Shakira Hips Don't Lie Imagem: Reprodução/YouTube

Como “Hips Don’t Lie”, de Shakira, inovou na indústria musical há 18 anos

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Composto em parceria com Wycleaf Jean, single vendeu dois milhões de downloads para celulares

O ano era o de 2006. Artistas e gravadoras buscavam compreender como é que iriam repor as perdas financeiras, já que o mercado de CDs ia à bancarrota, graças ao formato MP3. No lugar de mídias físicas, os consumidores agora baixavam os arquivos digitais para ouvirem em seus computadores e tocadores portáteis, como o iPod. A internet de banda larga já era uma realidade nas residências, e os celulares evoluíam a passos largos.

Shakira estava pronta para trazer seu novo single, Hips Don’t Lie, escrito e gravado ao lado de Wycleaf Jean (ex-Fugees). A canção seria o segundo aperitivo servido ao público de seu sétimo álbum, Oral Fixation, Vol. 2, lançado em novembro do ano anterior. A artista, então, teve a ideia de adicionar um tempero extra: ser a pioneira em uma nova forma de vender downloads, para servir como ringtones de celular.

A estratégia foi um sucesso. A partir de 19 de março de 2006, mais de duas milhões de pessoas pagaram para ter, em seu toque de chamada no telefone, a nova música da cantora. A boa receptividade não veio só desta plataforma. As vendas de download para tocadores como o iPod bateram quatro milhões rapidamente, e o single atingiu recordes de aceitação nas rádios americanas, tocando por quase dez mil vezes em apenas uma semana.

A colombiana mostrou aos seus colegas que havia uma nova forma de fazer uma grana com a música — pelo menos, aos nomes mais famosos. Tudo estava meio nebuloso na época. Ninguém sabia como e quanto as pessoas estavam dispostas a pagar por uma faixa com aquela nova realidade digital. Era um momento de experimentação.

No ano seguinte, o Radiohead lançou seu álbum In Rainbows exclusivamente através de um website especial, onde os fãs definiam o preço que queriam pagar por ele, a partir de uma libra. A estratégia foi um sucesso. A imensa maioria decidiu pagar muito mais do que o mínimo, e a banda criou uma relação de cumplicidade com seu público, arrecadando milhões, sem intermediários.

Mas voltando à Shakira, sua estratégia inovadora jogou Hips Don’t Lie em um círculo virtuoso de sucesso. Os ringtones espalhados por milhões de celulares promoveram ainda mais a canção, que tocou mais em rádios, viralizou no YouTube e vendeu mais downloads.

Ninguém sabia, até então, que os serviços de streaming chegariam logo logo aos telefones e computadores de todas as pessoas, matando no berço o mercado de downloads, a partir de 2010, nos Estados Unidos.

A estrela pop saiu na frente, e ganhou uma bela grana com isso. Hips Don’t Lie ficou em primeiro lugar nos charts do Reino Unido e dos Estados Unidos. No Brasil, alcançou a oitava posição!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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