Leo Janeiro - Tempo

8.7/10

Jota Wagner
Por Jota Wagner

 

Leo Janeiro, DJ e articulador carioca, nos presenteia nesta sexta-feira, 05, com seu primeiro álbum na carreira, Tempo, lançado por seu próprio selo, Cocada Music. Repassa, em referências e paisagens, suas décadas tocando discos e fazendo festas no Rio, a cidade mais houseira do país.

Bem, falemos de tempo antes de entrar em Tempo. Quem viveu o cenário da música eletrônica brasileira desde meados da década de 90 até 2010 se divertia, e também sofria, correndo atrás do que era “novo”. Em seis meses, uma música, um artista e até mesmo um gênero musical saía de moda. Era um desespero correr atrás do “novo cool” e ver, o tempo todo, músicas sendo descartadas dos cases dos DJs e guardadas em prateleiras empoeiradas.

Com o próprio amadurecimento de um movimento cultural tão novo, essa besteira arrefeceu. A música eletrônica deixou de ser uma corrida desenfreada pelo diferente e passou a se retroalimentar, abraçando suas referências e entendendo que música bem-feita não pode durar seis meses.

Isso faz do debut de Leo um álbum sensacional, repleto de tranquilidade relojóica e boa onda, característica do seu trabalho na discotecagem. Ouvindo, viajamos pelos tempos áureos da deep house de São Francisco, do jazzy de Ludovic Navarre e, claro, pelas referências à mamma Chicago. Tudo sem apelos nostálgicos ou busca por “inventar um novo gênero”. É música. Bem produzida, bem mixada e boa de dançar.

Mais do que isso, reforça a identidade, a verve carioca. Se você teve a sorte de perambular pelos clubes underground da cidade, não importa em que época, vai compreender que Janeiro demonstra profundo respeito por suas raízes. Para engordar o caldo da galinhada, trouxe ao projeto ótimas participações especiais: Jhayam, Nathan “Flutebox” Lee, Jon Dixon, Pedro Zopelar, a cantora Mona Lee e a dupla paulista From House to Disco.

Tempo mata a angústia causada pelo tempo, e isso é ótimo para os ouvintes. Oito faixas muito bem encaixadas, com destaque para a já clássica Carioca Flute, a melhor do álbum. E para os que amam house music, é um disco brasileiro indispensável na coleção.

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Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.