Tem gente que gosta de festa. Tem gente que é a festa. A promoter Claudia Pinheiro, mais conhecida no meio da música eletrônica apenas como Claudinha, ou pelo nome de sua página no Facebook, Claudinhafesta, não à toa trabalha promovendo a sua maior paixão: festas de música eletrônica.
Depois de anos trabalhando como editora de livros, Claudinha largou tudo e foi morar em Berlim. Por lá, se apaixonou ainda mais por uma cena que havia começado a namorar em São Paulo. E quando voltou para o Brasil, não teve dúvidas: se jogou de corpo, alma e passinhos na cena de festas underground não só de São Paulo, mas de várias cidades pelo Brasil.
Atualmente, ela atua como relações públicas da Mamba Negra, festa que comemora quatro aninhos neste sábado (27), além de fazer divulgação para Capslock, Subdvisions, Serialism, além de uma série de festas menores, como Caldo, Existe Pista Após o After e Obra. “O que me leva a divulgar uma festa é, em primeiro lugar, o line-up. Se eu gosto do line e for uma festa nova, que está começando, vou lá e faço, mesmo sem cachê”, diz a fortalezense que veio para São Paulo há 20 anos para cursar Propaganda e Marketing no Mackenzie e por aqui ficou.
Essa coisa de DNA é mesmo inexplicável. Mesmo antes de trabalhar com festa, Claudinha já curtia e muito a noite. Não deu outra: seu único filho, Benjamim Sallum, bem… se você é antenado nos line-ups das festas já viu este nome, né? Benja começou a tocar há cerca de dois anos, aos 15, e atualmente é um produtor/DJ cheio de gigs legais e parcerias com artistas como Zopelar e L_cio. Já falamos dele um tempão atrás, nesta entrevista.
Mas voltemos à Claudinha, porque tem muita coisa legal pra falar. Por isso, claro, ela é a nossa entrevistada da semana da coluna #MillerMusic. Antes de se jogar na entrevista, dá um play no som preferido dos últimos tempos da prometer, a maravilhosa, densa e hipnótica compilação Dark Abend in Leipzig da dupla Rødhåd & Recondite.
Rødhåd & Recondite – Dark Abend in Leipzig | Lab II
Music Non Stop – Você é de Fortaleza, começou a se envolver com a noite lá mesmo ou foi quando mudou pra Sao Paulo?
Claudinha – Trabalhei durante muitos anos no mercado editorial e quando mudei pra São Paulo abri minha própria editora junto com o pai do Benjamim, a Hedra. Foram 10 anos de sociedade. Só depois, quando voltei de um período em que morei em Berlim, comecei a trabalhar na noite como promoter e produzindo algumas festas para selos de fora e com alguns dos coletivos de São Paulo.
Music Non Stop – Você cursou propaganda e marketing no Mackenzie. Acha que foi legal essa base na faculdade para trabalhar com noite?
Claudinha – De nada me serviu. Do Mackenzie só guardo as amizades, nem cheguei a concluir a faculdade, estava muito envolvida com a editora e fazia alguns cursos de ouvinte na USP, na FFLCH. Literatura e filosofia sempre foram mais interessantes que a publicidade para mim. Uma época muito feliz guardo boas recordações.
Music Non Stop – Quando a noite virou um trabalho de verdade pra você?
Claudinha – Foi quando voltei de Berlim. Me aproximei dos coletivos de festas e nesse período o Benjamim ensaiava seus primeiros sets e dava passos iniciais na produção do seu live. Uma coisa se juntou a outra e misturado a isso minha paixão pelas festas, pela cena de São Paulo, fui me envolvendo cada vez mais. Hoje me sinto parte da cena. Quero contribuir ao máximo para o crescimento e desenvolvimento dela, é uma coisa de afeto mesmo, que se tornou trabalho. Vivo o melhor momento da minha vida agora, tudo flui.
Music Non Stop – Conta o que você viu de mais legal em Berlim e o que aprendeu por lá?
Claudinha – Após ter que deixar a editora vivi um período da minha vida entre São Paulo e Berlim estudando, trabalhando… Berlim também foi um exílio para mim. Foi lá que aprendi muito sobre a noite, conheci pessoas da cena eletrônica, dos clubes, fui aos grandes festivais da Europa, fiz grandes amizades, isso mudou completamente a minha vida. Voltei pra São Paulo com um grande aprendizado de vida na bagagem, foi transformador, eu diria.
Music Non Stop – Seu filho, Benjamim, acabou virando um produtor e DJ. Você tentou dissuadi-lo de trilhar esse caminho em algum momento?
Claudinha – O Benjamim foi criado com bastante independência e autonomia pra escolher os caminhos dele. Eu me preocupo, óbvio, mas ele tem demonstrado maturidade no trabalho como DJ e produtor, e isso me reconforta.
Music Non Stop – Lá se vão 20 anos noite. O que viu de mais legal acontecer na evolução do nightlife em São Paulo nesse período?
Claudinha – O crescimento da cena independente de festas e todo movimento que isso gerou para o mercado da música em São Paulo. Novos DJs, produtores, selos, projetos de rádio online, festas menores crescendo na esteira das que ficaram maiores, clubes novos chegando pra contribuir com as festas menores, jovens promoters e isso tudo de forma horizontal criando oportunidades de trabalho e crescimento para todos. Uma cena que se retroalimenta, que dialoga. É bonito de ver, me emociona.
Music Non Stop – Como mulher que trabalha à noite, já aconteceu alguma caso de assédio com você no trabalho?
Claudinha – Acontece sempre. Sei como lidar, encaro de frente. Isso acaba intimidando os mais abusados. Mas no âmbito das festas em que trabalho bem menos. As pessoas me conhecem e sentem carinho por mim, então acaba rolando mais respeito, até porque atitudes machistas são o tempo todo combatidas.
Music Non Stop – Qual a cena mais engraçada que já aconteceu enquanto você estava trabalhando?
Claudinha – Acontecem umas coisas bizarras desde tirar maluco da caixa de som até cuidar de gente em coma alcóolico. Nas festas grandes fico sempre atenta ao que está acontecendo na pista, cuidando para que não haja incidentes ou coisa do tipo.
Music Non Stop – Você é clubber daquelas que viajam pra ir ver um DJ. O te faz ter essa vontade toda de ferver?
Claudinha – A música eletrônica tornou-se um vício na minha vida. Tenho gostado cada vez mais dessa experiência de ver um artista de que gosto e admiro em outro estado, isso me possibilita também conhecer a cena local. Ando apaixonada pelo sul. Curitiba e Florianópolis me conquistaram porque estão trazendo os maiores nomes do minimal e essa cena é forte lá. Gosto bastante do techno do Shadow Movement e da galera do Sweetuf Records. Esse ano viajei pra ver Dewalta, Thomas Melchior, Fumya Tanaka, Rhadoo e Cabanne no Rio, que tocou na Just follow, uma festa que está fazendo coisas boas pela cena da cidade. Viajei também pra conhecer a cena de Belo Horizonte, me encantei por aquela pista e pela galera da Masterplano, um coletivo de festas de lá. Quero conhecer Porto Alegre e os coletivos de lá.
Music Non Stop – Quem são seus DJs preferidos?
Claudinha – Parte deles estão na resposta acima. Sou fã confessa do Recondite. Escuto muito Rødhad, Ryan Elliot, Margareth Dygas, Losoul, Sonja Moonear, Ion Ludwig, Volkan Akin, Vera, Dani Casarano, gosto bastante dos romenos, dos alemães. No Brasil vivemos uma safra de DJs e produtores de altíssimo nível. Me sinto privilegiada de viver entre eles. Nem preciso citar nomes. Amo- os de paixão. Tenho escutado muito os DJs que vi no Dekmantel e no DGTL, é bacana quando um festival cumpre seu papel de mostrar coisas novas. Vou a todas as festas e festivais de música eletrônica em busca de conhecimento musical.
Music Non Stop – Uma noite perfeita tem que ter…
Claudinha – Música, música, música … saio de casa para dançar muito, e a música eletrônica tem me proporcionado viver isso intensamente.
QUER MAIS #MILLERMUSIC? TEMOS!