Nos embalos de Chaves à noite: um mergulho na rica discoteca de “Chaves” e “Chapolin”
Pouca gente se deu conta, mas a trilha sonora das versões brasileiras das séries do Chespirito é ouro puro
Aproveitando que todos estão falando em Chaves por conta da exposição inaugurada nesta sexta-feira, 05, no MIS, em São Paulo, resgato aqui um dos textos mais divertidos que lembro de ter feito. Ele foi originalmente publicado em dezembro de 2014, no meu antigo blog LOFT55, e depois foi republicado pela saudosa Revista Phouse, onde fui editor entre 2017 e 2020 — ambos os sites estão inativos, infelizmente.
Mas vamos falar a verdade: este artigo sempre foi a cara do Music Non Stop!
Nele, mostro como até Chaves e Chapolin têm forte relação com a música das pistas de dança, já que a disco music, o funk e a soul, tão presentes na trilha brazuca dos programas, são os estilos raiz da dance music — sobretudo a disco, mãe solteira da house.
É com muito orgulho que o resgato mais uma vez aqui, dando uma adaptadinha pro contexto atual, e trazendo os vídeos do excelente canal do YouTube BGMsCh. Espero que os fãs do Chespirito e os fãs da disco music — e principalmente os fãs de Chespirito e da disco music — se divirtam tanto quanto eu, quando o escrevi. Sigam-me os bons!
Muito graças ao SBT, que passou durante décadas Chaves e Chapolin exaustivamente, os principais personagens do nosso saudoso Roberto Bolaños tornaram-se, provavelmente, os maiores expoentes da cultura pop brasileira. E se algumas das melhores características dos seriados do Chespirito são os cenários, efeitos e demais tosqueiras de baixo orçamento, não podemos dizer o mesmo da trilha sonora — ao menos da nacional, já que o canal de Silvio Santos recriou as séries à sua maneira, incluindo boa parte do som.
Provavelmente extraindo de discos de trilhas brancas [faixas livres de direitos autorais], o canal teve um bom gosto gigantesco ao selecionar as músicas de fundo, quase sempre assinadas por compositores ingleses. Mas além da musicalidade riquíssima, elas marcam uma era: os seriados de Bolaños nasceram nos anos 70 e foram importados ao Brasil no início dos anos 80. Natural que boa parte da trilha tivesse bastante influência de funk, de soul e principalmente de disco music, que nasceu e dominou o mundo entre essas décadas.
Selecionei, então, dez das mais notáveis disco tracks que marcaram nossa versão brasileira de Chaves e Chapolin — uma trilha sonora que Giorgio Moroder com certeza aprovaria! 😉
John Carles Fiddy – Mechanical Toys
Começamos com minha favorita: Mechanical Toys, de John Charles Fiddy. Vocês certamente vão reconhecê-la e, coincidentemente, me lembro de estar cantarolando essa melodia pouco antes de saber do falecimento do Bolaños, em novembro de 2014.
John Charles Fiddy – In a Hurry
Outra clássica. Escala de baixo típica da disco.
John Charles Fiddy – Walking The Dog
Walking the Dog, mais uma grooveira de John Charles Fiddy.
MFSB – Brothers and Sisters
Aqui a maior prova do que estou dizendo: rolou até um MFSB — grupo da Filadélfia responsável por um dos primeiros hinos da era disco — saindo da vitrola no Chapolin, nesta primeira cena do episódio O Vazamento de Gás.
Billy Cobham – Mozaik
Mesmo episódio, mesma cena, mesmo canal, mas outra pérola funky — Mozaik, do jazzista Billy Cobham.
Peter Morris – Breezin In
Falando em funky, e esse groovão pegado de Peter Morris em Breezin In?
Brian Wade – Francoise
Francoise, de Brian Wade, é outra sonzeira jazzy-funk que rolou em episódios de Chapolin.
Brian Laurence Bennett – Holy Mackerel!
Pós-disco com timbres que remetem à space disco de Todd Terje e à música de games. Alguém aí falou em churros?
Len Beadle – Sunshades
Sunshades é uma música linda que representa a elegância da música latina e dos arranjos tropicais. Podia ser Alan Parsons Project, mas é Len Beadle.
Tony Hymas – Happy Whistler
Essa daqui vocês também vão lembrar de cara! Uma das mais tocadas e uma das mais tranquilinhas, embora também tenha toda a levada da disco music no baixo.
Peter Jacques Band – Walking on Music
E encerramos com a disco mais disco de todas: batida 4×4, groovão frenético e vocais de diva. Walking on Music, de Peter Jacques Band, é um italo disco pronto pra tocar na pista. SON-ZEI-RA!