4 vezes em que a música eletrônica se posicionou em prol da sustentabilidade
Da lendária rave Ecosystem à recente festa-protesto do clube Abaré, passando por DGTL e o show ecológico do Massive Attack
Festas de música eletrônica. Antro de alienados, drogados e hedonistas em busca de uma fuga da vida real? Não mesmo! A cultura que nasceu metendo os dois pés na porta do conservadorismo, destruindo preconceitos e colocando no mesmo balaio ideologias até então distintas, como a cultura punk e a hippie (e mais um monte de outras coisas), raramente deixou de lado o ativismo social (e quando o fez, virou uma chata festa gentrificada). E isso também vale para a sustentabilidade!
A princípio, os clubes marginais nas áreas sujas de grandes cidade e as festas ilegais no meio do mato — leia sobre a história da house music e das raves aqui no seu MNS — batiam forte na cultura capitalista e no apagamento que a sociedade urbana dava às minorias. Clubbers e ravers entraram à força no universo dessas cidades, muitas vezes sob simpática recepção dos cassetetes, e hoje fazem parte de um movimento cultural estabelecido mundialmente.
A partir da virada do milênio, no entanto, outro tema também foi abraçado por esta horda de malucos dançantes: a iminente tragédia climática que bate à nossa porta. Assim como os grandes festivais de música, os eventos de música eletrônica estão de olho no que está acontecendo no planeta e, de certa forma, liderando ações de sustentabilidade aplicadas em seus encontros que, bom lembrar, estão sofrendo bastante nos dias que vivemos. O assunto ganhou prioridade na pauta de muitos, desde um cuidado maior com a energia limpa e a reciclagem, até mesmo o protesto clássico mesmo, com rolê feitos para chamar atenção.
Como dizem lá no antigo Twitter, segue o fio para conferir quatro exemplos expressivos de quando a música eletrônica e a sustentabilidade andaram lado a lado:
Abaré Club
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Situado em uma plataforma flutuante no rio Tarumã, o clube amazonense Abaré tinha como maior charme justamente a vista para suas belas águas. Os rios da região em sua respiração lenta e milenar tem um comportamento cíclico de cheia e seca. Mas esta ano está diferente. A Amazônia vive a maior seca dos últimos 120 anos, e até mesmo para quem está acostumado com as paisagens locais, a visão é assustadora. A onda de queimadas que assola a região só contribui para piorar o quadro. Com a intenção de chamar a atenção do país, o clube preparou uma festa de 18 horas chamada Don’t Burn Us, com a pista montada ali mesmo, no leito seco do rio. O evento rolou no último dia 20 de outubro.
Massive Attack
Ativistas ambientais há muito tempo, os ingleses do Massive Attack tiveram a ideia de levar no peito a criação de um megashow para se tornar referência mundial em sustentabilidade. O grupo se uniu à cientista climática Carly McLachlan para desenhar um evento modelo, tanto que disponibilizou todo o planejamento para qualquer um que quiser copiar suas ideias, em um guia chamado Act 1.5 Climate Action Accelerator.
No festival, tudo foi pensado para reduzir ao mínimo o combustível fóssil. Desde geradores de energia até caminhões (todos elétricos), automóveis para deslocamento dos artistas e sistemas de mobilidade para que o público não vá de carro. Um sistema de redução de lixo também foi colado em prática, de forma que, ao final do festival, os próprios frequentadores entreguem o espaço tão limpo quanto encontraram. O show rolou na cidade natal do Massive Attack, Bristol. Leia mais sobre aqui.
DGTL
O festival holandês de house e techno (com filial em São Paulo) vem adotando a sustentabilidade como assunto prioritário. A ponto de, como rolou na edição de 2024 aqui no Brasil, montar uma diretoria exclusiva para cuidar do assunto. O DGTL adotou o conceito de consumo circular. Todo o necessário para realizar o evento recebe sua atenção até o momento em que é reciclado, processado ou destinado. Em Amsterdã, a label já conseguiu a façanha de ser 100% circular ou seja, nenhum parafuso é deixado de lado quando termina a festa. A meta, para São Paulo, é chegar na mesma marca. Leia mais sobre aqui.
Ecosystem
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Quando a música eletrônica tomou conta do planeta com grandes eventos, um casal teve a ideia de aproveitar o buzz para voltar os olhos do mundo para Amazônia, em 2001. Ligados à cena de drum’n’bass (outra gema brasileira com impacto mundial, além da Floresta), Ruth Slinger e o DJ Soul Slinger organizaram a Ecosystem, com apoio do governo amazonense e consultoria do Greenpeace. O rolê foi considerado o primeiro festival de música eletrônica ecológico do mundo.