Assédio no Carnaval Foto: Reprodução

Belo Horizonte dá exemplo em combate ao assédio no Carnaval

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Capital mineira coloca em prática ações que deveriam ser copiadas por órgãos públicos de todo o país

Capacitação de blocos para atuar em casos de assédio sexual, um posto de apoio médico, psicológico e policial no meio da folia e até mesmo um “varal solidário” com roupas para quem não se sente segura para voltar para casa com a roupa da folia. Estas são apenas algumas das louváveis ações que os órgãos públicos mineiros estão colocando em prática no Carnaval em 2024.

Em Belo Horizonte, foi implantado o Projeto Integrado Acolhe, uma força-tarefa formado por integrantes da Polícia Militar, Guarda Metropolitana, Polícia Civil, OAB, governo estadual e ONGs, todos capacitados para ficar especialmente atentos a situações de assédio nas festividades. O mesmo vale para os blocos, cujos organizadores foram capacitados.

O projeto terá uma base na sede do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), na Praça da Liberdade, e funcionará durante todos os dias (10 a 13 de fevereiro), das 10h às 19h. O objetivo é dar acolhimento psicológico, jurídico e seguro às vítimas, além de identificar e enquadrar os agressores.

Alô, Brasil, bóra copiar?

“Vou beijar-te agora, não me leve a mal, isso é Carnaval.”

Estigmas culturais como este, excessos e aglomerações fazem dos blocos um terreno movediço para mulheres. A receita faz com que pessoas mal-informadas (ou malformadas, psicologicamente) pensem que, durante as celebrações, os limites se tornem mais “interpretativos”, por assim dizer. Mas não é assim que a fanfarra toca.

O nauseante julgamento do caso do jogador de futebol Daniel Alves está sendo noticiando para o mundo todo, em tempo real, para gravar em nossas mentes, como uma tatuagem na testa, que “não” é “não”, sempre. E não tem bebedeira, roupa curta ou dança que mude isso.

Saindo à frente dos sem noção com uma série de ações preventinas, o Carnaval de Belo Horizonte dá uma verdadeira aula em combate ao assédio sexual. Além do suporte necessário a potenciais vítimas, o anúncio feito traz aos holofotes da mídia (caso da matéria que vosmecê lê agorinha mesmo) o tema que, ao ser lido e discutido antes de botar o pé na folia, educa e constrange atitudes que poderiam aflorar durante o feriado.

Roubar beijo, tocar sem consentimento, pegar no cabelo e ameaçar já configuram crimes de violência sexual previstos em lei. Tirar sarro, ofender ou importunar depois de ouvir “não” também (injúria e difamação). O código penal foi atualizado para tirar o Brasil de trevosos tempos em que, para a configuração da prática de crime, era necessária a existência de evidências físicas, como marcas no corpo.

A redação otimista do Music Non Stop acredita que, neste momento, a maioria dos governos estaduais do país está morrendo de vergonha por não ter pensado nesse tipo de ação antes, e vai implantar seus próprios programas de combate ao assédio, melhorados e ampliados, já nas próximas festividades de rua.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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