Shoegaze Foto: Reprodução/Internet

Como o TikTok reviveu estilo musical esquecido dos anos 90 para a geração Z

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Plataforma foi responsável pela revitalização do shoegaze, antes restrito a um nicho do rock alternativo

Minha pergunta e de muita gente que foi ao Primavera Sound São Paulo neste ano foi: “Nossa… Slowdive?”. Não que a banda seja ruim ou não mereça. São ótimos. Mas sua música ficou armazenada na caixa da memória etiquetada com “anos 90”, em uma fita crepe. Década que viu o apogeu de um subgênero do rock alternativo chamado shoegaze.

Às vezes chamado de “dream pop”, para desespero dos puristas, o shoegaze estourou no Reino Unido com uma leva de bandas influenciadas por Cocteau Twins e The Jesus And Mary Chain. Os vocais são obscuros e processados, o som das guitarras divagado e barulheto, dando mesmo um efeito onírico ao som.

Por usarem muitos pedais de efeitos, os músicos constantemente eram vistos olhando para os próprios pés — daí veio o nome do estilo, que em português poderia ser traduzido para algo como “olhando para os sapatos”.

Além do Slowdive, bandas como Lush, Pale Saints e Ride fizeram a alegria dos alternativos por todo o mundo. Mas, de certa forma, ficou aprisionada àquela década. Até o advento do TikTok.

Os curadores do Primavera, safadinhos, sabiam de algo que nós não sabíamos: o interesse da geração Z por shoegaze cresceu imensamente nos últimos anos, conforme comprovam estatísticas do Spotify reveladas pelo Stereogum. A procura pelo gênero na plataforma cresceu 220% entre 2022 e 2023, e a Slowdive foi um justamente uma das mais ouvidas do gênero. A resposta a este renascimento das cinzas veio justamente por causa de um viral do TikTok.

Também de acordo com o Stereogum, no começo deste ano, uma adolescente americana de 18 anos gravou uma música em casa, usando apenas seu telefone celular. A música (ou a pequena parte dela disponível no TikTok) bateu quase 200 mil visualizações na plataforma e só cresceu, desde então. A ponto de a garota, chamada Wisp, mesmo tendo apenas uma única música publicada, ter assinado com a Interscope Records.

Your Face foi então lançada nas plataformas, e já bateu 30 milhões de audições. A música é boa, e agradaria aos fãs mais fundamentalistas do estilo. A artista mantém certo mistério sobre sua identidade. Não há fotos promocionais mostrando o rosto, apenas algumas montagens meio fantasmagóricas. Tem gente que acha que se trata de uma jogada de marketing de alguma grande gravadora.

Wisp

Wisp. Foto: Reprodução/Instagram

Hoje, Wisp já tem três singles oficialmente lançados. E a estética proposta no vídeo viral alimentou o interesse de outros usuários pelo estilo. Vários tiktokers começaram a produzir conteúdo utilizando, como trilha sonora, bandas clássicas do shoegaze. Soon, do My Bloody Valentine, foi uma das que ganhou milhares de audições pela garotada, graças à rede social.

Enquanto isso, o primeiro show da Wisp em toda sua vida teve todos os ingressos vendidos em menos de uma hora, nos Estados Unidos. Pois é, o shoegaze voltou com tudo!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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