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São Paulo 470 anos: veja 5 locais responsáveis por revoluções culturais na cidade

Prédios, praças e ruas juntaram uma porção de gente criativa e realizaram momentos de pura efervescência cultural na capital paulista

Na hora certa, no lugar certo. Expressão super batida, mas que tem sua precisão. Na flutuação intelectual coletiva de uma metrópole, às vezes energia criativa se estanca, como a água que se acumula à parte da correnteza em uma curva de rio, em pontos obscuros da cidade. Ali, as ideias fermentam e a criatividade ébria (sempre ébria) escorre por suas ruas, espalhando música e poesia nova pelo resto da cidade, para outras cidades, para o mundo todo.

Gigantesca, multicultural e caótica, prolífica em becos esquecidos e centenários, a aniversariante do dia, São Paulo, coleciona exemplos de momentos e lugares que, conjugados, entraram para a história. Reconhecê-los, às vezes, demanda o distanciamento do tempo. E chega até a doer um pouquinho. Despender a atenção em um texto como este, que você lê agora, traz aquela sensação de “diaxo, por que é que eu não estava lá?”.

Pouca banana e muito samba

Foto: Reprodução/Prefeitura de SP

No século XIX, a Barra Funda era uma região considerada distante do centro de São Paulo. Próximo de onde, hoje, é o terminal que interliga CPTM, Metrô e ônibus, fica o Largo da Banana. O local ganhou seu nome porque era ali que chegava, diariamente, os carregamentos da fruta que depois seria distribuída pelas quitandas da cidade.

Os trabalhadores escravos que traziam os carregamentos ficavam no largo aguardando a volta para o interior, depois de entregar as cargas. Ali, se encontravam com outros negros, que cumpriam funções como ensacadores e carregadores. Dormir, que nada. Era uma rara folga disponível, longe de casa, propícia para cair na gandaia. No Largo da Banana, com suas festas intermináveis, foi forjado o chamado Samba Paulista, tocado com tambores e reco-recos feitos de bambú.

Tudo o que conhecemos, quando se fala de samba em São Paulo (de Adoniran Barboza a Geraldo Filme e Tiririca), tem um pouco de banana em sua receita.

Um Chelsea Hotel para chamar de nosso

Imagem: saopauloantiga.com.br/Reprodução

Na época dos grandes festivais de música da TV Record, o Hotel Danúbio, na Av. Brigadeiro Luiz Antônio, era o lugar para estar. Seus salões eram tomados por artistas, produtores e intelectuais, que chegavam à cidade para participar dos festivais. O burburinho acabava se estendendo por todo o ano. Nana Caymmi e Gilberto Gil chegaram a morar em seus apartamentos.

Ponto dos mais luxuosos da cidade (a ponto de ter uma terma em suas instalações), o hotel inaugurado em 1955 coleciona história de loucuras e grandes reuniões do pessoal das artes. Foi perdendo seu charme com o crescimento da cidade, até ser desativado em 2006.

Mas os fantasmas da músicas sempre circularam pelo Danúbio. Tanto que, nos anos 90, o espaço onde funcionava sua luxuosa terma se transformou em um dos mais icônicos clubes brasileiros, o BASE, um dos pioneiros na propagação da música eletrônica no Brasil.

A Metrópole da metrópole

Foto: Divulgação

A imponente e charmosa Galeria Metrópole, na Praça José Gaspar, com desenhos modernistas charmosos, foi invadida pela juventude psicodélica paulistana, atraída principalmente pela magnética figura de Antonio Peticov, principal articulador cultural do mundo da música no final dos anos 60, apesar de ser artista plásticos dos bons.

Peticov trabalhava em uma loja chamada Ponto De Encontro, misto de loja de discos, galeria de arte e casa de chá (hmmmmmm). O corredor em frente à loja ficava lotado de gente se conhecendo, trocando e ideias e inventando projetos. Caetano, Gil, Os Mutantes, beatniks e artistas de todas as linguagens se encontravam por lá. A lua de mel com a galeria durou até a prisão de Peticov, a primeira por porte de LSD no Brasil.

Revolução no porão

Foto: Calil Neto/Reprodução

Quem passeia pela praça Benedito Calixto atrás de uma luminária cool ou um candelabro antigo não imagina que está passando em frente ao local onde funcionou o mais revolucionário teatro da cidade, o Lira Paulistana — um porão com 150 lugares, que também funcionava como gráfica, editora de quadrinhos e livros subversivos, além de selo fonográfico.

O Lira Paulistana (nome surrupiado da obra homônima de Mario de Andrade) foi a casa da Vanguarda Paulista, grupo de mentes brilhantes formado por Ná Ozzetti, Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção. Todo mundo que fazia algo diferente e indigesto na arte andava por lá. Foi em seu porão que surgiu, a partir de 1979, grupos como Língua de Trapo, Premenditando o Breque e Rumo. Tá bom pra você?

Calma que ainda tem mais. Na segunda metade dos anos 80, já em seus últimos meses de vida, o Lira ainda germinou a nata do pós-punk paulistano, com grupos com o Ira!, Titãs e Violeta de Outono.

O Lira fechou suas portas em 1986.

Altos e baixos da Augusta

Foto: Reprodução/UOL

Partindo do rico Jardim Europa, subindo até cruzar a Av. Paulista e descendo ao coração do centro de São Paulo, a Rua Augusta sempre foi viva, no que diz respeito às transformações culturais da cidade.

Nos tempos da Jovem Guarda, nos anos 60, era ponto de encontro de playboys e seus rachas de carro. “Desci a Rua Augusta a 120 por hora”, cantava Eduardo Araújo, que nem paulista era. Na chamada “Alta Augusta”, pedaço que ruma, a partir da Av. Paulista, para o lado rico da cidade, lojas de disco e de roupas atraiam a juventude em busca de novidades.

Nos anos 90, a Galeria Ouro Fino, então caidinha, recebeu um monte de lojas voltadas para a cultura eletrônica. Estúdios de tatoos, lojas de marcas como AMP e Herchcovitch, a Techno Records, que abastecia muitos DJs da cidade… A Ouro Fino, e as dezenas de lojas que abriram em seu entorno, eram voltadas para o público que se formava em torno dessas festas.

A rua também era o ponto principal de distribuição dos flyers, as lindas (e colecionáveis) filipetas que divulgavam data, hora e local dos encontros. O Hell’s Club, icônico after-hours de techno, pioneiro da cena brasileira, era um pouco mais para baixo, na esquina com a Estados Unidos.

Nos anos 2000, o club Vegas, de Facundo Guerra, inaugurava uma nova era, agora no Baixo Augusta, então dominado por prostíbulos e botecos para corajosos. Em sua esteira, surgiram outros clubs, casas noturnas e bares descolados, transformando a rua em um passeio para a galera do rock alternativo na cidade. A rua ficava movimentada todos os dias da semana na alta madrugada. O fervo era tanto, que bandas de outros estados se mudavam para o arredores do Baixo Augusta, só para ficar mais perto do lugar onde tudo acontecia.

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