História do Oscar. As trilhas sonoras que “grudaram na mente” e se tornaram tão inesquecíveis quanto seus filmes.
Impossível separar a trilha sonora de alguns filmes dos mesmos, ou até imaginá-los sem as músicas que dão o impacto, a emoção e a intensidade à cena.
Algumas trilhas sonoras são tão marcantes que ao ouvi-las, imediatamente nos vem determinada produção à mente, e com a chegada do Oscar 2021, nada melhor do que comentarmos sobre as grandes trilhas que marcaram e ganharam prêmios da Academia.
Antes mesmo de haver diálogos no cinema, a música já estava presente, para suprir a carência de som, orquestras inteiras ou pianistas acompanhavam as cenas traduzindo seus sentimentos com improvisações, tocando peças conhecidas na época, com as quais já tinham familiaridade, ou executando músicas previamente ensaiadas, que eram pré selecionadas pelos distribuidores do filme.
Em 1908, a primeira trilha sonora original é composta por Camille Saint-Saëns, especialmente para o filme mudo francês “O assassinato do Duque de Guise”, dirigido por Charles Le Bargy e André Calmettes.
No final da década de 1920, os irmãos Warner criaram a tecnologia Vitaphone, aparelho de sistema muito complexo e caro, que foi utilizado por apenas 4 anos, mas permitiu sincronizar voz e a música à película. O Cantor de Jazz, 1927, dirigido por Alan Crosland, um marco na história do cinema, ganhou a fama de primeiro filme falado, usando a tecnologia Warner. O filme Don Juan, de 1926, já havia usado o Vitaphone, mas O Cantor de Jazz o fez de forma tão envolvente e marcante, que acabou por ganhar a alcunha de primeiro, apesar de não ter sido. “Espere um minuto, espere um minuto, você ainda não ouviu nada”, de O Cantor de Jazz, é considerada a primeira frase falada da história do cinema.
Em 1933, Max Steiner, considerado o “pai da música de cinema”, leva o método que Richard Wagner utilizava em suas óperas, de associar uma música à determinada personagem ou cena, o Leitmotiv, ao filme King Kong, primeiro da história a ter uma partitura totalmente original, composta especificamente para um filme e um personagem, a partir daí os produtores começaram obter controle total sobre como o público deveria reagir. Steiner compôs mais de 300 grandíssimas trilhas para grandes produções e foi indicado ao Oscar 24 vezes, vencendo em The Informer (1935), Estranha Passageira (1942), e Since You Went Away (1944). Uma de suas composições mais famosas é a do clássico Casablanca (1942), com direção de Michael Curtiz, estrelado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.
O Oscar nasceu em 1929, na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, criada em 1927, quando grandes nomes do cinema americano resolveram se unir para administrar a imagem de Hollywood.
A primeira cerimônia foi realizada em 16 de maio de 1929 e premiou os melhores filmes de 1927 e 1928. A categoria “melhor canção original” só foi apresentada em 1934, sendo os vencedores Herb Magidson e Conrado, com a música The Continental, composta para o filme A Alegre Divorciada, direção de Mark Sandrich e estrelado por Ginger Rogers e Fred Astaire. Histórias contam que a categoria foi inventada para homenagear a dupla Rogers e Astaire produziram dois vencedores e quatro indicados nesta primeira década da categoria, incluindo The Way you Look Tonight, de Dorothy Fields e Jerome Kern para o filme Swing Time, de 1936.
Muitas críticas permeiam a categoria, acusada por muitos de ter como parâmetro para a votação simplesmente o objetivo de atrair mais estrelas pop para a cerimônia para aumentar as avaliações do que premiar legitimamente os melhores. Ennio Morricone, por exemplo, foi indicado 5 vezes (“Dias do Paraíso”, “A Missão”, “Os Intocáveis”, “Bugsy” e “Malena”), com 500 filmes no currículo, foi premiado pelo conjunto da obra em 2007, mas só recebeu um Oscar em 2015, pela trilha de “Os oito odiados”, dirigido por Quentin Tarantino e foi aplaudido de pé, por uma plateia ávida pela reparação dessa injustiça.
Na década de 1950 Frank Sinatra foi destaque, vencedor com as canções All the Way em “The Joker Is Wild” (1957), High Hopes em “A Hole in the Head” (1959), compostas por Sammy Cahn e Jimmy Van Heusen, além de levar a estatueta de melhor ator coadjuvante para casa por sua atuação em “A Um Passo da Eternidade” (1953). As músicas de Sammy Cahn foram indicadas 26 vezes ao prêmio, tendo conquistado 4 vezes a estatueta, fazem parte da lista de mais premiados também os compositores Johnny Mercer, com 18 indicações e 4 prêmios, e Henri Mancini, com 11 indicações e 2 prêmios.
Uma das trilhas sonoras mais icônicas é a do filme “Psicose” de Alfred Hitchcock (1960), composta por Bernard Herrmann, apesar de o longa não ter sido indicado nas categorias trilha ou canção, mudou a maneira de fazer terror e influência diretores até hoje. O pré lançamento foi exibido sem a clássica sequência tensa de violinos e não causou grande impacto, mas na estreia, já com a cena acompanhada desse clássico leitmotiv, a reação do público foi de pânico e algumas pessoas passaram mal e tiveram que se retirar da sala. Apesar de Herrmann ter composto várias trilhas de sucesso para o cinema (Cidadão Kane, 1941; Taxi Driver ,1976; Cabo do Medo, 1991, entre outros), nenhuma é tão famosa quanto a de Psicose e como o próprio filme, a trilha foi amplamente imitada.
Tubarão, de Steven Spielberg, 1975, que levou, entre outros, o prêmio de melhor trilha da Academia, é uma ótima referência da influência de Psicose. Criada por John Williams, outro importantíssimo compositor de filmes como Superman, A Lista de Schindler, as sagas Star Wars, Indiana Jones, e inúmeros outros). São duas notas dominantes que se tornaram sinônimo de perigo e são capazes de causar o terror que as cenas pedem.
Hoje em dia os Oscars destinados à música são divididos em 2 categorias: Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original. Outros grandes nomes que já ganharam a estatueta banhada a ouro foram Isaac Hayes, com o tema de Shaft (1970), A canção Let it Be, dos Beatles, do filme homônimo, levou a premiação de canção original em 1971. Stevie Wonder com I just called to say I love you, tema de A Dama de Vermelho (1984), Lionel Richie com Say you, Say Me, de O sol da meia noite (1985), Phil Collins, com Can You Feel The Love Tonight, interpretada por ele e escrita por Tim Rice para o filme O Rei Leão.
Nasce uma estrela, produzido 4 vezes por Hollywood, abocanhou duas vezes o Oscar de melhor canção, com Barbra Streisand em 1977, cantando Evergreen, e recentemente com Lady Gaga, com Shallow, em 2019.
Cientistas de uma Universidade na Califórnia, fizeram pesquisas para entender a importância e o impacto da música no cinema e depois de analisar mais de 120 filmes, chegaram a conclusão que em filmes de terror a imitação de gritos femininos e sons de animais, além das mudanças bruscas de sons e notas distorcidas nos dão a sensação de tensão e elevam o impacto, já nos filmes dramáticos, os sons lineares e fluidos ajudam a causar emoção e comover.
São inúmeras trilhas e músicas importantes, históricas e marcantes, impossível citar todas neste texto, este pequeno resumo em homenagem à uma das categorias mais importantes de premiações e da construção de obras da sétima arte, muitas que transpuseram o cinema, como os Bee Gees, que impulsionaram os passos de John Travolta, em Embalos de Sábado à noite, que não concorreram ao Oscar, mas ditaram moda e influenciaram toda uma geração, ou você consegue imaginar Olimpíadas sem a música composta por Vangelis, para Carruagens de Fogo?
Este ano os indicados são muitos, mas a torcida desta que vos escreve vai para o teatral e poético filme A voz suprema do blues, que retrata uma tarde de calor e gravações em um estúdio, em meio ao racismo e a personalidade forte de Ma Rainey, a “mãe do blues”. Com a póstuma indicação de Chadwick Boseman a melhor ator e Viola Davis a atriz, a obra quebra marcas ao ser o filme de música com mais indicações. Na categoria melhor trilha, está a lindíssima e tocante animação Soul, com consultoria de Herbie Hancock e composições originais do expoente do jazz atual Jon Batiste, em parceria com Trent Reznor e Atticus Ross é minha grande aposta.
Um salve à música e sua imensa importância em nossa vida e ao cinema, e vamos aguardar, ansiosamente, pelos resultados revelados após a iconica frase: “ And The Oscar goes To…”