MØND Edição de Réveillon da MØND. Foto: Japa Clicks/Divulgação

Com festão no Réveillon, filho do dono de Hell’s Club e Base mantém vivo o legado do pai

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Lucca Salvatore fala sobre a influência de Ângelo Leuzzi em sua festa MØND, que terá edição especial na virada do ano, em São Paulo

O DJ e produtor Lucca Salvatore Leuzzi, hoje com 30 anos, literalmente foi criado nas pistas de dança. “Cresci no meio das obras dos clubes que meu pai abria”, conta em entrevista ao Music Non Stop, às vésperas da edição de réveillon de sua festa MØND, no Central 1926, em São Paulo.

Lucca é filho de Ângelo Leuzzi, um dos maiores propagadores da cultura clubber brasileira. Incansável, Leuzzi era um criador de casas noturnas. Mas não as comuns. Pela sua veia, São Paulo teve acesso à estética e ao formato dos grandes clubes europeus surgidos depois do segundo verão do amor, em 1988.

O empresário foi dono de diversos clubes e, dentre eles, alguns dos mais importantes da história notívaga brasileira, como Hell’s Club, Base, Rose Bom Bom, Columbia e Lov.e (com Flávia Ceccato), para citar apenas alguns.

Para Leuzzi, seus clubs eram sua casa. Tanto que, dos quatro aos sete anos, a festa de aniversário de Lucca, com os amiguinhos da escola, foi dentro da Lov.e.

“Meu pai fechava uma van para levar meus amigos e celebrava meus aniversários lá, com DJ e tudo.”

Lucca acompanhado do pai, Ângelo Leuzzi, e amigos, comemorando aniversário no Lov.e. Foto: Acervo pessoal

Premeditadamente ou não, Ângelo estava cuidando para que seu legado seguisse, mesmo depois que o homem parasse de abrir um clube atrás do outro, o que fez até o ano de sua morte, em 2020. Quando o pequeno Salvatore não estava dentro de uma casa noturna, os frequentadores e profissionais da noite estavam em sua casa. DJs, promoters e figuras carimbadas do cenário clubber brasileiro.

“Minha casa estava sempre cheia de gente, de todo tipo. Era tudo normal para mim. Eu só fui saber que existia homofobia e racismo já velho, na rua.”

Segundo ele, a liberdade e o respeito entre as pessoas são o grande legado do pai para as festas que hoje faz em São Paulo. A MØND, criação sua, já acumula sete anos de vida e trouxe, em sua última edição, o histórico Kevin Saunderson.

A festa começou como uma terceira pista de seu projeto anterior, o Downtown Inc, e seguiu se integrando a outras iniciativas, até florescer. A equipe está na correria para os preparativos da edição de Réveillon, com line-up caprichado.

MØND

Lucca Salvatore. Foto: Acervo pessoal

“Outra coisa que aprendi com o meu pai é o respeito à história dos DJs brasileiros. Por isso, faço questão de colocar gerações diferentes para tocar”, segue. Salvatore também sempre busca convidar DJs de diversos coletivos diferentes, “para conectar quem faz o underground de São Paulo”.Outro diferencial da MØND é o sistema de som em Dolby Atmos, um evolução da configuração dos posicionamentos sonoros vinda do cinema, algo que tem empolgado o artista: “Agora, a gente faz música dentro de um ambiente 3D. Um som totalmente imersivo, em que colocamos os instrumentos e desenhamos o caminho desses instrumentos”.

Quem trouxe essa ideia a Salvatore foi a DJ Paula Chalup e a empresa ANZ, pioneira no assunto aqui no Brasil. “Em cinco anos, tudo vai ser Dolby Atmos”, profetiza.

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Última edição da ‘MØND’ teve Kevin Saunderson. Foto: Japa Clicks/Divulgação

Na edição de Réveillon, tocarão Corvina, Angélica Möller, DJ Mau Mau, Claudia Assef, Due, Gezender, Dirty Dayana, RHR, Davis, Renato Cohen, Kirill Shapovalov (Rússia), Lucca Salvatore e Paula Chalup.

Leuzzi segue vivaço através do filho, e a culpa é interamente dele.

“Uma vez, quando eu era criança, eu estava ouvindo Daft Punk e fui pego de surpresa.” O castigo? Sentar com o pai e ganhar um intensivão sobre música eletrônica, com os discos de sua coleção.

Serviço

MØND Réveillon

Local: Central 1926 – Praça da Bandeira, 137 – Bela Vista, São Paulo/SP
Data: 31 de dezembro (domingo)
Horário: A partir das 20h
Ingressos: A partir de R$ 120,00 via Ingresse

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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