Ficção Americana Imagem: Reprodução

Leve, inteligente e provocativo: por que assistir a “Ficção Americana”

Amandha Monteiro
Por Amandha Monteiro

Filme satiriza o racismo embutido em querer delimitar a obra de um artista à sua etnia

A dica de hoje levanta um tema polêmico: você acha que uma pessoa deve ter mais espaço e mais holofotes por ser de determinada etnia? Essa é a bola que o espirituoso Ficção Americana levanta, contando a história de Monk (Jeffrey Wright), um escritor que, por acaso, é preto — um detalhe que para ele não entra na equação quando se trata da escrita.

Sua abordagem é humana, mas em dado momento, ele entende que o que o mundo, o mercado e a crítica esperam é que ele escreva apenas sobre ser negro, o que soa preconceituoso e reducionista.

Até que um dia, ele resolve de sacanagem fazer um livro só de clichês sobre ser preto e marginalizado. Carrega nas tintas, arruma um pseudônimo e lança a obra na intenção de provar o absurdo que é colocarem um artista numa caixa de “racializado”. Para seu espanto, porém, o livro é um sucesso absoluto, a ponto de Hollywood querer adaptá-lo para o cinema.

O bota reparo é pra metalinguagem na estrutura do roteiro de Cord Jefferson (roteirista e diretor), que abriga, de forma genial, dois filmes em um. A crítica em tom satírico sobre o dilema do protagonista é o filme A! Mas em paralelo, há um filme B, de drama, acontecendo. Monk perde a irmã, precisa cuidar da mãe com demência e tem dificuldades de se relacionar com o irmão e com a nova namorada.

Ao longo da película, o filme B fica maior e mais importante que o filme A, reforçando a mensagem que a personagem e Jefferson querem revelar: há problemas humanos ainda maiores, mais profundos e mais interessantes do que os clichês étnicos.

Leve, inteligente e provocativo, Ficção Americana não é sobre um escritor preto; é sobre um escritor.

O filme está disponível no Prime Video.

Leia mais da coluna de Amandha Monteiro!

Amandha Monteiro

Amandha Monteiro é diretora e roteirista. Membro da Academia Brasileira de Cinema, formada em Comunicação, com pós em cinema e licenciatura em artes cênicas, reúne em seus trabalhos diversos saberes nas vertentes artísticas. Seu vocabulário de conhecimentos artísticos 360 construíram, ao longo dos anos, um olhar sensível e apurado para o cinema e o teatro. Amandha já foi diretora e roteirista de TV, e hoje roteiriza e dirige para algumas das grandes empresas brasileiras, em campanhas institucionais e lives. No teatro, é coautora e protagonista de "Amor e Ódio em Sonata", sobre a vida do escritor russo Leon Tolstoi — primeiro espetáculo brasileiro a ser convidado pelo governo russo para temporada no país. No cinema, foi protagonista do longa "O Perfume da Memória", dirigido por Oswaldo Montenegro, ganhador de vários prêmios em festivais mundo afora. Louca por arte e por tudo o que expanda a alma, Amandha produz diariamente seu conteúdo exclusivo sobre cinema, em que o critério é a qualidade. Uma curadoria única, gêneros diversos, e seu olhar sobre as obras em tom provocativo e bem-humorado.

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