Laura Diaz e Carol Schutzer aka Cashu, as patroas da Mamba Negra

A cobra vai fumar: festa Mamba Negra estreia selo Mamba Rec com lançamento de vinil do Teto Preto. Veja o clipe

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Vamos combinar, as mulheres estão arrasando em todas as modalidades da vida. Na música eletrônica, a coisa também está cada vez mais feminina, e isso é uma notícia incrível, porque, especialmente no universo das cabines de som, a predominância sempre foi masculina.

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Uma parcela dessa mobilização das minas na cena eletrônica vem da força fêmea da Mamba Negra, clã de festas que recentemente celebrou três anos de fervo intenso e cada vez mais lotado e animado. À frente da Mamba, as paulistanas Carol Schutzer (aka Cashu) e Laura Diaz (aka Angela Carneosso), ambas de 27 anos, agora anunciam a chegada do selo Mamba Rec, que já surge com lançamento de peso do projeto Teto Preto. Veja o novíssimo clipe da faixa Gasolina em primeira mão aqui.

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Gasolina – Teto Preto

MИR #01 – TЄTØ PRЄTØ / ĞΛSØŁIИΛ
escrita por CARNEOSSO
produzida por L_cio+ Zopelar + CARNEOSSO
violoncelo Filipe Massumi
percussão William Sprocati Tocalino
mixado por L_cio + CARNEOSSO
masterizado por Calyx (Berlin)
// VIDЄØCŁIPЄ //
▀ produção, roteyro, montagem, direção e finalização: Laura Diaz
▀performance e figurino: Loic Koutana
▀dir. de fotografia: Alexandre Furcolin Filho
▀câmeras: Alexandre Furcolin e Laura Diaz
▀luz de apoio / pista: LABLuxz (Diogo Terra Vargas e Paulo Cesar Saito)
▀design gráfico: Estúdio Margem (Alexandre Lindenberg)
▀sonoplastia: Pedro Zopelar

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O primeiro lançamento do Mamba Rec vem nos formatos digital e vinil. Pra quem quiser comprar as as duas faixas do EP Gasolina, é só CLICAR NESTE LINK e ser feliz. Pra encomendar o vinil do Teto Preto, que chega em outubro, é só CLICAR NESTE OUTRO LINK, que além do vinil dá direto às duas faixas originais do EP (Gasolina Neles e Já Deu Pra Sentir), além de um remix feito pelo carioca Carrot Green.

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Capa do disco do Teto Preto, primeiro lançamento do selo Mamba Rec

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Zopelar, Laura, L_cio e Bica aka Teto Preto

O Teto Preto chegou na noite trazendo uma dose elevada de brasilidade. Até aí, qual a nova? Tá cheio de gente dançando música brasileira em festas por aí. Certo. Mas não nos ambientes em que o Teto Preto se meteu: no meio de line-ups e festas de techno, sendo a Mamba seu habitat natural, como um show ao vivo de música eletrônica, com os gênios da raça Pedro Zopelar e L_cio à frente dos beats e synths, Laura Diaz cantando e mega performando com seu aka Angela Carneosso e o músico Bica, que se alterna entre percussão e trombone.

Ouça Já Deu Pra Sentir – Teto Preto

Além do recém-lançado selo Mamba Rec, Laura e Cashu estão metidas até a tampa no lifestyle de festas, seja na frente artística (Laura como integrante do Teto Preto e Cashu como DJ e produtora) ou nos negócios, que incluem uma linha de bijoux feitas com materiais achados na rua ou em lojas de eletrônicos e materiais de construção (a Nóia Rara), e roupas (a BEMLIXO, de Bóris Rodrigues), além de uma rádio online muito legal (a RáDIO VíRUSSS). Com tanta novidade, o Music Non Stop foi falar com as minas sobre tudo isso e mais um pouco. Eis a entrevista.

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Laura Diaz e Carol Schutzer aka Cashu, as patroas da Mamba Negra

Laura Diaz e Carol Schutzer aka Cashu, as patroas da Mamba Negra

Music Non Stop – Como vocês se reuniram pra fazer a Mamba?

Carol Schutzer e Laura Diaz – A Mamba nasceu em maio de 2013. A nossa história começou em 2009, pelo menos, num momento de efervescência cultural e política no centro de SP. A música eletrônica ganhava força na cena underground fora do clube e nós nos conhecemos trabalhando para criar esse contexto de festas de rua, em locações degradadas, festivais autogeridos, ocupações estudantis, artísticas e de moradia. Nos reunimos para explorar uma vertente marginal ao hedonismo tropical, algo mais denso, debochado, ácido e envolvente.

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Começamos procurando as intersecções da música eletrônica com a música orgânica. Nessa trajetória, já recebemos bandas de jazz, jams eletrônico-elétrico-acústicas, show de bandas de música autoral e experimental. Com o amadurecimento da pesquisa, começamos a dialogar com o formato de LIVE, música eletrônica original feita ao vivo ou produzida pelo artista. Estamos sempre abertas procurando gente nova e artistas que buscam outros caminhos além dos tradicionais.
Somos fruto desses encontros entre artistas e coletivos, mas sobretudo da necessidade de criar meios de produzir e circular a nossa produção, sem acabar refém da proposta limitada do mercado do entretenimento e da relação de “público-cliente”.

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Uma manhã como outra qualquer na Mamba: mais ácida, mais densa, mais debochada

Music Non Stop – Contem um pouco da história desses três anos de festa, o que rolou de evolução do label?

Carol Schutzer e Laura Diaz – A cobra não tem energia de sobra pra gastar, tem o suficiente para o bote preciso, deslocamento, defesa e digestão. Desde a primeira Mamba, a idéia do selo existia como um norte, ainda que muito distante. Queríamos produzir material original em ambiência, arte, luz, projeção, performance e música. Nunca tivemos muitos recursos, somos nômades. Fazemos da maneira que dá, engrossando a gangue com a ajuda de muita gente, tentando sempre repensar nossas formas de produção (executiva e artística). Estamos criando e estudando maneiras mais horizontais de trabalhar coletivamente. O crescimento da Mamba vem com o fortalecimento de toda essa cena.

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Nossos principais parceiros atuais são o Estúdio Margem (Identidade visual: Ale Linden e Nath Cury) , LABLuxz (luz e ambiência: Diogo Terra, Paulinho Fluxus, Paulo Saito), FIXO (projeção: Rodrigo Senz), CAPSLOCK (Paulo Tessuto, Fractal Mood, L_cio). Na esfera musical, ao longo desses três anos, o amadurecimento da pesquisa sonora nos aproximou do techno. É interessante lembrar sua origem operária em Detroit. Por um lado, temos restrições e possibilidades de produção semelhantes a esse movimento underground de 80, por outro trazemos um acúmulo de influências vindas também da house, deep e da música brasileira, da canção ao instrumental. Logo, não gostamos de restringir nosso gênero. Muitas vezes os gêneros musicais servem mais à indústria que ao consumidor e podem limitar nossa criação a uma caricatura tropicalista pra inglês ver (e vender). O eletrônico que é tocado na festa, em geral, é bem brasileiro pelo fato de sermos brasileiros.

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Vinil, montação, synths, diversão; este é o espírito da cobra

Music Non Stop – O que vocês acham que está acontecendo com a noite de São Paulo? Mudou muito desde que vocês entraram na parada, não é?

Carol Schutzer e Laura Diaz – Temos 27 anos, nossa adolescência e formação foi altamente marcada pelo acesso à música em clubes e casas de show. A vida noturna, a experiência de viver a rua de noite e de madrugada nos bares e boates era completamente diferente do que a São Paulo pós-Kassab. Mas, ainda assim, nesses 10 anos atrás o próprio circuito de clubes já era centralizado nas mão de algumas poucas direções e seus respectivos interesses. Por um lado, é um trabalho notável de construção da cena eletrônica em São Paulo que reverberou e criou um público, uma demanda e uma geração.

Por outro, nós precisamos trabalhar e queremos fazer música. Dialogamos com poder público, clubes, coletivos e movimentos. Com a Mamba, o nosso trabalho é expressão de uma demanda geral por espaços-experiência de liberdade quando a perspectiva política é, cada vez mais, de repressão.
Acho que a cena mudou, porque mais pessoas se apropriaram da cultura do soundsystem, da intervenção urbana nas ruas e ocupações, das linguagens entrelaçadas. Essas ações, com alto poder de articulação local, são uma proposta diferente a da espetacularização dos eventos culturais. Por outro lado, essa é a nossa única alternativa, não é? Não temos nome nem patrimônio.

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Nosso trabalho é expressão de uma demanda por liberdade quando a perspectiva política é de repressão

Music Non Stop – Como veio a ideia de fazer um label musical?

Carol Schutzer e Laura Diaz – A “idéia” do selo estava presente desde a primeira vez em que sentamos na Sebastião – quartel general – pra discutir a cobra preta. A gente queria chegar num ponto de produzir conteúdo original para toda a identidade, para toda a intervenção. Gravar é um processo longo de materialização de pesquisas, esforços e recursos. É uma ferramenta poderosa de falar com o mundo e ser escutado.

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Os artistas que fazem parte da Mamba, que atuam nessa cena em que estamos inseridos, há um tempo necessitam de uma plataforma para disseminar suas produções. Temos muito apoio e ajuda de vários artistas como Alexandre Silveira (Exz_), L_cio, Dunwich, Zopelar, Carrot Green, Paulo Tessuto e Domina. E era só uma questão de tempo e trabalho, para que a gente tivesse condições de colocar isso em prática. O planejamento e a melhoria na estrutura da festa que fizemos ao longo do ano passado nos permitiu que criássemos o Mamba Rec agora.

O público vai às nossas festas porque é onde encontra musica eletrônica brasileira que está fora do comercial convencional que rola nas rádios, shoppings e academias enquanto experiência coletiva. E o Mamba Rec será um portal para materializar essa pesquisa e expandi-la além dos frequentadores e consumidores da festa. Uma realização muito gratificante para nós, como também para todas as pessoas que nos acompanharam ao longo dessa trajetória e que fizeram isso ser possível no momento certo. Todo projeto precisa de um tempo de maturação, é bom que tenha, criando um corpo estabelecido e pronto para rastejar!

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Música eletrônica brasileira fora do padrão das rádios, a Mamba tem

Music Non Stop – Laura, fala sobre o seu projeto com os meninos, o Teto Preto.

Laura DiazTeto Preto é a jam residente da Mamba Negra, que reúne músicos de diferentes backgrounds para sessions de livre improvisação. Música original, canções em ação, colagem e composição. A banda se apresenta com a formação base: L_cio (drummachines) + Zopelar (synths) + Carneosso (voz / composição) + Bica (percussão + trombone).

Em novembro do 2015, gravamos o primeiro EP Gasolina na Red Bull, que está saindo agora como o primeiro lançamento da Mamba Rec. A proposta do disco é, através do encontro das cenas da música orgânica no circuito de bandas e da música eletrônica nas ruas, clubes e festivais, apresentar evolução da pesquisa e experimentação sonora que abarca as mais diversas vertentes e timbragens da música brasileira e internacional.

As colagens, canções e pós-canções trazem uma temática fortemente feminina, corpo político reinventado em emoções, sensações e imagens. O vocal é ardido e cheio de palavras rasgantes. É também doce e harmônico, outras vezes elétrico percussivo. A percussão traz os timbres da conga sincopada, da cuíca que chora, do trombone escorregadio. Há camadas de brilho delicado que pontuam o ritual com sinos, guizos, agbe, clave e outras sinestesias da dupla orgânica da banda.

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Do outro lado, L_cio comanda e sustenta a pulsação com Zopelar. O kick e o bassline em diálogo melódico constante, ainda que subentendidos em compassos de suspensão. L_cio é músico de longa data da cena eletrônica, atualmente artista da gravadora alemã Kompakt, D-Edge, MAMBA NEGRA, CASPLOCK. A produção autoral traz a presença do techno e dos elementos orgânicos. Através dos synths, Zopelar traz a bagagem do free jazz, krautrock, electro.

O resultado dessa mistura de samba-canção, poesia concreta, candomblé, maracatu, jazz, techno, house e electro ainda não tem gênero. É o eletrônico antropofagisado e devolvido à pista como ritual coletivo performático.

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Music Non Stop – O que é a Mamba Negra na concepção mais ampla que vocês possam pensar?

Carol Schutzer e Laura Diaz – A Mamba é, antes de tudo, uma f(r)esta. Nós queremos abrir espaço para essa cena independente e estamos aprendendo a fazer isso de maneira orgânica. O eletrônico feito ao vivo e a música orgânica sempre foram elementos complementares fundamentais na nossa trajetória sonora. Somos multiartistas: produtores, músicos, DJs, videomakers, arquitetos, artistas visuais, técnicos e performers.

A cidade, por sua vez, é a nossa arena. Com sua faceta festiva, a Mamba tem um potencial forte de articulação e tensionamento em questões culturais, sociais, morais e de saúde pública.
E nós existimos para lidar com essas polêmicas através da nossa linguagem, produção e principalmente da nossa ação.

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Só esses fatores juntos já acabam ativando discussões que constroem esse lugar de liberdade sexual, cultural, política. Por meio da articulação de uma rede de atuadores, queremos abrir espaço para essa cena independente e estamos aprendendo a fazer isso da melhor maneira, valorizando e trazendo junto o trabalho de todos os artistas que são essenciais para a nossa identidade.

Com essa caraterística a Mamba acabou sendo um embrião para outros projetos. Às quarta-feiras, fazemos a transmissão online da RADIO VÍRUSSS, espaço de encontro nosso e dos ouvintes com produtores e DJs da cena de São Paulo e de outras cidades do país, conduzida por L_cio, Cashu e Danila Moura. A BEMLIXO, marca de Bóris Rodrigues de silkscreen em roupas de brechó e doações, que tem letreiros e expressões faladas ou usadas por nós e pelas pessoas da cena. A NÓIA RARA, marca de colares e adereços com materiais achados na rua ou em lojas de eletrônicos e materiais de construção, que disseminou pelo Brasil com uma peça usada por clubbers que ajuda na redução de danos.

A Mamba hoje é um projeto que se desdobra em várias frentes e o selo Mamba Rec é mais uma dessas “escamas” que surgem para atingir outras pessoas e expandir nossas idéias.

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As peças da marca BEMLIXO, sempre nas festas

Music Non Stop – Quando se falar da Mamba no futuro, sei lá, daqui a 20 anos, como vocês gostariam que o povo se referisse ao label, nos “livros de história”rs?

Carol Schutzer e Laura Diaz – Gostaríamos de que a Mamba fosse retomada como usina articuladora de intervenções urbanas, inserida num movimento artístico que enxergou no formato de “festa” um suporte para construção e experimentação de novas linguagens. O amadurecimento da pesquisa eletrônico-orgânica da festa e dos artistas que fizeram parte dessa trajetória, resulta na Mamba Rec – selo de produções originais e brazyleiras.

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Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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