Música industrial O grupo belga Front 242 é um dos mais famosos representantes da música industrial. Foto: Reprodução

O que é a música industrial, referência para o novo álbum de Lady Gaga

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Estilo, que mistura rock, música eletrônica e certo hedonismo desencantado, surgiu nos anos 70 e se desenvolveu nos 80

Lady Gaga declarou recentemente ao jornal Los Angeles Times que seu sétimo álbum, Mayhem, programado para 07 de março, tem influência da música industrial. A fala causou surpresa porque os dois singles já lançados, produzidos pelo DJ francês Gesaffelstein, não têm praticamente nada do gênero.

Die With a Smile foi lançado em agosto de 2024. Açucarado pela voz de Bruno Mars, o single, que atingiu o primeiro lugar em rankings estadunidenses, é tão distante da música industrial quanto um vegano para uma churrascaria. Disease, que veio em outubro, segue o padrão musical de Gaga. Alguma coisa na melodia e na programação eletrônica da batida, com muito esforço, pode ser associado ao cenário industrial. Isso até entrar o refrão, quando qualquer possível referência cai por água abaixo.

Mas o que é essa tal música industrial a que Gaga se refere? Surgida nos anos 70 como uma evolução de gêneros como krautrock e avant-garde, e principalmente abraçando os instrumentos eletrônicos que surgiram nessa época, a música industrial deu uma guinada nos anos 80, ao abraçar a cocaína, para a captar a essência dos anos 80, momento em que o mundo viveu assolado em crises econômicas e o fantasma da Guerra Fria.

Pessimismo, excessos, fetichismo e violência se aliaram a uma fusão agressiva do rock com a música eletrônica. Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos tomaram à frente na produção dessa nova onda musical, apesar de o gênero ter ganhado o mundo, com representantes até mesmo no Brasil. Em sua estética, vocais fantasmagóricos se alinham a batidas eletrônicas e sintetizadores rudimentares, guitarras ultraprocessadas e certo hedonismo desencantado.

O começo de tudo

Música industrial

A banda Cromagnon. Foto: Reprodução/YouTube

Embora muitos pesquisadores definam o começo da música industrial em obras lançadas nas décadas de 30 e 40, por compositores como Ferde Grophé e Dmitri Shostakovic, ou o grupo inglês AMM, o que se ouvia nesses trabalhos já foi empacotado em gêneros como música concreta e música experimental. Tratava-se realmente de experimentações com sons gravados de ambientes urbanos, como trens e fábricas. A primeira vez que a estética da música industrial, como a conhecemos hoje, foi ouvida em um disco veio com a música Caledonia, dos estadunidenses Cromagnon, lançada em 1969. Uma barulhenta e ácida perversão da cultura psicodélica do final dos anos 60, movimento em que a cultura hippie afundava após o episódio dos crimes de Charles Manson.

Na década de 70, o conceito seguiu mais para o lado do experimentalismo do que a soturna e dançante música que conhecemos. Em álbuns de grupos como a alemã Kluster e os ingleses Throbbing Gristle. Mas mesmo Frank Zappa, Cabaret Voltaire e Kraftwerk já foram incluídos na lista de, pelo menos, precursores do movimento da música industrial.

Oitentou

Música industrial

Throbbing Gristle. Foto: Reprodução/Reddit

Na virada dos anos 80, uma porção de bandas já tinha se enfiado nesse estranho subsolo pré-apocalíptico. Duas gravadoras foram importantíssimas para aglutinar a moçada: Industrial Records, nos Estados Unidos, e Wax Trax, em Chicago. Ambas foram o celeiro de bandas como Monte Cazazza, The Leather Nun e Dorothy, contando ainda dezenas de álbuns do Throbbing Gristle, fundadores da Industrial Records. A Wax Trax lançou Ministry, Front 242, Revolting Cocks, Young Gods e muitos outros, se tornando o principal bastião de cena industrial nos Estados Unidos.

Claro que a música industrial não parou nos anos 80. O movimento gera artistas até hoje e, principalmente, influenciou um monte de gente como Rammstein, Marilyn Manson, Nine Inch Nails… Ele segue entre nós!

Confira dez faixas para compreender a música industrial!

Cromagnon – Caledonia

Throbbing Gristle – Discipline

The Residents – One Minute Movies

Einsturzende Neubauten – Armenia

Swamp Terrorists – Truth Or Dare

Front 242 – Headhunter

Nitzer Ebb – Murderous

Young Gods – Skinflowers

Ministry – N.W.O.

Nine Inch Nails – Closer

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.