Bring Me the Horizon Bring Me the Horizon no Allianz Parque. Foto: @anendorf/@30ebr/Divulgação

Bring Me the Horizon redefine o conceito de show no Allianz Parque

Vitória Zane
Por Vitória Zane

Maior apresentação da história da banda pode ditar nova tendência para espetáculos musicais

Com a colaboração de Vinicius Pierozan

Ainda bem que foi no último dia de novembro, porque assim fica mais certeiro dizer que presenciamos um dos melhores shows de 2024. Bring Me the Horizon esgotou ingressos para cerca de 50 mil pessoas em seu primeiro show como headliner em um estádio. O evento, realizado pela 30e, ocorreu no Allianz Parque, em São Paulo, com três bandas de abertura e um público 99% trajado com o nome da banda inglesa, que completa 20 anos de história.

Como o grupo mesmo frisou diversas vezes durante a performance, esse foi o maior show que já fizeram. E podemos certificar que tratou-se de um espetáculo grandioso, que marcou a sua história e pode ditar tendência sobre as futuras entregas ao vivo na indústria de shows musicais.

Mas antes de tocar para uma imensa multidão, na última quinta-feira (28), o BMTH se apresentou na Audio Club para um público de pouco mais de três mil pessoas. O show mais intimista serviu como aquecimento para o sábado (30) e reuniu fãs ansiosos, que, mesmo enfrentando chuva na fila, não desanimaram e cantaram com energia durante toda a apresentação.

O setlist contemplou quatro faixas do álbum Sempiternal (2013), cinco faixas de That’s The Spirit (2015), uma de amo (2019), três de Survival Horror (2020) e seis de NeX GEn (2024), a obra mais recente, incluindo, pela primeira vez ao vivo, a música n/A. E, claro, como parte da tradição das apresentações do Bring Me the Horizon no Brasil, não podiam faltar participações especiais. Durante Antivist, um fã subiu ao palco para cantar junto, surpreendendo a todos com uma voz poderosa e um gutural impressionante. Já em Kingslayer, foi feito um mashup inesperado com Piriguete, de MC Sapo. Sem dúvidas, o vocalista Oliver Sykes está cada vez mais abrasileirado.

Bring Me the Horizon

Bring Me the Horizon na Audio. Foto: Divulgação

Foi marcante. Mas a performance de sábado (30) acabou superando todas as expectativas que haviam sido criadas. Com a turnê intitulada NeX GEn presents [Dreamseeker variant]. A post human study (phase II), a performance do grupo foi baseada principalmente no projeto Post Human, evidenciado nos dois últimos álbuns, no qual a banda aborda como a humanidade está totalmente em declínio. Como explicamos anteriormente, o conceito pós-humano faz parte de um cenário contemporâneo que relata a junção do homem à máquina, numa espécie de ser híbrido. Por isso, as referências às tecnologias são inúmeras durante todo o show.

Logo no início, antes do grupo entrar, são apresentados no telão os visuais de NeX GEn como um jogo de videogame, convidando o público a embarcar no “press start”. Logo em seguida, é escolhido o modo “extreme” do jogo, e aparece E.V.E para guiar a jornada, uma espécie de Inteligência Artificial que convida o público a participar da missão de salvar a humanidade. Na verdade, ela acaba sendo hackeada, e sugere que as pessoas fujam antes de serem exterminadas. Obviamente, o público permanece até o final da “pesquisa de experimento social” — como anunciado pela IA —, passando pelos diferentes atos propostos pelo Bring Me the Horizon, como se fossem diferentes fases de um game.

Havia momentos de pausa entre determinadas faixas, que ordenavam a troca de atos, e nos quais diferentes personagens apareciam nos telões de LED para interagir com o público. Os visuais são verdadeiramente um dos destaques do show. Claro, a qualidade sonora é indiscutível, mas com imagens temáticas para cada ato, o show torna-se um verdadeiro espetáculo.

Tudo é minimamente pensado, planejado e detalhado. Imagens animadas que combinam com cada faixa são transmitidas para o público e servem como background para a performance dos integrantes. Trechos da letra em diferentes fontes também aparecem durante as partes mais importantes das músicas, além de efeitos especiais como lasers, fogo, CO2 e chuva de papel picado — incluindo papéis no formato de coração rosa durante o hit Can You Feel My Heart.

Além disso, a transmissão do show nos telões de LED contou, em determinado momento, com uma animação em tempo real, que transformava Oliver Sykes em diversos personagens aterrorizantes. Muita gente ficou de boca aberta ao perceber que exatamente todos os movimentos feitos por ele eram transmitidos nos telões através de avatares assustadores. Aliás, Oli é um show a parte: casado com uma brasileira e morador do país, o inglês arrisca na língua portuguesa em vários momentos! Ele disse inúmeras vezes “te amo” para a plateia, além de um “gratidão” e “foi divertido, né?”. Ainda, afirmou que não imaginava que ao se apaixonar por uma brasileira, também se apaixonaria tanto por todas as pessoas do nosso país.

A banda também mostrou respeito à cultura verde e amarela chamando dois artistas para se apresentar como convidados, o que já era esperado, pois, em anos anteriores, chamaram Pabllo Vittar para cantar. Desta vez, MC Lan e Di Ferrero foram desafiados pela E.V.E a cantarem uma faixa que foi “sorteada”: Antivist. O público vibrou!

Outro momento especial da noite foi em Drown, quando Sykes desceu do palco e foi cantar próximo às pessoas coladas na grade. Antes da música começar, ele a dedicou para Pedro, um superfã brasileiro que faleceu recentemente. Nesse momento, fãs planejavam soltar bexigas brancas em homenagem ao jovem, e assim foi feito. Ao final, durante a execução de Throne, o cantor solicitou que o público abaixasse e, durante o refrão, pulasse o mais alto que pudesse, encerrando a noite com fogos de artifício ao redor do estádio.

Quem esperava apenas assistir a um show, saiu com uma aula sobre como entreter e valorizar o público dentro de uma apresentação ao vivo. Bring Me the Horizon terminou a performance consolidando sua carreira de duas décadas dentro do cenário do metal e mostrando o motivo de ser um dos destaques do mercado. Seu desejo por inovar tem rendido bons frutos, fidelizando os fãs antigos e conquistando novos ouvintes a cada lançamento. Mas sua aposta em deixar os shows mais interativos graças à tecnologia pode refletir muito nas próximas turnês de diversas outras bandas.

Atos de abertura

The Plot in You iniciou os trabalhos às 16h30 e ficou impressionada com a quantidade de pessoas cantando suas músicas. O público estava completamente engajado, e os grandes sucessos da banda foram entoados com energia pelos que chegaram cedo ao evento. Em seguida, às 17h50, foi a vez de Spiritbox. Nunca vimos um estádio inteiro se apaixonar tão rapidamente por uma pessoa. Quem não era fã de Courtney LaPlante antes do evento, certamente se tornou depois da apresentação.

Bring Me the Horizon

Bring Me the Horizon no Allianz Parque. Foto: @anendorf/@30ebr/Divulgação

A vocalista mostrou carisma, uma voz incrível e muita ousadia ao levantar uma camisa do Corinthians no estádio do Palmeiras! Brincadeiras à parte, a galera cantou junto em várias canções e foi presenteada com a primeira execução ao vivo da música Perfect Soul. Já às 19h20, com o estádio praticamente lotado, Motionless in White encontrou um público aquecido e tirou proveito disso.

O setlist foi incrível, trazendo várias músicas que marcaram a trajetória do grupo, mas que ainda não tinham sido tocadas no Brasil, já que fazia mais de nove anos desde sua última visita ao país. Destaque para o cover de Somebody Told Me, do The Killers — uma raridade nos shows —, e para Eternally Yours, que foi prometida aos fãs mais dedicados. 

Vitória Zane

Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música.