WME Monique Dardenne e Claudia Assef no WME 2024. Foto: Mariana Smania/Divulgação

Review WME 2024: Como foram os 4 dias de inspiração e transformação

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Por Maravilha

Com shows, palestras e oficinas, a oitava edição do Women’s Music Event reafirmou seu papel na valorização e empoderamento das mulheres na música

A oitava edição do WME, maior encontro de mulheres da indústria da música do país, aconteceu entre os dias 20 e 23 de junho. Entre palestras, mesas, oficinas, shows, brunch, discotecagens, pitches, happy hours e muito networking, a abertura do evento aconteceu na noite de quinta-feira na Heavy House.

Na sexta-feira, a Biblioteca Mário de Andrade recebeu mais de 800 participantes, enquanto o show na Praça Dom José Gaspar reuniu 1,5 mil ouvintes atentos às mulheres da música tocando em espaço público. Durante os quatro dias, o evento reuniu mais de seis mil pessoas presencialmente e somou mais de mil visualizações na transmissão ao vivo pelo site

Destaques deste Women’s Music Event foram Tulipa Ruiz como madrinha do ano, Aíla falando sobre a visibilidade da música do Norte, Brisa Flow trazendo nomes de referências da Arte Indígena Contemporânea (AIC) e desmitificando a presença dos povos originários na música, Lorena Calábria entrevistando Duda Beat, mesas com Adriana Barbosa, Ana Garcia e Day Limns, o avassalador encontro de Juliana Linhares e Josyara no palco, Amanda Magalhães com seu teclado, Cynthia Luz e Bia Ferreira no R&B, Thaís Macedo no pagode e Iza Sabino e Ashira falando sobre processo criativo — só para citar algumas das muitas outras convidadas que movimentam o mercado da música no Brasil e no mundo.

Chegando na abertura do evento, era impossível ignorar uma movimentação diferente pelas ruas de Pinheiros. A quantidade fora do comum de mulheres agitava a entrada da boate. Dava pra ver que era uma noite importante pelos olhares, muitos figurinos estonteantes (porque além de tudo tem uma pitada de moda também, né?) e a empolgação que abrilhantava o som de muita gente conversando por ali. Tinha uma grande fila na porta da Heavy House, que reunia pessoas de várias idades. Era possível, inclusive, notar sotaques de diversos estados do Brasil.

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A noite começou com um bate-papo em que as idealizadoras Claudia Assef e Monique Dardenne comentaram sobre o conceito norteador da edição, o “JOMO”, gerando muita identificação com a galera presente, afinal, o tema se conecta com desafios muito alinhados a nossa realidade atual. Também rolou uma conversa sobre a crescente demanda por instrumentistas mulheres com Lana Ferreira, Mônica Agena e Natália Ferlin, que rendeu muitas perguntas e uma troca gostosa. Na sequência, show intimista com a cantora Julia Mestre, e o encerramento da noite resultou numa grande festa com as DJs Paulete Lindacelva (residente da festa Mamba Negra) e From House to Disco (Bruna Ferreira e Lívia Lanzoni). Em presença, foi uma grande festa com a ex-MTV Titi Muller, produtoras e produtores artísticos como o fundador do Coala Festival (Gabriel Andrade) e artistas independentes vindas de todo o país.

A maior parte da programação da conferência ocorreu entre sexta e sábado no inigualável espaço da Biblioteca Mário de Andrade, no Centro de São Paulo, com diversas atividades, oficinas e painéis, além de shows gratuitos na Praça Dom José Gaspar. Já no domingo, a oitava edição do WME se encerrou na parceira Casa Natura Musical com espetáculos de Tulipa Ruiz, Brisa Flow e Thaís Macedo. Toda a programação contou com transmissão online para quem comprou o pacote digital. 

“O WME é um sonho realizado a cada ano. Nós já somos o maior evento da indústria da música no país, e poder ouvir, aprender e ter debates aprofundados com tantas mulheres da música é um privilégio. Meu coração pulsa vendo tudo isso que construímos nesses oito anos de trajetória, e presenciar o crescimento anual disso não tem preço”, comenta Claudia Assef.

Dona Onete - WME 2023
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“Além de nossa curadoria cuidadosa, o WME fica repleto de todas as mulheres mais relevantes da música de todo o Brasil. É um encontro importantíssimo para construir essa presença e esse movimento em conjunto, entendendo como as mulheres da música podem se fortalecer no mercado, lutar por direitos e pautar os assuntos mais importantes do setor”, completa Monique Dardenne.

Na sexta-feira (21), o dia foi preenchido por trocas, debates e muitos encontros. Desde cedo, o saguão da Sala Oval já estava repleto de convidadas e ouvintes. O destaque foi para a mesa da Heineken, “A cultura preta como lançadora de tendências” — com gente até fora da sala —, com depoimentos de Adriana Barbosa, da Feira Preta, Carolina Monteiro, da Heineken, Sara Loiola, do Festival Yalodê, e Luana Ribeiro, da Casa Lab, como mediadora. Além disso, o público reagiu com grande emoção à audição de Bagaceira, novo disco da Dona Onete, painel oferecido pela Deezer. Em sua palestra shorts, Brisa Flow falou sobre o preconceito que sofreu quando começou a cantar rap e não tocar flauta, quebrando estereótipos.

Logo pela manhã, na sexta-feira, o portal Mina Bem Estar apresentou o painel “Sua avó também goza – sexo na maturidade”. “No imaginário, a menopausa é uma chancela de validade, sinal que a mulher fica seca e não tem com quem ficar. A cultura pop e a novela, por exemplo, têm um papel importante para trazer uma mudança cultural e provocar uma mudança comportamental”, comentou Silvia Ruiz na mesa. Outro ponto alto com debate de extrema importância foi o painel “Raio-x no mercado da música digital”, sobre robôs que inflacionam plays e os valores pagos pelas plataformas aos artistas.

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Mais tarde, Day Limns e Érica Imenes falaram com a editora-chefe da Billboard, Débora Miranda, sobre o poder dos fandoms e como eles chegaram até o momento de se tornar uma febre entre seu público. O Olho no Olho este ano foi one to one entre as selecionadas no pitch e suas mentoras, criando o novo formato de speedy meeting. Ao fim do dia, o Happy Hour da Heineken proporcionou um momento de descontração com DJ set de Miss Tacacá e microfone aberto para quem quisesse dar sua palhinha. 

Os shows na praça encerraram o dia com um grande encontro nordestino de Josyara, de Juazeiro, na Bahia, com Juliana Linhares, do Rio Grande do Norte, recitando suas poesias. Juliana desfilou suas performances e Josyara sonorizou com sua guitarra. A abertura da praça esteve a cargo da carioca Amanda Magalhães, que esbanja carisma, bom humor, sensualidade e talento na voz e no teclado, e puxou o público para cantar junto. 

No sábado, o dia começou ensolarado e com um inédito brunch servido na sacada da Biblioteca Mário de Andrade, oferecido pela nova marca de bebida espumante, Brutal Fruit Spritzer. O encontro, que lotou a varanda, contou com Pagode da Dessa e uma fala de Fernanda Paiva sobre o tema do WME 2024, o Joy Of Missing Out (JOMO). 

O dia foi intenso, com uma programação recheada tanto na Sala Oval quanto no auditório da biblioteca. Os assuntos foram dos mais variados, desde podcasts e vídeos curtos à nova linguagem de internet, com falas da cantora Aíla sobre o apagamento das artistas do Norte, além de um painel sobre meteorologia nos festivais e outro do Selo Igual sobre a presença feminina nos eventos.

“Cancelamentos e pausas nas carreiras dos artistas: burnout, ansiedade, autocobrança e a saúde mental dos artistas” foi o tema tratado por Karol Pelissioni (Kase Agency), Eliane Dias (Boogie Naipe), Gabriela Pompermayer (Let’s Gig) e Malu Barbosa (LIGA). Outro ponto alto foi o Q&A com Tulipa Ruiz, a madrinha do ano, com Claudia Assef. Tulipa falou sobre toda sua trajetória desde que trabalhou em uma loja de CDs em São Lourenço (MG), e sobre como manter a autenticidade no mundo da música e quais concessões ela faz em sua vida para poder viver a sua música da forma mais sincera possível. Na plateia, estavam seu irmão e seu pai, Gustavo Ruiz e Luiz Chagas.

Entrevista sobre o recente lançamento de Duda Beat, Tara e Tal, feita pela jornalista Lorena Calábria, show do Quarteto Zuri, que emocionou a plateia com músicas contemporâneas tocadas em quarteto de cordas tradicional pelas meninas do Espírito Santo, e DJ set de Carol Tucuju no Espaço Heineken finalizaram a programação da Mário de Andrade do WME 2024. 

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Mas a música feminina seguiu com os shows de Bia Ferreira e Cynthia Luz na Praça Dom José Gaspar. Bia subiu aos palcos dando aula de desenvoltura com sua voz e violão potentes, agitando o público com suas letras questionadoras. Uma presença ilustre complementou seu show cantando Eu sei que vou te amar (letra que Tom Jobim escreveu para sua esposa): o deputado Eduardo Suplicy, que comemorava seu aniversário na praça no mesmo dia. Cynthia interagiu com o público cantando suas melodias apaixonantes e autênticas para fechar as apresentações gratuitas no centro de São Paulo no último sábado.

Na Casa Natura Musical, os shows de Tulipa Ruiz, Brisa Flow e Thaís Macedo encerraram a programação, mostrando o cuidado da curadoria do evento com a diversidade e inclusão, apresentando mulheres dos mais variados gêneros musicais do Brasil. Brisa falou muito da importância de ser uma rapper, mãe e indígena, e interagiu com o público, assim como Tulipa, que fez uma apresentação de voz e violão acompanhada do irmão, passando por toda sua discografia e finalizando com seus grandes hits junto com o coro do público. Já Thaís Macedo foi a grande surpresa da noite, embalando o final do domingo com sambas e pagodes, clássicos e modernos, na pouco comum voz de uma mulher no gênero.

Foram quatro dias intensos em que a potência de inúmeras mulheres foi celebrada e apreciada em sua totalidade com muito entusiasmo e brilho nos olhos. O espaço que o WME cria é incomparável, assim como sua força transformadora. Com recorde de público em 2024, o projeto avança de uma forma brilhante a cada ano, e evolui em diversos aspectos.

Apesar dos números revelarem de forma precisa esse crescimento, apenas o tempo será capaz de mostrar o impacto profundo que o projeto causa na comunidade (e nos corações) das mulheres da música, bem como em todo o ecossistema em que estamos inseridas. Mas uma coisa é certa: se depender das que fazem o WME acontecer, o futuro, com certeza, será um presente para nós.

Maravilha

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Maravilha é uma artista-multimídia, musicóloga, DJ, compositora, produtora musical e arte-educadora carioca radicada em São Paulo. Aqui no portal escreve e reflete sobre arte, música brasileira e toda a sorte de grooves. É também fundadora da Tremor Produtora.