Foto: ReproduçãoComo os bailes da Bauhaus foram a quintessência da “festa da facul”
Saiba mais sobre a escola que fez história na Alemanha nas primeiras décadas do século 20
Festas à fantasia são muito legais. Pura diversão em que os frequentadores se dedicam por semanas antes do grande evento para arrasar na caracterização mais bacana, engraçada e trabalhada. Mas e se o rolê for dentro de uma das mais inovadoras escolas de arte e design da história da humanidade, recheada de artistas e arquitetos visionários, ideologicamente promotores de uma interação entre forma, cores e sociedade misturando pintura, teatro, cadeira, roupa e edifício numa coisa só? Então, meine freunde, temos os bailes da Bauhaus — a quintessência da “festa da facul”.

A escola conhecida como Bauhaus foi fundada em Weimar, 300 quilômetros a sudoeste de Berlim, em 1919, na ressaca da Primeira Guerra Mundial. Era uma tentativa de imaginar um novo futuro através da arte, assumindo de vez a estética da sociedade industrial, transformando seus insumos em inspiração para criar bem-estar.
Seis anos após sua fundação, a extrema-direita que estragaria a Alemanha em pouco tempo começou a mostrar suas garras, cortando o orçamento da escola, que se mudou para Dessau, onde viveu seu período mais produtivo e contestador, até ser fechada pelos nazistas em 1932, sob a acusação de ser “comunista” e “degenerada”. Infeliz curiosidade, os fornos assassinos de Auschwitz, que mataram oito alunos da Bauhas, incluindo o genial Otti Berger, foram desenhados por um ex-colega, o arquiteto Fritz Ertl. Na Meca da arte modernista, teve quem não aprendeu nada além da superfície técnica.
No maior exemplo de que festa é resistência, a escola mantinha no calendário anual celebrações temáticas, com o objetivo de unir professores, funcionários e alunos. Esqueça a Noite da Porca e do Parafuso ou o Especial Halloween. O bagulho ali era profundo! Cada evento tinha, por trás da ideia das fantasias, um complexo conceito artístico obrigatoriamente transferido a cada um que quisesse curtir uma noite de música, performances e bebericagens.

O prédio da escola Bauhaus em Dessau. Foto: Reprodução
A Metallisches Fest (“Festa do Metal”), por exemplo, tinha como proposta repensar a relação entre a industrialização das cidades e o ser humano, transmitida nas performances artísticas e, claro, em cada figurino. Tudo funcionava como uma espécie de “dever de casa”, muito longe do ato de simplesmente passar na loja de esquina e alugar uma fantasia de pirata. Na Das Weisse Fest (“Festa do Branco”), o convite era absurdamente didático: as roupas deveriam ter 2/3 de branco e 1/3 de cor, dividas em quadrados, círculos ou listras. Não à toa, a Bauhaus influenciou tremendamente o mundo da moda, durante e após sua existência.
O cuidado estético e conceitual não se restringia às fantasias. Os flyers de divulgação eram icônicos, propulsores de novas tipografias. A decoração do salão de festas era cuidadosamente pensada, assim como as performances artísticas. Nada escapava do “jeito Bauhaus” de pensar o mundo. E claro que a “experiência” também passava pela música.
Os bailes da Bauhaus foram um dos núcleos precursores da música eletrônica e do dub reggae. Liderada pelo saxofonista Xanti Schawinsky, a banda formada por alunos fazia do salão de festas um verdadeiro laboratório sonoro. Pedaços de papel e parafuso eram colocados nas cordas do piano para criar sons disfônicos, ao lado de motores de ventiladores que produziam um zumbido intermitente.

Baile da Bauhaus em 1931. Foto: Reprodução
Martelos, barris e máquinas de tecelagem eram usadas para produzir ritmos industriais, e até mesmo tubos de metal eram tocados no corrimão dos corredores e das escadas, para produzir efeitos de eco. Se mais tarde tivemos a música concreta de Pierre Schaeffer, o experimentalismo eletrônico de John Cage e até mesmo as raves em galpões abandonados ao som de techno, tudo é culpa das “festinhas da facul” da Bauhaus!



