De La Soul Imagem: Reprodução

Obra fundamental do rap, disco de estreia do De La Soul é relançado

Jota Wagner
Por Jota Wagner

3 Feet High and Rising ganha edição comemorativa de 35 anos

Nesta sexta-feira (1º), chegou às plataformas o relançamento do álbum de estreia do De La Soul, 3 Feet High and Rising, celebrando os 35 anos do disco, que serão completados neste domingo (03). Com um total de 29 faixas, a nova versão inclui uma porção de material alternativo, alguns inéditos, repaginando uma obra que revolucionou o hip-hop na época de seu lançamento.

O grupo, formado por Kelvin “Posdnuous” Mercer, David “Trugoy the Dove” Jolicoeur e Vince “Maseo” Mason, chamou atenção de público e mídia ao levar o rap para um lado oposto ao transgressor, de protesto.

De fato, os caras abriram as portas para temas, digamos, mais leves e festeiros, mas sem perder a imprescindível denúncia dedo na cara. 1989 foi o ano em que tivemos outros discos festeiros nas paradas, de artistas como Jungle Brothers e Fresh Prince & Jazzy Jeff.

Quando chegou às lojas, 3 Feet High and Rising inundou o público com um lance mais sofisticado, sem deixar de ser dançante. Foi um dos grandes discos do chamado jazzy hip-hop. Os vocais são mais cool, os samples e arranjos são rebuscados e há um jeito de recitar meio psicológico e autocrítico. Boa parte das letras é dedicada à busca da paz interior — tanto que o maior hit do LP se chama Me, Myself and I.  Os grupos e gravadoras concorrentes não perdoaram, classificando os caras como “hippies”.

A zoeira, no entanto, foi atropelada por toda a atenção que receberam. O álbum foi, sim, recebido por outras camadas da sociedade cultural americana, que passaram a compreender o rap como arte. E, no caso do De La Soul, arte de alto nível. A música Transmitting Live from Mars tem samples em francês!

Três décadas e meia depois, fica fácil perceber o tamanho da importância e do poder de influência da bolacha. Seus elementos e vibrações estão na música lounge, no trip-hop e no big beat, que foram a força motriz da década seguinte. Nada disso existiria (ao menos, não do mesmo jeito) sem De La Soul e, principalmente, sem 3 Feet High and Rising.

Lançada pela Tommy Boy Records, a estreia do trio tem incríveis 67 minutos, praticamente inéditos para um álbum de uma banda, até então, desconhecida. Foi considerado pelo jornalista Robert Christgau um trabalho “diferente de tudo o que você ou qualquer outra pessoa já ouviu”.

A revista The Source o classificou, em 2020, em sua lista de cem melhores álbuns de todos os tempos. A Rolling Stone americana colocou 3 Feet na 13ª posição na lista de 500 Melhores Álbuns da História. Entrou para a coleção da Livraria do Congresso Americano, por sua “contribuição cultural, histórica e estética para a cultura americana”.

Definitivamente, trata-se de um disco histórico, que ganha uma homenagem mais do que merecida.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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