Priscilla Divulgação: O2 Filmes/Sabrina Lantos

Novo filme de Sofia Coppola, “Priscilla” revela outra face de Elvis Presley

Yasmine Evaristo
Por Yasmine Evaristo

Estreia brasileira está prevista para o próximo dia 26

Quem cresceu assistindo a filmes na TV aberta brasileira nos anos 1990, viu inúmeras vezes Elvis e Eu, sobre o romance entre Priscilla e Elvis Presley. A produção de 1988, adaptação do livro autobiográfico da viúva do rei do rock, vendeu por anos a imagem de um romance novelesco. Entretanto, essa imagem muda ao assistirmos Priscilla, dirigido por Sofia Coppola, com Cailee Spaeny Jacob Elordi dando vida ao casal.

O filme de Coppola aborda o romance do ponto de vista de Priscilla Presley, trazendo a tona um lado do astro que pode incomodar membros do fã clube do astro.

cailee spaeny priscilla foto de Philippe Le Sourd

Divulgação: O2 Filmes/Philippe Le Sourd

Uma jovem apaixonada por um astro

Diferente da cinebiografia lançada por Baz Luhrman, no ano passado, o filme não cobre todos os anos de vida de Elvis. Tem como ponto de partida o período em que Priscilla Ann Beaulieu morou na Alemanha Ocidental, em 1959, com seus pais. Dessa maneira, o par tem seu primeiro contato por meio de um soldado que servia junto a Presley.

A jovem, com apenas 14 anos, caiu de amores pelo superstar, cobiçado por todas as garotas da época e sendo correspondida. Assim sendo, aos poucos, o casal se aproxima cada vez mais. Eles vivem um relacionamento à distância após o retorno do cantor para os Estados Unidos, mas não tarda para que a moça vá morar com seu amado.

Sofia enfatiza as dificuldades sofridas pela protagonista ao se adaptar. Vivendo em uma sociedade que a enxerga apenas como uma extensão do namorado, a jovem passa por alguns dilemas. Entretanto, o maior deles talvez seja a perda de qualquer perspectiva de desenvolver uma personalidade individual.

Priscilla Philippe Le Sourd

Divulgação: O2 Filmes/Philippe Le Sourd

Uma mulher que domina a forma como contam sua história

Sofia Coppola assina a direção e compartilha com Priscilla Presley o roteiro. Como consequência, o que assistimos é uma obra na qual a mulher de um grande astro pode, pela primeira vez, ter autonomia e agenciamento sobre uma narrativa que fala de sua vida. Assim sendo, o filme desmancha uma imagem há muito tempo solidificada de Elvis como uma personalidade com poucos defeitos.

Acompanhamos a despersonalização de Priscilla, uma trajetória que fragmenta a jovem Beaulieu e a molda na forma de um troféu para Presley. Entretanto, tal abordagem não tem como objetivo macular a imagem do cantor, pois seu vício em drogas, sua ausência no lar e os demais dramas que levam ao fim do casamento já são histórias conhecidas.

O que o texto da dupla e a direção permitem é que uma outra faceta de Elvis seja conhecida. O livro escrito por Presley e Sandra Harmon serviu de matéria base. Um material efervescente para preencher as lacunas sobre um lado autoritário, violento e infiel de uma da figuras midiáticas mais famosas do mercado estadunidense e mundial.

Ao mesmo tempo, acontece o desenvolvimento da protagonista, que deixa de ser uma menina e se torna uma mulher devido aos caminhos que sua vida toma após a escolha de se casar com uma pessoa pública. Spaeny consegue demonstrar esse esfacelamento da personalidade de criança, bem como os remendos para que sua nova imagem seja erguida. E, em meio a tudo isso, o vazio, a solidão e a insatisfação são ressaltados não apenas em seus gestos, mas também na cenografia e maquiagem, cabelo e figurino.

Priscilla still

Divulgação: O2 Filmes

Outra vez, Sofia fala sobre relacionamentos afetivos e seu impacto na vida de algumas mulheres

Sofia Coppola ganhou destaque no cinema ao dirigir seu primeiro longa metragem Encontros e Desencontros (disponível no Telecine e no Prime Vídeo), em 2003, que aborda o encontro entre um astro de cinema e a esposa de um fotografo de celebridades em Tóquio. Mas não trata apenas de um encontro casual, pois seu foco é nas ausências e nos desconfortos provocados por elas.

Em 2007, Coppola consegue emplacar outro sucesso, desta vez uma biografia estilizada com estética de casa de bonecas sobre Maria Antonieta. Menos histórico do que alguns questionam, a produção sobre a jovem monarca mira nas formas como uma mulher daquele período (século 18) precisava se submeter às normas impostas pela sociedade. Antonieta casou jovem, viveu imersa em um mundo de ilusão e futilidade e perdeu a cabeça, literalmente, como consequência de uma política da qual era alheia.

Assim como Maria Antonieta, Priscilla Presley foi uma mulher modelada para ser um objeto de virtuosismo e desejo; um exemplo de perfeição. Ambas tiveram um caminho de vida marcado por altos e baixos, entretanto, apenas uma delas conseguiu sair a tempo da armadilha que suas relações se tornaram.

Em suma, as realizações de Sofia observam as diversas formas de opressão que mulheres sofreram e sofrem em épocas diferentes. Ela cria personagens tristes, melancólicas e solitárias. Ademais, suas produções não tratam da diversidade de mulheres existentes, mas sem dúvidas, dentro dos recortes propostos pela cineasta, o tema é desenvolvido com primor.

No Brasil, Priscilla está com sua estreia prevista para terça-feira da próxima semana, dia 26 de dezembro.

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Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, graduanda em Letras - Tecnologias da Edição. Membro Abraccine, votante do Globo de Ouro (Golden Globe Awards). Pesquisadora de cinema, principalmente do gênero fantástico, bem como representação e representatividade de pessoas negras no cinema. Devota da santíssima trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch.

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