Catacumbas de Paris Foto: Ann B [via Pixabay]

Queens of the Stone Age vai tocar em uma das áreas mais macabras do mundo

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Segundo o frontman Josh Homme, faz 18 anos que a banda vem tentando emplacar a apresentação

Não faz muito tempo que bandas, DJs e produtores vêm disputando por um título inusitado: o de tocar no lugar mais diferentão e exclusivo possível. Espaços históricos, inacessíveis, exclusivos e remotos. O anúncio do show é garantia de buchicho nos meios de comunicação e nas redes sociais.

Segundo contou em uma entrevista coletiva que deu na França na última semana, Josh Homme e sua banda, Queens of the Stone Age, estão prestes a assumir a primeira posição nesta corrida maluca. O grupo vai se apresentar nas Catacumbas de Paris, um dos locais mais inóspitos da história do urbanismo.

Em 1785, a população de Paris enfrenta um problema, digamos, logístico. Seus cemitérios estavam lotados e não havia mais lugar para enterrar seus falecidos cidadãos. A situação era urgente. A expectativa de vida era de apenas 30 anos. Foi então que alguém do comitê da prefeitura teve sua trevosa epifania. Parte da cidade havia sido construída sobre uma grande mina desativada, com quilômetros de túneis, totalmente esquecidos e lacrados. A solução seria esvaziar os cemitérios e transportar as ossadas para debaixo da cama onde dormiam os parisienses. Depois de alguma pesquisa arqueológica, a prefeitura encontrou a entrada original da mina, localizada na região de Barrière d’Enfer, e decidiu pela transposição.

A medida tomada era tão chocante que o transporte foi feito somente de madrugada. Todas as noites, uma macabra procissão de carruagens carregando ossadas humanas cruzava as ruas de Paris até Barrière d’Enfer, que começou a ser chamada pela população de “os portões do inferno”.

Catacumbas de Paris

Foto: Reprodução

Catacumbas de Paris

Foto: Reprodução

No total, seis milhões de ossadas foram transportadas. A prefeitura foi construindo novos túneis, a ponto de aumentar a antiga mina em três vezes seu tamanho. Até mesmo uma “área VIP” foi criada, para abrigar os restos mortais de gente como Luis Filipe I, o Duque de Orleans, e Madame du Barry. Inicialmente jogadas de forma aleatória, em 1810 as ossadas passaram a ser expostas de forma organizada nas paredes, como se fizessem parte de um museu macabro.

Desde 1867, uma parte das Catacumbas é aberta para visitações, com passeios guiados. No entanto, é relativamente comum que parisienses encontrem entradas secretas e se enfurnem pelos corredores fechados. Em 2004, a polícia francesa encontrou um cinema completo, com equipamentos funcionando, uma coleção de filmes noir e um bar repleto de bebidas. Um grupo de exploradores urbanos amador de nome UX assumiu a responsabilidade pela instalação e manutenção da “salinha privé”. O túneis também foram usados como abrigo durante a Segunda Guerra Mundial.

“Daqui a algumas semanas nós vamos tocar nas catacumbas de Paris, e seremos a primeira banda a fazer isso. Faz 18 anos que estamos tentando. Será uma apresentação ao vivo”, contou Homme, ainda sem dar mais detalhes sobre a apresentação, que provavelmente será apenas para convidados.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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