Em mais de sete décadas, o grande mestre não apenas escreveu a história da música popular americana, como abriu caminho para artistas de todas as origens e estilos
Nesta manhã de segunda-feira chuvosa, abro meus olhos e recebo a notícia sobre Quincy Jones. O grande mestre nos deixou ontem à noite, aos 91 anos, encerrando uma era que ele mesmo ajudou a criar e transformar. Ao longo de mais de sete décadas, ele não apenas escreveu a história da música popular americana, mas também abriu caminhos para gerações de artistas de todas as origens e estilos. De um jovem trompetista e arranjador nascido em Chicago a uma lenda da produção musical global, foi um pioneiro que transcendeu os gêneros e deixou sua marca em quase todos os campos da música, do jazz ao pop, da trilha sonora ao rap.
Quincy foi um dos primeiros afro-americanos a ocupar cargos executivos em grandes gravadoras, chegando a vice-presidente da Mercury Records nos anos 1960. Mas sua influência foi muito além dos bastidores: produziu álbuns icônicos, como Thriller, de Michael Jackson, que se tornou o disco mais vendido de todos os tempos e moldou a música pop, organizou o famoso projeto beneficente USA For Africa, da canção We Are The World, reunindo um verdadeiro time de ouro da música para ajudar a combater a fome no continente africano. Essas colaborações não só capturaram o espírito da época, como também deixaram um legado de engajamento social e união entre artistas.
Além da música, Jones se aventurou pelo cinema e pela televisão, sempre com um olhar inovador. Ele compôs a trilha para o filme The Color Purple (1985), produziu a série The Fresh Prince of Bel-Air, protagonizando Will Smith, e foi premiado por seu trabalho em Roots (1977), minissérie que retratou a trajetória de escravos africanos nos EUA. Em 1993, lançou a revista Vibe, dedicada à cultura hip-hop e ao cenário musical contemporâneo, mostrando sua capacidade de entender e influenciar os movimentos culturais mais jovens e dinâmicos.
Nos últimos anos, foi homenageado com o reconhecimento que sua obra merece. Indicado a mais de 75 prêmios Grammy e vencedor de mais de 25, ele também recebeu honrarias como o Kennedy Center Honor e a Medalha Nacional das Artes, além de uma entrada no Rock and Roll Hall of Fame em 2013. Sua história foi eternizada em sua autobiografia e no documentário Quincy (2018), dirigido por sua filha Rashida Jones. Hoje, enquanto lembramos sua vida e seu legado, sentimos a perda de um visionário cujo impacto permanecerá por gerações. Quincy Jones deixa não só uma discografia memorável, mas também um exemplo de criatividade, persistência e humanidade.