De Beethoven a Black Coffee: 8 exemplos de superação na música
A partir do aniversário da tragédia com o baterista do Def Leppard, lembramos de outros artistas que triunfaram após acidentes graves
No último dia de 1984 — ou seja, há exatos 40 anos —, a vida de Rick Allen, baterista da banda Def Leppard, virou de ponta cabeça, junto com o Corvette que dirigia na rodovia A57, a Snake Pass Road, em Sheffield, na Inglaterra. Com a violência do impacto, o baterista perdeu seu braço inteiro. Médicos conseguiram reimplantá-lo, dias mais tarde, ao corpo do baterista, mas tiveram que amputá-lo após uma infecção.
Muita coisa passou pela cabeça do baterista naquele Réveillon. Menos a de deixar sua grande paixão, a música. Em conjunto com a marca Simmons, o músico desenvolveu um instrumento customizado, de forma que pudesse seguir tocando com o Def Leppard usando somente as pernas e o braço direito. A tragédia o transformou em um exemplo de superação e amor à música. O disco seguinte, Hysteria, lançado em 1987, foi o maior sucesso da história da banda, emplacando nada menos do que sete hits nas paradas de sucesso.
Exemplos como o de Allen faz com que reflitamos sobre nossa própria vida. Para os que não passaram por uma tragédia tão impactante, lembrar do que aconteceu com o músico nos faz questionar se não estamos reclamando demais por problemas pequenos, ou até mesmo desistindo muito facilmente das coisas. Aos que experimentaram tamanha tragédia, a lição de que é possível continuar, às vezes melhor do que antes.
No mundo da música, Rick Allen não foi o único a nos mostrar que o amor pelo que se faz nos transforma em pessoas muito mais fortes do que acreditamos ser. Confira outros sete grandes histórias de superação no mundo da música!
Ludwig van Beethoven
O compositor e pianista alemão começou a sentir que sua audição estava estranha ao 28 anos de idade. A coisa foi piorando gradativamente até que, aos 45, estava completamente surdo. O que Beethoven fez, após se ligar que não poderia mais escutar a música que sempre foi a grande paixão e o sustento de sua vida? Compôs uma sinfonia inteira sem poder ouvir uma só nota, apenas confiando na memória musical.
A obra, a Nona Sinfonia, se tornou sua maior, durante o momento de sua vida que foi depois definido pelos biógrafos como “a fase heróica”. Claro que não foi fácil. Em 1802, ainda quando tinha alguma esperança de recuperação, Beethoven escreveu aos irmãos a carta que ficou conhecida como o Testamento de Heiligenstadt, na qual falava sobre seus pensamentos em suicídio e a resolução em continuar tentando.
Django Reinhardt
Quando se ouve um dos mais fantásticos violonistas de jazz de todos os tempos, Django Reinhardt, mal se pode imaginar que o estilo de tocar que o tornou famoso, conhecido como gipsy jazz, foi inventado depois que ele perdeu os movimentos de dois dedos da mão esquerda, após um incêndio que quase o matou.
Django já tocava (e muito bem) violão, ao lado do irmão, quando envolveu-se no acidente que lhe custou, além do movimento dos dedos, quase uma amputação na perna. O músico estava na carroça em que vivia com sua esposa, em um acampamento cigano, quando derrubou uma vela sobre uma caixa de celulose que sua mulher usava para fabricar flores artificiais artesanais. Com a ajuda do irmão, adaptou o violão de uma forma que pudesse tocar usando apenas os dedos indicador e o médio, criando um estilo único que o tornaria famoso no mundo todo.
Herbert Vianna
Assim como Rick Allen, o guitarrista e vocalista dos Paralamas do Sucesso já tinha uma carreira de sucesso grande quando uma gigantesca tragédia mudou sua vida. Em 2001, o músico se envolveu em acidente com o ultraleve que pilotava na praia de Mangaratiba/RJ. Sua esposa faleceu e Vianna ficou gravemente ferido, tornando-se paraplégico. O músico também perdeu a memória. No hospital, só conseguia se comunicar com os médicos em inglês e francês, tendo esquecido completamente o idioma nativo, que foi sendo recuperado aos poucos, meses depois.
Após uma longa recuperação, Herbet Vianna voltou aos palcos readaptando seu jeito de cantar às limitações causadas pelo acidente, gravou mais quatro álbuns de estúdio e três ao vivo com os Paralamas. A banda segue ativa, se apresentando nos palcos até hoje.
Joni Mitchell
Em 2015, um aneurisma cerebral acabaria com a carreira da rainha folk canadense Joni Mitchell. Só esqueceram de avisar para ela. Após sete anos de recuperação, Mitchell protagonizou um retorno triunfante aos palcos em 2022, aparecendo de surpresa no Newport Folk Festival. Foi uma catarse. Afinal, era o seu primeiro show inteiro em 24 anos! A performance foi tão impactante que virou um disco ao vivo, At Newport, lançado um ano depois.
Teddy Pendergrass
O cantor estadunidense Teddy Pendergrass nasceu de novo após um violento acidente de carro em 1982, que o paralisou do pescoço para baixo. Deixar a música? Nem pensar. O cantor dos Blue Notes, responsável por nada menos do que cinco discos de platina, seguiu nos palcos até 2007, três anos antes de sua morte por insuficiência respiratória, pilotando sua cadeira de rodas (e sua voz única) nos palcos de todo o mundo. Contando somente a vida pós-acidente, Pendergrass lançou oito álbuns de estúdio e ganhou três Grammys.
TOKiMONSTA
A produtora e DJ californiana Jeniffer Lee, mais conhecida como TOKiMONSTA, se apresentou no festival Coachella apenas três meses após passar por uma cirurgia no cérebro, enfrentando inclusive as recomedançoes de seu médico. A artista tomou um susto bem no meio de uma próspera carreira. Foi diagnosticada com uma doença rara que dificultava a circulação sanguínea no cérebro, órgão responsável por tudo o que a DJ havia conseguido na vida artística até 2016, o fatídico ano da operação. A artista já lançou seis álbuns em sua carreira, metade deles após a cirurgia.
Black Coffee
11 de fevereiro de 1990, para os sul-africanos, é o dia em que Nelson Mandela foi finalmente colocado em liberdade. Para o DJ e produtor musical, Black Coffee, no entanto, ainda em início de carreira, era uma lembrança ruim.
“Eu costumava odiar esse dia… Todo ano ficava deprimido. Mas trilhei um longo caminho desde então, e aprendi muito sobre mim mesmo. Hoje eu celebro esse dia, porque mudou minha vida. Por causa dele, eu aprendi a superar meus limites e a trabalhar o dobro para realizar meus sonhos na música”, escreveu Black Coffee em seu Instagram, falando sobre o acidente que rompeu nervos fundamentais em seu ombro esquerdo e o fez perder, para sempre, os movimentos do braço.
Foi a partir desse momento que Nkosinathi Innocent Maphumulo começou a engrenar na carreira que o tornaria um dos mais talentosos e requisitados DJs e produtores de sua geração.