The Prodigy @ Moscou Foto: Reprodução/YouTube

O dia em que The Prodigy ‘incendiou’ a Praça Vermelha, em Moscou

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Em 22 de janeiro de 1997, o icônico grupo inglês protagonizou um dos maiores shows da história da capital russa

“Punks, ravers, pais com os filhos, rappers, todo mundo pulando, cantando junto e dançando”, contou Sergei Chernyshev ao jornal Moscow Times, em 2015. Aos 14 anos, o garoto foi levado pela mãe ao show do The Prodigy na Praça Vermelha, sabendo que o filho estava apaixonado por um banda que virava a Europa de ponta cabeça, unindo punks e ravers — e que sequer havia lançado seu álbum de estreia.

O que Sergei testemunhou naquela data foi um dos mais históricos eventos de Moscou, uma catarse que só foi possível graças à transição administrativa que acontecia em seu país. A União Soviética estava indo para o armário, enquanto a nova Rússia ainda procurava entender como lidaria com a invasão cultural vinda do oeste.

O show da banda inglesa liderada por Keith Flint juntou nada menos do que 200 mil pessoas para assisti-la gratuitamente na noite de 22 janeiro de 1997. O LP que cimentou a banda no cenário da música ainda não havia saído (The Fat of the Land chegou às lojas somente em junho), mas o spoiler já estava dado: os gigantescos hits mundiais do grupo já haviam sido lançados em formato de single e videoclipe. Firestarter em março de 1996, e Breathe em junho.

Não foi a primeira visita de um artista internacional à capital russa. Grupos como Aerosmith, AC/DC e Michael Jackson saíram na frente na invasão, aproveitando a queda da Cortina de Ferro. Mas havia algo de diferente ali. Os russos estavam curiosos para ver um grupo na crista da onda com seu punk eletrônico altamente subversivo.

Para se ter uma ideia, a apresentação do Prodigy no clássico programa de TV britânico Top Of The Pops gerou um número recorde de reclamação nos canais de atendimento da emissora, a BBC. Pais enfurecidos disseram que “seus filhos ficaram apavorados” com o vocalista “demente” e “claramente instável”. Os moscovitas, naquela noite, se sentiram modernos, antenados e principalmente no mesmo patamar do resto do mundo, vendo os caras que faziam uma eletrônica rasgante e subversiva.

Ninguém esperava um sucesso daquele tamanho em Moscou. Nem o grupo, nem os produtores, nem o público e nem a polícia. Vários incidentes foram registrados, desde episódios de violência policial desesperada (ninguém sabia lidar com aquilo), até a morte de um garoto de 17 anos, pisoteado pela multidão na dispersão do show. Para quem não viveu esses tristes momentos, ficou a sensação de ter participado de um episódio histórico na vida musical russa. O dia em que os incendiários The Prodigy meteram fogo na Praça Vermelha, ícone turístico de Moscou.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.