Front 242 Imagem: Reprodução

Pioneirismo, Guerra Fria e Bonde do Tigrão: saiba mais sobre o Front 242, que se despede dos palcos

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Grupo belga foi fundamental para a música alternativa — e eletrônica

Ainda não há datas confirmadas no Brasil, mas a esperança, como sabemos, é a última a morrer. O país tem uma considerável subnação que cresceu dançando ao som soturno e industrial do grupo belga Front 242, pioneiro no gênero musical dedicado à pista de dança EBM (Eletronic Body Music), uma vertente mais suja e pesada do synth-pop, que ganhava o mundo na virada da década de 80.

No seu Instagram, a banda anunciou a despedida definitiva dos palcos: “É com uma mistura de emoções que o Front 242 anuncia seus últimos shows. Infelizmente, encerramos uma grande aventura de cerca de 40 anos de sentimentos incríveis compartilhados com nosso maravilhoso público. Percebemos que parar agora, com uma ótima imagem e energia plena, é o que todos gostariam de lembrar”.

Chamada Farewell Tour, a turnê de despedida revelou mais de 30 datas pela Europa e Américas. Ainda não há confirmação no nosso país, mas novidades poderão pintar. Tem muita data livre na agenda da tour, que acaba em janeiro de 2025. O Brasil já recebeu o grupo três vezes: em 2003, 2015 e 2019.

Synth-pop de trincheira

Bolados com a pegada felizinha demais dos grupos vindos da Inglaterra, como Human League, Depeche Mode e afins, Daniel Bressanutti e Dirk Bergen deixaram o otimismo para o lado de cima do Canal da Mancha e partiram para um lado mais bélico da música dançante, adotando influências da música industrial a suas bases eletrônicas, primitivas como permitiam os equipamentos da época.

O som do Front 242, apresentado ao mundo no álbum Geography, de 1982, inspirou uma geração de novas bandas que seguiram seus passos (e o fazem até hoje): as notas baixas, o jeito de cantar, posicionando a voz no meio da traqueia, e as batidas quadradas viraram febre nas pistas de dança alternativas no mundo todo.

O projeto pegou seu nome de uma resolução da ONU — a 242, que considera “inadmissível a aquisição de territórios através da guerra”, mas  propõe, na verdade, uma guerra. O terror psicológico é o front da batalha em que atua. Sua música transmite, como poucos outros artistas, a agitação mental causada pela Guerra Fria e a corrida nuclear, nave-mãe das tensões entre os países na década de 80.

A desesperança foi ressignificada para a juventude, que já admitia viver em um mundo pós-apocalíptico arrasado pelas bombas atômicas. Ouvindo, claro, Front 242.

Curiosamente, sua única relação com a música brasileira foi o processo que moveram (e venceram) contra o Bonde do Tigrão. Demonstrando desconhecimento (ou desprezo) pela cultura do sampling, e até mesmo da realidade sobre como garotos de favelas cariocas faziam música eletrônica, os belgas ficaram putos após verem um pedaço de sua Headhunter em uma música do grupo de funk carioca licenciada para um comercial da Citroen, na França — a famosa Cerol na Mão.

Se você é um leitor globetrotter do Music Non Stop, planeje uma passadinha por um dos shows do Front 242 mundo afora. Para os demais, resta torcer. Festival com bala na agulha para a missão não falta.

Turnê de despedida Front 242

Março

1 – Aarschot, Belgium, Porta Nigra Festival

Abril

20 – Malta, Dark Malta
27 – Las Vegas, NV, Sick New World Festival
30 – Tijuana, Mexico, Black Box

Maio

2 – Guadalajara, Mexico, C3
3 – Mexico City, Mexico, Pabellon del Palacio

Agosto

4 – Lokeren, Belgium, Lokerse Feesten
10 – Hildesheim, Germany, M’Era Luna

Setembro

6 – Tampa, FL, Jannus Landing
7 – Philadelphia, PA, Union Transfer
8 – Cleveland, OH, Agora Theater
13 – Los Angeles, CA, The Mayan
14 – Portland, OR, Roseland
15 – San Francisco, CA, Great American Music HallOutubro

12 – Hamburg, Germany, Markthalle
17 – Utrecht, Netherlands, Tivoli Vredenburg: Ronda
18 – Berlin, Germany @ Huxleys Neue Welt
19 – Oberhausen, Germany @ Turbinenhalle
25 – München, Germany @ Backstage
26 – Langen, Germany @ Neue Stadthalle

Novembro

8 – Houston, TX, Rise Rooftop
9 – Dallas, TX, Granada Theater
10 – Denver, CO, Reelworks
15-16 – Chicago, IL, Metro
29 – Gothenburg, Sweden, Film Studios (FutureRetro)
30 – Stockholm, Sweden, Berns (FutureRetro)

Dezembro

5 – Lille, France, The Black Lab
7 – Paris, France, Le Trianon
8 – London, UK, Electric Ballroom
13 – Barcelona, Spain, Sala Apolo
14 – Madrid, Spain, Sala La Paqui
25 – Chemnitz, Germany, Dark Storm Festival

Janeiro 2025

10 – Copenhagen, Denmark, Pumpehuset
24-25 – Brussels, Belgium, Ancienne Belgique

Tomorrowland Bélgica
Você também vai gostar de ler Por que e como o Tomorrowland surgiu na Bélgica

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

× Curta Music Non Stop no Facebook