Afterlife São Paulo Tale Of Us no Afterlife São Paulo. Foto: Divulgação/Live Nation

Review: Afterlife São Paulo furou a bolha da cena eletrônica e dividiu opiniões

Vitória Zane
Por Vitória Zane

Em sua primeira edição no Autódromo de Interlagos, festival combinou grandes performances a problemas de logística

Depois de viralizar e tornar-se um dos hypes atuais da música eletrônica mundial, a marca Afterlife, gravadora e party label, aterrissou pela terceira vez no Brasil no último sábado de fevereiro (24). Reunindo cerca de 30 mil pessoas, um dos eventos mais aguardados do primeiro semestre de 2024 foi marcado por um grande público diverso, formado pelos que conhecem tudo sobre o universo da música eletrônica e por aqueles que estão sendo introduzidos pouco a pouco ao gênero.

Estrutura

Afterlife São Paulo

Tale Of Us no Afterlife São Paulo. Foto: Divulgação/Live Nation

Diferente dos anos anteriores, o Afterlife São Paulo foi realizado no Autódromo de Interlagos, em sua primeira edição open air no país, e também em data única. O público criou uma grande expectativa com a edição de 2024 por se assemelhar à maneira com que o festival é realizado mundo afora, principalmente em Tulum (México). Vale dizer também que a marca está percorrendo a América Latina, em uma turnê por cinco países (Colômbia, Peru, Brasil, Argentina e México).

Com relação às questões climáticas do sábado (24), quando a previsão do tempo marcava possibilidade de chuva, os amantes do techno melódico tiveram sorte. Já quanto ao deslocamento, nem tanto: a entrada e a saída do festival aconteceram de forma conturbada. Sem estacionamento oficial, o maior problema ocorreu, efetivamente, na passagem do público do setor pista (portão B). Com atraso na abertura do Autódromo, formou-se uma fila que foi crescendo e se estendeu por um quilômetro.

Obviamente, com o passar do tempo e a chegada de mais pessoas, esse número aumentou e ocasionou uma espera de aproximadamente uma hora, com a fila se aproximando do portão G. Com isso, os grupos de WhatsApp bombaram de fotos e prints de aplicativos de localização, e muitas pessoas não conseguiram entrar a tempo de assistir algumas apresentações.

Coberta por grama sintética em algumas partes, a pista abrigava um telão de LED gigante. Os ingressos dessa modalidade custavam, de início, R$ 650 (inteira) e R$ 325 (meia-entrada), e, ao final, R$ 840 (inteira) e R$ 420 (meia-entrada). O setor camarote estava localizado à esquerda, numa área com vista superior, e ingressos de primeiro lote saíram por R$ 1.400 (inteira) e R$ 700 (meia-entrada), e de terceiro lote por R$ 2.200 (inteira) e R$ 1.100 (meia-entrada). Em ambos os lados da estrutura havia bares e tendas de alimentação; os banheiros ficavam ao fundo.

Shows

Afterlife São Paulo

Anyma no Afterlife São Paulo. Foto: Divulgação/Live Nation

Com timetable anunciado poucas horas antes do evento, o que não faltaram foram as teorias do público sobre a ordem das apresentações. O Afterlife São Paulo começou com a performance da dupla ucraniana Omnya. Os brasileiros do BINARYH, que vêm ganhando prestígio pela label e fazendo seu nome pelo planeta, foram os segundos a tomar o palco. Em seguida, ANNA, o nome feminino do país com mais força global, foi a terceira a tocar. Até aí, o telão apenas apresentava projeções com o logo da label (a silhueta de uma pessoa virada de ponta cabeça).

Chegou a hora dos headliners da noite. MRAK apresentou o show We Don’t Follow, com visuais impactantes. O nome por trás do projeto é Carmine Conte, um dos integrantes do Tale Of Us, duo anfitrião e dono da marca. Logo depois, Cassian fez um B2B com Kevin de Vries e animou o público. O set realmente foi muito bom (marca pessoal: foi um dos meus preferidos) e preparou o terreno para uma das atrações mais aguardadas: Anyma.

Apresentando Genesys, Matteo Milleri, o outro membro do TOU, percorreu seu álbum lançado em 2023 neste projeto paralelo. Sem dúvidas, a performance de Anyma foi um dos pontos altos do festival, com as projeções impressionantes, tão viralizadas nas telas do Instagram e TikTok, que puderam ser conferidas a olho nu, pessoalmente.

E, para encerrar a edição, Tale Of Us entregou um set que deixou um gostinho de quero mais para os amantes do after, concluindo a noite de sábado e dando um bom dia para o domingo de sol que estava chegando.

Um fato curioso entre as apresentações foi a espera silenciosa entre a troca de artistas. Por muitas vezes, observou-se o telão “desligado”, sem som, enquanto outro DJ se preparava para tocar. Esse formato dividiu opiniões entre os presentes: alguns consideraram algo normal em festivais, outros sentiam que a longa espera poderia quebrar o clima num evento de música eletrônica.

Furando a bolha

Afterlife São Paulo

Anyma no Afterlife São Paulo. Foto: Divulgação/Live Nation

Conhecido por entregar uma experiência diferenciada ao público, o Afterlife chegou a São Paulo em 2024 com um lineup coeso e artistas que entregaram ótimos shows, fazendo o espetáculo de projeções audiovisuais valer a pena. Entretanto, um festival não é feito apenas de performances: a estrutura e a logística também pesam na conta. E em relação a isso, deixou a desejar.

Apesar de supercombinar com a atmosfera ao ar livre (e realmente ficou muito chamativo o local escolhido para realização), o problema com a entrada e saída prejudicou a experiência do público, que já iniciou o rolê com a sensação de ansiedade, por aguardar tanto tempo do lado de fora do Autódromo, e de angústia, por perder algumas apresentações.

Nas redes sociais, vimos opiniões divergentes, e isso se deu pela pluralidade de pessoas que frequentaram o evento. Será que o público criou expectativas demais, ou elas não foram superadas?

O fato é que a música eletrônica tem expandido seu espaço e está atingindo pessoas que não conhecem nem as ramificações de seu som — e isso não é problema nenhum! Só é preciso entender que, devido à internet e ao uso das redes sociais, essas experiências têm viralizado, furando a bolha. Foi assim que muita gente conheceu o Afterlife: através de vídeos curtos que rodam os aplicativos de interação, mostrando tantos momentos especiais que, óbvio, todo mundo quer viver de perto.

Com isso, diferentes impressões sobre o festival surgiram neste mundão online onde todo mundo tem o poder de opinar; algumas, comparando com edições anteriores, outras, enaltecendo a potência da label. Mas o resultado é um só: ninguém deixou de comentar sobre o Afterlife! Por isso, somente a marca poderá escolher seu destino entre manter-se como um reduto para os mais puristas, ou expandir-se ainda mais para o mainstream.

Tomorrowland Brasil
Você também vai gostar de ler Os erros e os acertos deste Tomorrowland Brasil

Vitória Zane

Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música.

× Curta Music Non Stop no Facebook