PROTOPIA Foto: Divulgação

Contra o “acelero”, São Paulo terá festa para ouvir música sentado

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Inspirada nos listening bars japoneses, PROTOPIA chega a sua sexta edição nesta segunda-feira

Criados no Japão, terra de colecionadores e aficionados por música, os listening bars viraram uma febre, com réplicas em todo o mundo, incluindo São Paulo. Neste formato, caríssimos de sistemas de som são desenvolvidos para que o ouvinte reconheça cada detalhe na gravação de um disco. Os frequentadores são orientados a ouvir a música em silêncio, ou pelo menos conversar bem baixinho, comportamento chamado de speak easy.

De olho nesta tendência, o artista e idealizador Rodrigo Guima promove nesta segunda-feira, 27, a PROTOPIA, na embaixada cultural Central 1926, em São Paulo. A ideia é espalhar sofás e almofadas pela pista de dança, onde o público curte a música “de boa”, em sessões de uma hora dedicada à ambient music.

Mais do que promover a audição em alta fidelidade dos sons disparados por Guima, a ideia é também ir na contramão do comportamento “acelerado” das baladonas de dance music.  A sexta edição da PROTOPIA (a quinta na Central e a segunda em noite de lua cheia, o que torna a experiência ainda mais imersiva) conta com três artistas na programação musical, e performances de dança.

Conversamos com o idealizador do projeto sobre o formato, as influências e o que o público pode esperar de um rolê tão diferente.

 

Jota Wagner: Que inspiração vocês tiveram para criar a PROTOPIA?

Guima: A PROTOPIA nasceu no pós-pandemia, em 2022, com o desejo de propor novas formas de estar junte e curtir um som diferente do que estava rolando nas festas. Meio que o vislumbre de um mundo novo porque todes nós estamos, de alguma forma, transformades. Um desejo de desacelerar também, o que é uma afronta para a contemporaneidade e para São Paulo, que é onde a maioria das experiências do projeto acontecem. Musicalmente, foi a materialização de uma extensa pesquisa de ambient que eu estava vivenciando nos últimos anos e que gostaria de dividir com mais gente — e que veio de encontro também a uma crescente da cultura de listening bars que aumentou consideravelmente em cidades como São Paulo, Berlim e NYC.

Em relação a gêneros musicais, o que público ouvirá nas audições?

O projeto é todo focado em low beats e abraça a maioria das suas vertentes. Costumo dizer que é um som para ser contemplado, ser dançado por dentro, e para a próxima edição, teremos três lives. A primeira do Adachi, sintetizando o oriental com o ocidental e incorporando experimentações eletrônicas. Na sequência, Dharma Jhaz e Akin Deckard costurando sopros e beats completamente envolventes. E para encerrar, Anderson Kaltner com uma colagem de voz com efeitos, canções fragmentadas e improvisação, em uma performance íntima e ao mesmo tempo explosiva.

Em eventos para audiófilos, a qualidade do equipamento é bastante valorizada. O espaço terá uma estrutura especial nesse sentido?

Guima: O setup da PROTOPIA é uma das coisas mais importantes do projeto, porque ele direciona não apenas o som como também o posicionamento das pessoas. As caixas são montadas de maneira quadrifônica, a fim de manter uma percepção mais completa do som. Os subwoofers são da DB Tecnologia Acústica, o que gera também um corpo de grave mais robusto. Para dentro desta área temos um grande quadrado de sofás, dispostos de uma forma em que todas as pessoas consigam se ver e escutar o som de qualquer ângulo, além de terem o foco no centro, onde acontecem as apresentações dos artistas. O chão é coberto por um tapete para que possam também escutar deitadas e de maneira mais descontraída, inclusive sem sapatos.

Qual será a capacidade de público nos eventos? Haverá algum tipo de regra, como o speak easy, por exemplo?

Guima: A experiência está desenhada para 200 pessoas e dividida em dois espaços. O primeiro deles é a “Sala de Espera”, onde o público chega para tomar uma cerveja no bar e já desacelerar um pouco. A função deste é preparar as pessoas para o outro ambiente, a “Sala de Música”, que abriga as apresentações dos artistas, sempre divididas em sessões de uma hora, e também possui um bar com área de fumantes. O som costuma ser tão envolvente que as pessoas absorvem naturalmente a proposição de um estado mais contemplativo. A única regra ali é ficar atente aos horários para as aberturas e fechamentos de porta para não perder nenhuma sessão. É como ir ao teatro, tem que estar dentro do espaço antes do show começar!

Serviço

PROTOPIA

Data: 27 de maio de 2024, segunda-feira
Horário: Das 19h às 00h
Local: Central 1926: Praça da Bandeira, 137 – Bela Vista, São Paulo/SP
Ingressos: via Zig.Tickets [limitados a 200 pessoas]
Programação:

SALA DE ESPERA 

19:00 às 20:00 – Open bar de cerveja Blue Moon 

20:00 às 00h – Bar

SALA DE MÚSICA 

20:00 – Sessão 1 (60’) 

Mauricio Adachi (live) 

21:00 – Sessão 2 (60’) 

Dharma Jhaz + Akin (live) 

22:00 – Sessão 3 (60’) 

Anderson Kaltner (live)

GESTOS COREOGRÁFICOS:

CRATERA (com Rafaela Sahyoun, Gustavo Cabral, Dani Moraes e Mariana Molinos)

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.