda relação com a história da banda. Foi na turma do bate-bola da faculdade que  Alexandre Carlo conheceu Juninho, também aluno da Universidade de Brasília. Conversaram sobre música e, trocando composições, surgiu a ideia de montar uma banda de reggae no meio do cerrado.

O grupo, que nasceu com o nome Nativus, mas teve de trocar de marca devido à coincidência com outro mais antigo, percorreu o circuito independente local até ver suas músics voando para todo o Brasil (e outros países). Em seus 30 anos de vida, alcançou popularidade tamanha que seus cachês de shows estão entre os maiores do território nacional.

Em meio a músicas com posicionamento político e a vibe boa vida brizada do mundo reggae, o Natiruts coleciona grandes sucessos, como Quero Ser Feliz Também, Andei Só e Você Me Encantou. Da formação original, restaram Alexandre Carlo e Luís Maurício.

Mas como uma banda de amigos do futebol chegou a ser um grande nome do cenário musical brasileiro? A gente explica!

Na hora certa: a onda do reggae

O Natiruts surgiu em uma época de ouro para o reggae feito no Brasil. Em meados dos anos 90, o estilo conquistou uma nação de jovens atrás de paz e liberdade. A onda da década levava milhares de jovens semanalmente a shows e festas de norte a sul do país, vendo nascer grupos que se tornariam bastiões do gênero, como Mato Seco e Raízes Rasta. Outros, como Cidade Negra, O Rappa e Skank, surgiram no mesmo balaio, mas decidiram pular para estilos como MPB, rock e soul.

Ao fazer o som que muita gente queria ouvir, a banda entrou no circuito de fitas demo que circulavam via correio. Seu primeiro disco, Nativus, saiu em 1997, e já tinha dois dos seus grandes hits: Liberdade (Pra Dentro Da Cabeça) e Presente De Um Beija-Flor.

O abraço de grandes produtores

O começo da carreira do grupo foi anabolizado por produtores conhecidos do cenário musical brasileiro. Através de amigos, chegaram a Tom Capone, que ouviu e gostou do material. Viajaram para o Rio de Janeiro, onde descolaram, além de um precinho camarada para a  gravação do primeiro disco, uma palhinha do próprio Capone na guitarra. O produtor ainda viria participar de diversos outros álbuns.

O segundo disco do agora Natiruts teve a produção de outro gênio, não menos tarimbado: Liminha. O produtor estava mergulhado de cabeça na nova música independente que surgia no Brasil, impulsionada pela chegada da MTV ao país. A emissora trouxe uma nova plataforma de divulgação para as bandas, com a audiência de videoclipes e alguns programas com a curadoria dos próprios VJs.

Liminha, experiente na música pop, botou sua mão em Povo Brasileiro, lançado em 1999.

Rapidez nos lançamentos (também na hora certa)

O Natiruts teve a inteligência de aproveitar a visibilidade do sucesso inicial para enfileirar um disco atrás do outro, todos eles com sucessos que ficariam para a história.

Depois de Povo Brasileiro, o grupo lançou, em 2001, um de seus grandes sucessos, Verbalize. No ano seguinte, foi a vez de Qu4tro.

A partir dali, a gana de lançar novos discos diminuiu, mas a agenda da banda já estava trincando de shows.

Pop, mas ainda reggae

Outro grande segredo do sucesso dos rapazes foi conseguir dar uma roupagem pop à sua música sem se desprender de sua raiz reggaeira. A fidelidade ao estilo fez com que o grupo ganhasse, a cada álbum, novas gerações de fãs sem perder habitantes antigos da sua nação, que só fez aumentar.

Por mais que tenham flertado com a MPB em lançamentos mais recentes, são raras as canções em que o reggae roots não esteja lá, com todos os seus elementos.

A atitude traz, aos fãs, uma noção de integridade. Assim, mesmo crescendo, a banda não teve que passar pela provação de fãs nostálgicos reclamando de que eles teriam “se vendido” à música mainstream.

O poder do “ao vivo”

Com o sucesso dos primeiros discos, veio a agenda lotada de shows. E o Natiruts levou à sério o compromisso, entregando shows sem defeitos aos que os viam pela primeira vez. A partir daí, um círculo virtuoso fez-se vento que levou a pipa do grupo às alturas.

Sabedores do resultado, os amigos capricharam na gravação de bons discos que registravam suas apresentações. De 2012, o Acústico no Rio de Janeiro, também lançado em DVD, é considerado uns dos melhores registros visuais de shows da indústria musical. O lançamento foi responsável por uma avalanche de outros artistas correndo atrás e tentando gravar apresentações com visuais caprichados para o mercado de DVDs.

O bang do Rio de Janeiro não foi o primeiro “ao vivo” da banda. Em 2006, no despertar do sucesso, já haviam lançado Reggae Power (2006). No total, a banda tem 5 live albuns. O mais recente é o En Vivo En Argentina, de 2023.

O poder dos festivais

Curador de festival pode ser tudo, menos bobo. Uma banda que trazia consigo uma “nação”, era fiel à suas raízes e ainda por cima entregava um belo show ao vivo não poderia passar desapercebida. O Natiruts entrou de cabeça no circuito de festivais que desembarcavam no Brasil, passando do Lollapalooza ao MITA, além vários outros, de norte a sul do país.

Não tem lugar melhor do que festival para se apresentar a um público que pouco (ou nada) conhece da sua carreira. Eles aproveitram a oportunidade e geraram um clima de “todo mundo ganha” em suas contratações: o festival vendia mais ingressos, a banda ganhava novos fãs e o público, um show irretocável de pop reggae brasileiro.

Natiruts, é hora de dar tchau!

A turnê Leve com Você passa por várias cidades brasileiras, entre junho e dezembro de 2024. Os shows prometem ser gigantes, com diversas arenas confirmadas (como o Allianz Parque, em São Paulo).

Confira todas as datas e locais anunciados:

8 de junho: Arena BRB Mané Garrincha (Brasília)
15 de junho: Jockey Club (Rio de Janeiro)
22 de junho: Estacionamento Estádio Municipal (Juiz de Fora)
6 de julho: Iguatemi Hall (Fortaleza)
13 de julho: Arena das Dunas (Natal)
20 de julho: Domus Hall (João Pessoa)
27 de julho: Classic Hall (Recife)
3 de agosto: Espaço D’Areia (Porto Alegre)
11 de agosto: Arena Opus (Florianópolis)
24 de agosto: Arena da Independência (Belo Horizonte)
31 de agosto: Allianz Parque (São Paulo)
7 de setembro: Arena Fonte Nova (Salvador)
14 de setembro: Praça do Papa (Vitória)
21 de setembro: Centro de Convenções AM Malls Sergipe (Aracaju)
28 de setembro: Arena Praia de Verão Teresina Shopping (Teresina)
12 de outubro: Estádio do Comercial (Ribeirão Preto)
19 de outubro: Studio 5 (Manaus)
2 de novembro: Pedreira Paulo Leminski (Curitiba)
7 de dezembro: Espaço Náutico Marine Club (Belém)

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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