In-Edit 2025 Cena de “Brasiliana”. Imagem: Reprodução

In-Edit Brasil 2025: 11 documentários musicais imperdíveis

Jota Wagner
Por Jota Wagner

17ª edição do festival vai até este domingo, 22 de junho, em São Paulo

Pelo 17º ano, receber a programação do festival de documentários musicais In-Edit gera a mesma angústia. Diacho, vou assistir a quê? Uma montanha de boas produções, repassando a história de artistas e cenas de todo mundo, invoca a desconfortável “tirania da escolha”, conceito popularizado por Barry Schwartz.

In-Edit

Imagem: Reprodução

No entanto (e ainda bem), mais do que tomar a cidade de São Paulo com uma avalanche de boas produções cinematográficas, tornando a tarefa de gabaritar toda a programação de cada ano uma conquista de poucos, cada edição serve para um propósito prazerosamente nobre: montar nossa lista de desejos de filmes que vamos lutar para assistir, seja no cinema, seja no streaming. Momento de abrir o bloco de notas e anotar tudo o que queremos conhecer da história da música, durante o festival ou depois.

Pense na música como um grande álbum de figurinhas que acabou de sair da banca. Cada documentário lançado é um novo cromo, que a gente cola como um marco de mais um quadradinho de conhecimento adquirido neste imenso universo de histórias, vitórias e tragédias do viver de som. O álbum é imenso e, claro, incompletável. A música segue viva, com novos artistas, novas cenas musicais e, portanto, novas epopeias surgindo a todo tempo, adicionando páginas e páginas de histórias não contadas. Mas os que a amam tentam, no espaço de uma vida, conhecer o máximo possível.

Como de costume, o In-Edit — que está acontecendo entre os dias 11 e 22 deste junho que atravessamos — apresenta uma coleção de novas figurinhas. Mas por sorte, não acaba por aqui. É uma plataforma de lançamento, apenas. Os documentários permanecem no mundo cinematográfico, para assistirmos quando possível, dando mais um check na nossa lista.

Para facilitar sua vida, o Music Non Stop sugere 11 documentários imperdíveis da edição 2025 para você adicionar à sua lista. Pode começar a anotar!

Butthole Surfers: The Hole Truth And Nothing Butt

Tom J Stern | Estados Unidos | 2024 | 110′

Com entrevistas, imagens de arquivo, animações e reencenações surreais, este documentário mergulha no caos criativo dos Butthole Surfers. O ícone do pós-punk texano é retratado com irreverência e humor, mas também afeto. Sem suavizar as vivências do grupo, o filme apresenta “a verdade inteira e nada além” — sexo, drogas, rock, beleza, feiura e bizarrices — num retrato fiel, sujo e surpreendente de uma das bandas mais anárquicas da história do rock alternativo.

Anos 90: A Explosão Do Pagode

Emílio Domingos, Rafael Boucinha | Brasil | 2025 | 91’

Original dos quintais do subúrbio carioca, o pagode conquistou lares de todo o Brasil, abrindo espaço para uma geração de artistas que mudou os padrões estéticos e sociais da música popular no país. Grupos como Raça Negra, Art Popular, Katinguelê, Exaltasamba, Negritude Junior, entre muitos outros, tornaram-se presença constante em rádios e programas de TV, embalando milhões. Um movimento singular, que trouxe novos horizontes ao samba e deu visibilidade e empoderamento a muita gente.

En La Caliente: Tales Of A Reggaeton Warrior

Fabien Pisani | Cuba, Estados Unidos | 2024 | 85′

Nos anos 90, em plena crise do Período Especial, Candyman incendiou Cuba com sua música. Mesmo banido dos meios oficiais e reprimido nos espaços públicos, o reggaeton cubano se espalhou pelos guetos em CD-Rs e pendrives. Mas onde milhares de jovens encontraram uma libertadora expressão artística e até mesmo física, as autoridades viram vulgaridade e indecência. En La Caliente revela a força de um movimento cultural nascido à margem e a tentativa de silenciamento do seu porta-voz. Entre repressão e resistência, Candyman se tornou ícone cultural e hoje leva uma vida discreta para continuar exercendo sua liberdade.

Alma Negra, Do Quilombo Ao Baile

Flavio Frederico | Brasil | 2024 | 107’

Um mergulho profundo na cultura afro-brasileira, explorando a trajetória da soul music no Brasil, desde o final dos anos 1960 até o seu auge nos bailes black nas décadas seguintes. Através do olhar de intelectuais como Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez e Edneia Gonçalves, o documentário resgata e celebra a importância dessas festas como espaços de resistência e afirmação da identidade negra no Brasil, conectando tradições quilombolas à cultura urbana contemporânea. Tudo isso ao som de grandes nomes da música negra e da direção musical do produtor BiD.

It Was All A Dream

Dream Hampton | Estados Unidos | 2024 | 83′

Entre 1993 e 1995, a então jornalista musical Dream Hampton acompanhou de perto a ascensão do hip-hop em sua virada de cultura marginal a fenômeno global. Com uma câmera na mão e acesso irrestrito a bastidores, camarins, estúdios e turnês, ela registrou conversas espontâneas, gravações e momentos de intimidade com alguns dos nomes centrais do gênero. Um mergulho cru e fascinante nos bastidores da era dourada do rap, entre baseados, beats e criatividade à flor da pele.

As Dores Do Mundo: Hyldon

Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues | Brasil | 2025 | 90’

Nascido em Salvador (BA), Hyldon se consagrou como um dos grandes nomes da soul music brasileira. Cantor, compositor, guitarrista, baixista e produtor, contribuiu significativamente para a consolidação do gênero no país, assinando colaborações com artistas como Tim Maia, Cassiano, Erasmo Carlos, Wilson Simonal, Tony Tornado e tantos outros. O filme acompanha o músico por lugares que marcaram sua infância e juventude, lembrando suas origens e recontando sua história, até a gravação de seu primeiro álbum, o icônico Na Rua, na Chuva, na Fazenda.

Music By John Williams

Laurent Bouzereau | Estados Unidos | 2024 | 105′

Compositor de algumas das trilhas mais notórias da história do cinema, John Williams é o tema deste documentário que revisita sua trajetória e legado. A partir de entrevistas com o próprio compositor e parceiros como Steven Spielberg, George Lucas, Gustavo Dudamel e Yo-Yo Ma, o filme resgata momentos memoráveis e destaca seu impacto na música e na cultura popular. Utilizando imagens de arquivo e trechos de filmes como Star WarsE.T.Indiana Jones, a narrativa revela o processo criativo por trás de uma obra que atravessa gerações. Um filme para ser visto em tela grande e em alto e bom som!

Ave Sangria, A Banda Que Não Acabou

João Cintra, Mônica Lapa | Brasil | 2025 | 77’

A banda recifense Ave Sangria é um dos grandes nomes da psicodelia nordestina dos anos 1970. Em seu disco de estreia, gravou a canção Seu Waldir, composta para a atriz Marília Pêra interpretar numa peça musical. A gravação alcançou certo sucesso, até que um censor decidiu que a letra, na voz do vocalista Marco Polo, tratava de “amor homossexual”. No filme, os dois únicos remanescentes da formação original da banda, Almir de Oliveira e o próprio Marco Polo, relembram suas histórias enquanto rodam as estradas de Pernambuco a bordo da Rural de Roger Renor.

Pauline Black: A 2-Tone Story

Jane Mingay | Reino Unido | 2024 | 92′

Voz marcante do movimento 2-tone, Pauline Black transformou música em resistência política. Adotada por uma família branca em Essex, enfrentou racismo e sexismo desde a infância. Na segunda metade dos anos 1970, tornou-se vocalista da banda The Selecter, cuja fusão de punk, mod-rock e ska sacudiu a Inglaterra num período de avanço da extrema direita. Neste cenário, Pauline e seus companheiros subiram aos palcos para enfrentar os fascistas com seu som dançante e sua atitude engajada. Agora, aos 70 anos, ela investiga suas origens biológicas e descobre uma nova camada de sua história.

Brasiliana: o musical negro que apresentou o Brasil ao mundo

Joel Zito Araújo | Brasil | 2024 | 83′

Criado por Haroldo Costa em 1956, Brasiliana foi um musical de repertório negro que rodou o mundo, passando por mais de 30 países entre as décadas de 1950 e 1960. Levando a música, a dança e a cultura afro-brasileira para plateias internacionais numa época em que o Brasil ainda era sinônimo de “samba, futebol e mulher bonita”, o espetáculo ajudou a apresentar ao mundo uma imagem mais autêntica da cultura do país. Mercedes Baptista, pioneira da dança afro no Brasil e primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, foi uma de suas estrelas.

We Are Fugazi from Washington D.C.

Joseph Pattisall, Joe Gross, Jeff Krulik | Estados Unidos | 2023 | 96′

Os fãs do Fugazi conhecem a energia avassaladora que emanava de seus shows. Neste documentário, são apresentados alguns dos momentos mais intensos da banda em cena, registrados por quem estava lá com uma câmera na mão. Feito a partir de imagens raras das apresentações e de entrevistas com os próprios artistas, o filme mostra não apenas a música, mas o ambiente que envolvia cada performance — uma comunhão entre artistas e público, tomados pelo mesmo ânimo subversivo.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.