Måneskin Foto: Divulgação

Review: Em São Paulo, Måneskin mostrou que pode ser um dos novos pilares do rock

Matheus Henrique Pires
Por Matheus Henrique Pires

Entre pequenos erros e grandes acertos, grupo italiano provou que Mick Jagger não estava maluco quando os chamou de “maior banda de rock do mundo na atualidade”

Mick Jagger declarou recentemente que o Måneskin é a maior banda de rock do mundo nos dias de hoje. Obviamente que não há uma maneira específica de se medir esse tipo de coisa, mas ao menos em sua recente passagem pelo Brasil, o grupo italiano provou que essa afirmação não deve soar como surpresa pra ninguém.

Um ano após seu debut no Brasil — incluindo passagem pelo Rock in Rio —, a banda retornou ao país para divulgar seu terceiro álbum, Rush!, fazendo apresentações tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, nos dias 01 e 03 de novembro, respectivamente.

Na capital paulista, os ingressos se esgotaram com antecedência e, no dia da apresentação, já se viam fãs aguardando na fila de entrada desde horas antes da abertura do Espaço Unimed. Não é algo que acontece com frequência em shows de rock ultimamente, e muito menos com bandas relativamente novas.

O público também era bem mais jovem em relação ao que normalmente vai em shows dos nomes já consolidados. Havia até crianças na plateia, e a grande maioria dos mais velhos eram os pais que as acompanhavam (alguns até vestiam camisetas do Måneskin).

A entrada estava marcada para as 22h, e rolou sem atrasos. No primeiro terço da apresentação (cerca de meia hora), as músicas foram tocadas uma atrás da outra, entre poucos intervalos para interação com o público, que respondia sempre em êxtase e cantava junto boa parte das canções — e filmava-as pelo celular, como de praxe. Mesmo as músicas do disco mais recente, como Don’t Wanna Sleep (em inglês) e Mammamia (em italiano), já pareciam decoradas.

O estilo musical do Måneskin é como uma mistura de Arctic Monkeys (últimos dois discos à parte) com o som que o Red Hot Chili Peppers vem fazendo desde o Californication, entre outras referências que se conseguem pinçar aqui e ali — vai dizer que o riff de Supermodel não lembra Smells Like Teen Spirit? Até o cover de Beggin’, originalmente um sucesso do Four Seasons e que estourou o grupo mundialmente quando viralizou no tiktok, eles conseguem encaixar nessa roupagem sem muita estranheza.

Já no quesito presença do palco, o quarteto abusa dos clichês do rock’n’roll, daqueles típicos de bandas de hard rock dos anos 80. O frontman Damiano David capricha na pose de galã, e canta boa parte do show com uma penca de sutiãs no pedestal do microfone — Paul Stanley ficaria orgulhoso. O resto da banda também não fica atrás na canastrice, com Thomas Raggi (guitarra) e Victoria De Angelis (baixo) ajoelhando nos solos e sensualizando sempre que possível.

Rolou até stage dive do guitarrista e fãs subindo ao palco em Kool Kids (a última antes do bis). Apelativo e um tanto exagerado? Talvez. Mas para um público (e banda) que está “iniciando” agora no rock, tudo é novidade, então dá pra relevar.

Em relação à técnica instrumental, não há muito o que reclamar de nenhum dos integrantes. Damiano não demonstra lá muito alcance vocal, mas também não dá nenhuma desafinada óbvia. Thomas é um guitarrista preciso e de boa técnica — quer dizer, a não ser quando inventa um tapping à la Eddie Van Halen dos mais desajeitados —, e a cozinha, com Victoria e Ethan Torchio (baterista), se vira bem até numa espécie de solo em conjunto, incluído na metade do show, enquanto vocalista e guitarrista voltam ao palco principal após um minisset acústico.

A parte desplugada, aliás, trouxe o grande trunfo da turnê brasileira. Após tocarem Vent’anni, Damiano e Thomas arriscaram uma versão de Exagerado, o já batido hit de Cazuza. Quem assistia à performance de casa talvez não tenha se surpreendido, afinal, já havia rolado uma versão no Rio, e o vídeo circulava na internet. Ainda assim, o agrado aos brasileiros funcionou — na Argentina, rolou De Música Ligera, do Soda Stereo (aquela mesma que o Capital Inicial regravou). E por mais que o vocalista tenha deixado claro que não sabia falar nada de português, ele até que se saiu bem cantando a letra (só escapou do ritmo da canção em alguns momentos).

Defeitos não foram gritantes, mas existiram. Com o passar do tempo, o quarteto pareceu relaxar mais, aumentando o falatório com a plateia e com as músicas se arrastando um pouco mais. Já no bis, após um solo de Thomas (mais um clichê de rock de arena) e uma balada boa, mas mal colocada no set (The Loneliest), encerraram com I Wanna Be Your Slave, um dos seus maiores sucessos, mas que já havia sido tocada na primeira parte.

Poucas coisas são tão enfadonhas num show quanto esse artifício de se repetir um hit. E nem dá pra dizer que falta repertório, já que nenhuma música do primeiro disco — Il ballo della vita, de 2018 — foi tocada.

De qualquer forma, o saldo final é positivo. Fora os que precisavam sair pouco antes do fim para pegar o trem — o show terminou quase meia-noite —, o público esteve extasiado praticamente do começo ao fim, levantando cartazes com mensagens aos integrantes e até entoando gritos de “Damiano gostoso” e “Victoria gostosa”.

Havia quem achasse que após a vitória no Eurovision de 2021 e o sucesso mundial de uma hora pra outra, o Måneskin seria mero fogo de palha, mas shows como o de São Paulo provam que eles podem chegar a voos ainda maiores. Não é como se o rock não precisasse de novos pilares — e, por que não?, sex symbols.

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