Conheça a incrível cidade futurista que Walt Disney começou a construir dois meses antes de sua morte
Livre de carros, com clima controlado e capacidade para cem mil habitantes, o complexo de EPCOT foi o projeto mais ousado do produtor e empresário
Em 1966, Walt Disney já havia construído seu gigantesco império e, consequentemente, era dono de uma caixa forte maior do que a do Tio Patinhas.
Suas animações lotavam os cinemas de todo o mundo. Seus programas de TV eram assistidos por mais de cem milhões de pessoas. E sua mais recente investida, o parque temático Disneyland, na Califórnia, havia se tornado um enorme sucesso comercial.
O que pouca gente sabe, porém, era que o maior empresário da história do entretenimento estava prestes a realizar a seu mais impressionante projeto: uma cidade experimental futurista, reunindo as mais novas tecnologias e conceitos urbanísticas do planeta, com capacidade para cem mil pessoas.
Chamado de Experimental Prototype Community of Tomorrow (Comunidade Protótipo Experimental do Amanhã) — EPCOT —, o complexo reuniria um aeroporto, uma área industrial e uma cidade em formato circular protegida por uma redoma de vidro com 20 mil residências. Tudo estaria ligado por um trem de alta velocidade, e reuniria as mais recentes tecnologias disponíveis em sua construção.
O projeto seria bancado por Walt Disney em uma área, no centro da Flórida, duas vezes maior do que o bairro nova-iorquino de Manhattan. A região também abrigaria, separadamente, seu novo parque temático, Disney World.
Disney queria construir uma comunidade utópica, com conceitos que deixariam os Jetsons (da concorrente Hanna-Barbera) de queixo caído. Depois de testar o modelo, ele poderia ser replicado em todo o mundo.
O produtor e empresário gravou um vídeo de 30 minutos apresentando a proposta para o governo da Flórida.
“Eu acredito que não há prioridade maior, atualmente, do que encontrar soluções para os problemas enfrentados em nossa cidade” — conta, enquanto apresenta a planta.
“Nós não acreditamos que temos a resposta para todos. Mas contamos com a criatividade de toda a nossa indústria, com ideias que surgirão durante o planejamento e a construção do nosso experimento.”
“Tudo o que há na cidade será dedicado à felicidade das pessoas que viverão, trabalharão e se divertirão ali” — Walt Disney.
Muitas das tecnologias necessárias para a conclusão da empreitada simplesmente não existiam. Segundo o empresário, o projeto funcionaria, também, como um motivador, para que inventores as desenvolvessem.
A cidade
EPCOT seria construída no formato de uma “roda de bicicleta”. Circular, com ruas distribuídas como os raios, ligando as áreas residenciais à área central.
O centro da cidade seria composto por um grande hotel, vários edifícios de escritórios, casas de shows, teatros e cinemas, além de lojas. Totalmente livres de carros (somente veículos elétricos seriam permitidos), a área seria coberta com uma redoma vidro e teria um clima estável, protegido de chuvas, e teria temperatura e umidade consideradas “ideais”, por Disney. A área residencial ficaria de fora da redoma.
A ideia, realmente visionária em 1966, seria evitar o uso de automóveis e estimular o uso do transporte público e a caminhada. Para isso, diversas quadras da área comercial seriam construídas no estilo arquitetônico e urbanístico das “mais charmosas cidades do mundo”, bem ao estilo Disney. Tudo ligado por um trem, que seguia desde o aeroporto até o distrito industrial.
Quase foi, mas não foi
Walt Disney morreu dois meses após a aprovação do projeto, em dezembro de 1966. Seu irmão e sócio, Roy Disney, assumiu o compromisso de concretizar aquele sonho.
Roy, no entanto, era o oposto do irmão. Na sociedade, Walt era considerado o “acelerador”, e Roy, “o freio”, evitando que as visões fora da caixa do irmão se tornassem fracassos financeiros.
Ainda assim, ele seguiu em frente, mas veio a falecer cinco anos depois. EPCOT, então, passou por uma revisão, transformando-se apenas em um dos quatro parques temáticos do Disney World, em Bay Lake, Flórida, e concluído apenas em 1982.