Mau Maioli Mau Maioli – foto: divulgação

“Vibes, feelings, beats de Indie Dance” – a análise de Mau Maioli em seu álbum “Where Go”

Music Non Stop
Por Music Non Stop

Disco de estreia do DJ e produtor conta com participação de Lapax, Vasconcellos e Aryela

Texto de Rodrigo Airaf

Por mais controversos que possam ser alguns aspectos da figura de Freud na atualidade, é notável que o precursor da psicanálise tenha questionado tão amplamente a ideia equivocada de que nossas ações e razões de ser seriam quase estritamente práticas ou racionais. Ao investigar a psique humana, Sigmund foi capaz de chafurdar os enigmas da experiência de estar vivo e transportar, através da interpretação, tais razões do inconsciente (o “id” e o “superego”) para o consciente (o “ego”).

Como bem resumiu o Toda Matéria, “a neurose é uma forma que o inconsciente encontra para lidar com traumas e conflitos. A partir da impossibilidade de lidar com esses eventos, a mente produz efeitos observáveis que influenciam em maior ou menor grau a vida dos indivíduos”. É mais ou menos esse o pacote sonoro de viagem que Mau Maioli demonstra em seu álbum debut, “Where Go”, lançado pela Levels Rec, selo da super-festa porto-alegrense onde ele participa como residente há um bom tempo.

Jogando luz em algumas das neuroses que influenciam nossa vida, o DJ e produtor gaúcho aproveita para reafirmar seu potencial criativo. Quem ganha somos nós, clubbers, que podemos curtir a jornada através de boas doses de Indie Dance, Disco e House; tudo em roupagem meio retrofuturista, meio nostálgica, com arranjos hipnóticos crus e, por vezes, até um pouco melancólicos, algo que já faz parte da faceta identitária de Maioli e da instrumentação livre e singular que ele implementa em sua música.

 

 

DANCE MUSIC CONTEMPLATIVA, POR QUE NÃO?

Em tom equilibrado entre o pessoal e o debatedor, Maioli traz muita sensibilidade neste projeto, mas sem presunção ou pedância. “O álbum começou com um questionamento de aonde eu queria ir. Através disso, comecei a encontrar internamente o meu caminho e decidi abordar problemas psicológicos que poderiam, eventualmente, me afetar. Com isso, poderia também ajudar pessoas que estariam passando por isso”, ele comenta.

O storytelling de Mau Maioli teve explicação em sua divulgação nas redes sociais, o que reforça a sua intenção de trazer algo para além do dançante, algo que unisse o impulso do movimento a provocações pertinentes à nossa consciência. Deu certo; em reconhecimento aos pensamentos que frequentemente se instauram e se confundem na nossa mente, ele abre “Where Go” com uma introdução lenta, introspectiva e polida, “Brain Voices”.

PICOS E VALES, NÉ, MINHA FILHA? 

O primeiro momento de tensão do álbum se dá com a ambiência abafada e oitentista de “Hands”, trazendo breaks apoteóticos e menção clara à Italo Disco. Em seguida, a parceria com Lapax, “Nostalgic Beings”, é fogo! Ela empresta sua colaboração na produção, sua voz e suas lyrics para a vibe nostálgica da faixa. ‘O que a música diz? o que a música te faz fazer? Tenho que voltar; acho que estou apenas sendo nostálgica”, canta, em inglês.

O caminho foi, então, pavimentado para a faixa-título do álbum, “Where Go”. Timidez não coube aqui para Mau Maioli; ele colocou sua voz em meio ao semblante melodioso da track. ‘Deixe para lá, apenas viva’, ele canta resumidamente a ideia do álbum, antes de dar lugar à convergência musical poderosa com Vasconcellos, “Strings of Hope”, que evoca o feeling de pista, a drum machine Roland TR‑808 e uma disposição maneiríssima de notas de cordas à la Underground Resistance.

A terceira parte do álbum é a mais agitada. Maioli dá início à sequência que sugere a esperança como a ignição do projeto, o pensamento que se pretende gerar quando o play acaba. Primeiro, a orquestral e enérgica “Process”; depois, a mais profunda parceria do projeto até então, “Lonely Game”, ao lado de Aryela – as letras trazem uma pegada reflexiva, aproveite. Por fim, “Burnout” chega para finalizar a conceituação de “Where Go”.

COOL MESMO É TER A TERAPIA EM DIA 

“Where Go” é uma abordagem dance e otimista do que se fala muito hoje em dia, o tal do “processo”. O convite, no geral, é para que cada um respeite, acolha e, se possível, domine, através da consciência, as neuroses que se escondem na inconsciência. Com batidas gostosas de ouvir, colaborações interessantes e um toque de autenticidade, “Where Go” vem pra dizer: cuide de você, tem muito mais pra viver 🙂