Edição brasileira do festival holandês mandou muitíssimo bem na curadoria dos nomes nacionais
Um line-up de festival é aquele que mistura, em sua receita, ingredientes bem-equilibrados. DJs clássicos, históricos, com novas gerações que estão propondo algo novo para a música. Nomões, daqueles que todo mundo quer ver há tempos, com outros que conhecemos só de nome, ou até mesmo boas surpresas, que nunca havíamos ouvido falar e corremos para saber mais. E quando um evento como o DGTL São Paulo dá a devida e merecida a atenção aos artistas brasileiros, passando em revista nossa incrível história dentro do universo da música eletrônica, aí o time de curadores merece nossa medalhinha de respeito.
O Brasil não deve ser conhecido apenas por um país “com o público mais animado e caloroso do mundo”, de deixar os DJs internacionais com lágrimas nos olhos. Isso é colonialismo. Deve ser renomado pelos seus DJs e produtores também, que se aventuram em excursões por todo o mundo, para levar nossa misteriosa felicidade para públicos de outras paragens. Infelizmente, line-ups (e cachês), em muitos festivais, acabam destinados às atrações internacionais, deixando a quem trabalha duro pelos clubes e festinhas todos os finais de semana com aqueles horários mais esquisitos, pistas menores e, nos piores casos, amigos dos produtores. Em uma terra que tem DJ Mau Mau, Renato Cohen, DJ Marky e ANNA, entre tantos outros.
Eis que o DGTL São Paulo, marcado para dia 16 de novembro, mandou muitíssimo bem na escalação de brasileiros. Uma diversidade de gerações, estilos e propostas que apresentam um bom panorama de como se dança por aqui. Destaca-se uma galera que está há um bom tempo na batalha, os que abriram o terreno a facões, para que o festival holandês pudesse chegar com seu shopping center, usando um clichê que serve apropriadamente à situação.
Estar em grandes festivais é bom para os artistas daqui. Traz repercussão e mídia, e são (ou pelo menos deveriam ser) uma porta de entrada para as edições em outros países. São bons para o público também, que compreende a paridade técnica entre o que estamos fazendo aqui comparando com os artistas de fora. Mas são melhor ainda para o evento.
Contamos, nome a nome, um pouquinho das história de cada brasileiro que estará no DGTL São Paulo 2024. Vem com a gente.
Albuquerque
Ricardo Albuquerque é paranaense, cria do cenário que envolve o club Warung, onde é residente desde 2013. Além disso, bate cartão no já histórico Club Vibe, de Curitiba, e é o criador de projetos como o coletivo Radiola e Sonido Profundo.
Beto Chuquer
DJ por traz da criação da Heavy House, espaço que tem contribuído para a manutenção da cena clubber paulitana, Beto e seu pai Milton Chuquer trabalham pela divulgação da house music (principalmente em seu espectro mais jazzy e deep) há muuuito tempo na cidade.
Ed Lopes
Representando o cenário do techno melódico brasileiro, Ed Lopes é de Fortaleza, Ceará, mas se mudou para São Paulo há mais de uma década. Produz desde 2020, e cita como referência Massano, Innellea e Tale Of Us. Ed lançou pelo selo Sonido Profundo, do Albuquerque, também presente no DGTL São Paulo.
Eli Iwasa
Eli Iwasa nasceu no techno paulistano, como promoter de uma das primeiras noites dedicadas ao gênero no país, a Technova. Trabalhou ativamente na construção do cenário eletrônico de Campinas, para onde se mudou há décadas, e encabeçou projetos seminais como os clubes Kraft e CAOS.
From House to Disco
A dupla formada por Bruna Ferreira e Livia Lanzoni traz ao DGTL o lado mais glitter da house music. From House to Disco toca e produz, e coleciona uma respeitável experiência em grandes (do tipo, enormes, como o Rock in Rio) festivais brasileiros.
Julia Weck
A paulistana Julia Weck faz parte daquele time de DJs que provoca uma deliciosa confusão juntando boogie, jazz e soul com house music. Traz ao DGTL a bandeira da nova geração de garotas que têm arejado o cenário de discotecagem da cidade.
Lycra Preta
Desde que deixou Campo Grande, sua cidade natal, Bruna Moura, a Lycra Preta, carrega com orgulho a bandeira da house music pelas cidades por onde vive. Balançou Florianópolis por anos e agora reside em São Paulo. Aficionada, pesquisadora e com uma baita técnica, é uma das maiores representantes do cenário houseiro do país, atualmente.
Marcio S.
Marcio S. faz parte das primeiras gerações de DJs que promoveram o techno no Brasil, a partir da metade dos anos 90. Isso significa muita influência dos mestres de Detroit e do lado mais funky do gênero. A história de Marcio se confunde com a do techno em sampa e mostra que os curadores do DGTL leram o manual.
Mary Mesk
A presença de Mary Mesk no line-up ajuda a entender como é importante a presença feminina no cenário eletrônico brasileiro, principalmente quando o assunto é meter a mão na massa. Mary discoteca, produz e toca seu selo, Mesk Records. Ao lado de Curol, lançou a faixa The Way, que fez bastante barulho.
Mayra Maldjian
Na pista desde 2008, Mayra Maldjian também é jornalista e produtora audiovisual. Forjada no cenário de rap e bass music, participou dos coletivos femininos de turtablismo Applebum e Rimas & Melodias. É residente da festa Rap Hour e uma ótima amostra de como anda o cenário paulistano deste universo.
Milton Chuquer
Pai do Beto, o Miltão é uma autoridade da house paulistana. Já se apresentou em picos como Funkbox NY, Cielo NY e Shelter NY, clubes seminais do gênero, e sempre trabalhou forte pelo cenário aqui em São Paulo. Merecidíssima cadeira no DGTL.
PETDuo
O casal Ana & David, hoje residindo na Alemanha, é inseparável do que se entende por cenário techno brasileiro. Amante da “lenha”, apelido que ajudou a cunhar para o hard techno, o PETDuo estava aqui quando tudo aconteceu, desde os tempos de Hell’s Club, e segue mais ativa do que nunca.
Tessuto
O que Paulo Tessuto ou seu avatar Carlos Capslock fizeram pelo cenário underground paulistano é impagável, levando música e ativismo a lugares esquecidos pelos moradores da cidade com a festa Capslock. Na música, Tessuto repete a competência que tem como festeiro. Um importante capítulo da história, que será contado ao público do DGTL.
Vitorino
O DJ que nasceu no Mato Grosso e vive em Campinas mostra que o trabalho feito pelos clubes da região, como Laroc e CAOS, já surte efeito na formação de novas gerações. Atuando profissionalmente desde 2015, Vitorino é cria deste cenário, terra dos DJs Tuca, Lukas, Eto e Gabi. Mais um representante da nova geração do techno brasileiro no cardápio do DGTL São Paulo.