Wolfgang Flür aproveita-se de toda sua influência para reunir um timaço em novo disco, com lançamento marcado para setembro
Fico eu, aqui, imaginando… Uma sala de estúdio lá para os lados de Düsseldorf, na Alemanha. Wolfgang Flür, ex-integrante da mais importante banda do país — Kraftwerk —, alicerce da música eletrônica, sentado na cadeira giratória em frente à mesa de som. Vira-se então para Juan Atkins, um dos pais do techno, e lhe fala: “rapaz, comecei este som, aqui. O que você acha?”.
Atkins atesta a qualidade da ideia musical, apenas com um aceno de cabeça. Pluga sua bateria eletrônica e começa a bolar uns batidas, em cima do rascunho original de Flür.
“Ficou bom isso aí” — comenta Peter Hook, ex-New Order, no outro canto da sala, com sua caneca de café. Toma algum instrumento e improvisa algo em cima. Logo, no outro canto da sala, o cofundador do Daft Punk, Thomas Bangalter se empolga: “uau! Vou pegar meu sintetizador no porta malas do carro!”.
Tudo bem, tudo bem… Hoje em dia, as colaborações musicais não funcionam dessa forma. Com o avanço das tecnologias de produção, as colaborações podem ser feitas online, cada um em seu estúdio. Os softwares fazedores de música já permitem composições colaborativas, cada qual em seu canto do mundo.
Mas isso não importa. Em presença física ou “em espírito”, imaginar um álbum que reúne esse tipo de gente (e mais a banda de dance music U96, de Frankfurt) dá arrepios na espinha. Inovadores, talentosos e, principalmente, históricos, esses músicos aí estão compondo um novo álbum, com lançamento marcado para setembro de 2024.
Foi isso que Wolfgang Flür, com a costumeira frieza kraftwerkiana, divulgou há poucos dias, em entrevista para a revista Blick. Time, novo disco solo do compositor, chega para o mundo dois anos após seu antecessor, Magazine 1.
Flür, papai coruja, acompanhou os passos dos filhos que ajudou a conceber. Seu último disco já teve participações de Peter Hook e Juan Atkins, além do super DJ de techno Carl Cox. Fez a correta leitura dos galhos que cresceram a partir do tronco Kraftwerk. O synth-pop, de New Order, para o leste, voltado ao nascer do sol, e o techno — trilha sonora das cidades distópicas —, de Atkins e Cox, para o lado oposto. Dois dentre tantos outros galhos musicais que surgiram a partir do trabalho do quarteto alemão que ajudou a consolidar.
O músico entrou no Kraftwerk três anos após sua fundação, ainda quando o grupo fazia a transição entre o Kraut Rock e a música eltetrônica. Pode ser considerado, portanto, como um fundador do grupo. Integra a chamada formação clássica, ao lado de Ralf Hütter, Florian Schneider e Karl Bartos.
Bartos, responsável pela percussão eletrônica do lendário grupo, também se relacionou sem neuras com as gerações posteriores da música de pista, lançando excelentes álbuns de electro, subgênero quebradão do techno.
Flür não adiantou se o álbum será precedido por singles. Seria provável, tratando-se de qualquer outro músico do planeta. Mas quando se trata de alguém da escola Kraftwerk, espera-se que as tais “estratégias de promoção” comuns no mercado musical sejam subvertidas.
É assim que eles fazem.