Final do concurso pegou fogo após proibir bandeiras (incluindo a da União Europeia)
Nem mesmo a vitória de Nemo, o primeiro artista não binário nos 68 anos de história do concurso Eurovision, transmitido na TV no último dia 11, abrandou as críticas à iniciativa da produção de proibir, na plateia, bandeira de qualquer país cujos participantes não estivessem na final. Tentando fazer com que a regra ficasse meio despercebida entre todos, a EBU (European Brodcasting United) também tirou, pela primeira vez, a bandeira da União Europeia do palco. O tiro saiu pela culatra.
A proibição começou a rolar no ano passado, quando fãs do show de TV começaram a levar bandeiras da Geórgia e da Palestina nas transmissões, além das tradicionais representações de países Europeus, comuns na plateia. Seguindo um padrão de conduta estabelecido pela EBU, ser um festival politicamente neutro, a organização temeu que as manifestações ganhassem corpo e acabou proibindo bandeiras. Só podiam ser balançadas aquelas de países cujos participantes estivessem na disputa.
Vale uma explicação. Apesar de ser um mero concurso de canções e intérpretes (de bastante sucesso), o Eurovision tem um formato que mistura Miss Universo com Champions League. Apesar de os cantores disputarem de forma independente, eles são fortemente ligados, durante o decorrer do concurso, ao seu país de origem. Isso gera, entre os fanáticos torcedores que se formam a cada ano, uma espécie de nacionalismo do tipo “é do Brasiiiiiiiiiil”. O público torce não só pelo artista em si, mas também por ele ser seu conterrâneo. Uma característica que ajudou no sucesso do evento, tornando-o uma espécie de olimpíada musical europeia.
É por isso que a proibição de bandeiras causou um tremendo bafafá, principalmente na transmissão da final, quando a EBU não estendeu a bandeira da União Europeia no palco.
O choque foi tão grande que Margaritis Schina, vice presidente da UE, bradou que o festival estava dando “voz aos inimigos da Europa”, dando ao Eurovision um protagonismo político nunca antes imaginado. “Não há explicação lógica para o que a EBU está fazendo. A quem eles servem? A menos de um mês antes das eleições europeias, quem se beneficia do banimento da bandeira da União Europeia do Eurovision? Somente os críticos da UE e os inimigos da Europa”, disse Schina ao Politico’s Brussels Playbook.
A discussão se acirrou também entre os participantes. Nemo criticou o concurso sobre a proibição da bandeira da comunidade não binária, que representa, na platéia. “A EBU pode consertar isso, assim como pode consertar meu troféu”, disse em coletiva, referindo ao troféu de cristal que acidentalmente se quebrou, ao receber o prêmio na final.
A proibição de bandeiras não foi o único chilique da organização do Eurovision para manter suas regras de neutralidade. O representante da Irlanda, Bambie Thug, foi obrigado a retirar as frases “cessar fogo” e “liberdade para a Palestina” de sua apresentação. Em entrevista, o artista contou acreditar ter sido prejudicado pelos juízes do concurso por tornar pública suas ideologias políticas. “Nós fazemos o Eurovision ser como é. O mundo está falando. Os gays estão falando. Foda-se a EBU, os não binários venceram”, conclui Thug, em vídeo publicado no TikTok. O artista decidiu apagar a publicação, horas depois.
Ao tentar pular fora das discussões políticas atuais da Europa, o concurso acabou chamando ainda mais atenção. Mais de mil artistas europeus como Roby, First Aid Kit e Olly Alexander assinaram um protesto para que seus colegas e o público boicotem o festival.
Para a EBU, resta agora juntar os cacos de sua imagem (e do troféu de Nemo) para a edição 2025.