Chris LIberator no palco Chris Liberator – foto: reprodução Youtube

Nos embalos da TB303. Como o Acid Techno chegou ao Brasil e segue animado até hoje

DJ Popis
Por DJ Popis

O Acid Techno chegou ao Brasil nos anos 90, embalou a viagem de milhares de paulistanos e até hoje reverbera em grandes festas da cidade. Conheça sua história

No início, era tudo por amor.. amor à musica, amor à liberdade, e ao novo horizonte que se desenhava para a Música Eletrônica. O tempo era de revolução..you say ou wanna a rave-olution.

Foi nesse cenário que, em meados dos anos 90, nasce na Inglaterra “The Liberators DJs”, a intrépida equipe de DJs que saiu das Squat parties (festas promovidas em ocupações de prédios desabitados e áreas urbanas abandonadas como galpões e fábricas) do norte de Londres e entrou no circuito de festivais gratuitos: as raves. O primeiro selo de Acid Techno da história, Stay Up Forever, foi fundado em 1993 pelos Liberators (Chris, Aaron e Julian) que nessa época começaram a produzir suas próprias músicas junto com Dave the Drummer, Geezer, DDr e Andy. Uma gravadora com 30 anos de história e um coletivo de selos com ideias semelhantes (The SUF Collective): um grupo de músicos e djs que criam um som híbrido, cheio de energia, totalmente diferente do que se tocava na época. Nasce assim o Acid Techno.

The Liberators DJs

The Liberators Djs – foto: divulgação

 

Enquanto isso, no Brasil

No Brasil, nessa mesma década, o movimento da cena eletrônica estava começando a se desenvolver, foram várias festas, pessoas e momentos que entraram para história da e-music brasileira, e durante um bate-papo com a lenda viva Camilo Rocha, pudemos relembrar alguns desses momentos.

A história de como a música eletrônica começou no Brasil se difundiu e desenvolveu é extensa. Pra quem quiser se aprofundar mais no assunto, temos hoje o livro da nossa querida Claudia Assef, jornalista, mãe, dj, produtora, curadora e autora de “Todo DJ já sambou”. Pra completar essa história também, logo logo Camilo Rocha irá publicar seu livro com relatos dessa época do descobrimento da Música Eletrônica no país.

E este personagem, o Camilo, teve uma importância imensa para mostrar a São Paulo um som que se tornou, por muito tempo, a cara da cidade: o Acid Techno. Para compreender sua trajetória aqui, relembramos alguns momentos que marcaram e como as ondas da TB 303 reverberaram pela cidade.

No início dos anos 90 Camilo conta que passou 3 anos morando na Inglaterra, frequentou muitas Squat parties, free parties e alguns festivais no campo. Assim que voltou para o Brasil decidiu juntar alguns amigos e organizar uma festa.  Em dezembro de 95, a Techno Bells entrou para a história do underground da cidade de São Paulo. A festa foi regada por Acid Techno, Techno e Goa Trance.

Ao mesmo tempo que clubes como a Sra. Krawitz, Sound Factory, Hells, Massivo, Aloka e outros abrigavam um público que começava a explorar o lado urbano da música eletrônica, surgiram também as primeiras festas ao ar livre como a Rave Patrol, Funky Techno Party em 99, embrião de Groove Nation realizada por Alex S e Eli Iwasa, que depois virou SP Groove, cujo DJ residente era nada mais nada menos que Chris Liberator. A partir dos anos 2000 Circuito Techno, The Influence foram festas open air que estiveram presentes na cena paulista e no interior de sp.

Chris Liberator com Camilo Rocha, Alex S e Dimitri (SP Groove)

Chris Liberator com Camilo Rocha, Alex S e Dimitri (SP Groove) – foto: reprodução Facebook.

As mulheres sempre mostraram sua força na criação da cena. Além da participação ativa da DJ e empresária Eli Iwasa como sócia da Groove Nation e no comando de uma das noites do LOV.E Club; Ana, que com o marido David formam a dupla PETDuo, e na mesma época Mara Bruiser, foram para Inglaterra. Mara também começou a frequentar as festas em prédios invadidos e em pouco tempo virou DJ respeitada no underground londrino fazendo parte do selo 4×4 Music. Hoje em dia Ana ainda mora na Europa, baseada em Berlim, e Mara está de volta ao Brasil onde continua difundindo a cultura do Acid Techno.

Eli Iwasa - in action

Eli Iwasa –
foto: divulgação

Ana (PETDuo) - in action

Ana (PETDuo) –
foto: divulgação

Mara Bruiser - in action

Mara Bruiser – foto: divulgação

O tempo foi passando e a cena Techno no Brasil foi se segmentando, hoje poucos crews e produtores musicais se dedicam a esse estilo. Ainda assim temos alguns produtores e selos que mantém a chama do Acid Techno acesa como: Many Birds criado em 2013 pelo Paulo aka Acid Chochi que em 2018 junto com Tiago Santos e Marcio M criaram a Southside Records levando adiante a verdadeira essência do ACID TECHNO no Brasil.

E hoje? Onde está a Rave?

Quando pensamos em eventos nesse mesmo formato no Brasil, não podemos deixar de falar da Techno Route, que acredita e continua levando a cultura pra frente. No seu décimo oitavo ano, a TR se conservou no Underground e trouxe grandes nomes da cena do mundo todo. Uma das festas mais tradicionais da cena Techno de São Paulo, Techno Route promete fazer uma edição de tirar o fôlego nesse final de semana , afinal são quase 3 anos sem poder festejar, encontrar os amigos e claro, ouvir muita música boa!!!

Uma Crew muito importante no meio eletrônico para esse revival é a Cosmic 303, organizado pelo DJ Paulinho Boo, que também tem feito edições em galpões urbanos totalmente dedicada ao estilo.  E assim, as TB seguem gritando pela noite de São Paulo.

Nessa edição de 18 anos da TR, vários dinossauros brasileiros estão no line up, dentre eles Camilo Rocha que junto com Alex S promete fazer um set bem animado, cheio de grooves, muitas músicas do final dos anos 90 começo dos anos 2000, misturado com coisas novas. Além desse baita time, as principais atrações estrangeiras são os britânicos Aaron Liberator e Sterling Moss.

E advinha..o Music Non Stop conseguiu bater um papo com eles.. confira aqui embaixo quais as expectativas deles para a festa, projetos para o futuro e o que nós podemos esperar da volta deles ao Brasil.

Mas antes vamos conhecer melhor um pouco a história de cada um. 🙂

Aaron Liberator

Aaron começou sua trajetória como DJ em 1992. Nos anos 80 ele trabalhava em Londres e frequentava as boates, gostava de Dance Music e particularmente de black music, house. Ele ouvia Acid house, isso foi quando ele conheceu Chris e Julian. Foi aí que começou a frequentar as Squat parties em Londres e criaram a lendária Stay Up Forever.

Hoje faz parte da SUF Bookings, agência que conta com grandes nomes como DAVE The Drummer, Chris Liberator, ANT, DDR, Rowland The Bastard, Rackitt, Larwie Immerison aka Pounding Grooves e Geezer.

Aaron Liberator - in action

Aaron Liberator –
foto: divulgação

Music non Stop: Olá Aaron, tudo bem? Bem, em primeiro lugar, é um enorme prazer falar com você e estou muito feliz e agradecida por isso. Gostaríamos de dizer que estamos muito animados para o sua gig na TR e de braços e ouvidos bem abertos para você.

Aaron Liberator: Eu também haha

MNS: Conte-nos suas expectativas para voltar ao Brasil?

AL: Estou tão animado para voltar. O Brasil e especialmente São Paulo são como uma segunda casa para a família Stay Up Forever. Para mim, trata-se de ver velhos amigos, comer comida incrível e, claro, Techno!!!

MNS: A primeira vez que você veio ao nosso país foi em 2004 para SP Groove, ou antes disso? lembra como você se sentiu?

AL: Antes, eu já tinha ido algumas vezes antes disso, primeiro no Rio no final dos anos noventa. As festas SP Groove são lendárias e eu me diverti muito lá (grandes abraços e obrigado a Alex S por me trazer). Lembro-me de tocar com Chris Liberator no último set da festa. Chovia muito e muita gente não correu para se esconder, mas ficou para dançar sem se importar muito, alguns caindo na lama e depois voltando a dançar.

MNS: Você pode nos contar algumas de suas referências musicais? O que mais te inspirou e continua te inspirando a criar sua própria música?

AL: Uma referência musical que serviu de inspiração foi uma banda chamada Tackhead, uma banda de funk industrial que nos anos 80, D.A.V.E The Drummer, Geezer, Julain, Chris e eu amávamos até a morte. Acho que eles tiveram alguma influência sobre todos nós.

O melhor de tudo sobre a dance music é que é tudo sobre novidade. Então você está sempre inspirado por novos artistas, novas técnicas de produção e estilos em constante mudança. Acid Techno está tendo um renascimento agora com grandes novos artistas e algumas das melhores e maiores músicas de toda a sua história.

MNS: Como está o Acid Techno e a cena rave no Reino Unido hoje em dia?

AL: Obviamente, o covid matou todos os eventos e apenas neste ano as coisas começam a voltar ao normal no Reino Unido. Fomos salvos por um clube em Londres chamado Fold onde fizemos algumas festas. Seu estilo é inspirado em clubes em Berlim, onde é realmente inclusivo, seguro e muito hard.

A cena do squat party também está voltando à vida, então esperamos coisas boas por lá este ano.
Uma coisa interessante é que muitos grandes djs de techno como Perc, DJax J e Charlotte De Witt estão tocando Acid techno em seus sets e referenciando o Stay Up Forever e os outros selos da cena. Espero que isso traga reconhecimento ao novo artista que faz acid Techno.

MSN: Como você vê a cena Techno brasileira?

AL: O Brasil tem uma longa história com o Techno. Por onde eu começo? Alguns dos melhores produtores do mundo vêm daqui. Algumas das grandes estrelas que consigo pensar são Mara Bruiser, Murphy, Snoop e Pet Duo.

Techno Route é um bom exemplo do que eu gosto na cena aqui. Parece uma grande família onde não importa sua aparência, pois todos estão lá para a música. Eu acho que é o oposto dos clubbers da moda comercial. Eu sempre me sinto em casa aqui, pois me lembra a cena inglesa em alguns aspectos.
Outra grande coisa acontecendo aqui são os novos e não tão novos produtores como Acid Chochi, Tiago Santos, Stefano TT e Macio M. e selos que apoiam o acid techno como o selo (RE)SET estão recebendo muita atenção na Europa.

MNS: A Stay Up é chefiada apenas por você e Chris? Como está indo com a pandemia e quais são os planos futuros para a gravadora?

AL: Sim, somos só eu e Chris. Passamos por momentos muito difíceis e eu sempre digo ao Chris que, quando acabar, sairemos em alta. Eu acho que com o tanto de música tão boa, ainda é muito inspirador para nós.
Chris está praticamente administrando a gravadora sozinho (estou fazendo dubplates na vinilcarvers,com) e ele está fazendo um trabalho incrível conseguindo muitos lançamentos de vinil saindo em durante a pandemia, realmente ajudando a manter a cena viva. Não é fácil, pois as fábricas de prensagem onde os vinis são feitos têm muito trabalho, então você pode ter de esperar até um ano para receber o vinil que você encomendou. É muito difícil manter tudo funcionando, mas a música nos impulsiona.

MSN: O 909 London é uma das principais formas de comprar música Techno. Como vai o site?

AL: O 909 London tem sido realmente o único lugar para obter os lançamentos de acid techno. O site é antigo agora e precisa de trabalho para melhorar sua estrutura. Estamos nos movendo mais para o Bandcamp, que está funcionando bem para nós e outras gravadoras como Hydraulix. Eu sinto que precisamos nos concentrar mais em nosso digital… se tivermos mais tempo haha.

MNS: Que conselho você daria para os próximos djs e produtores do Acid Techno Music?

AL: Em primeiro lugar, você precisa acreditar em si mesmo e em suas ideias. Você precisa levar isso a sério e trabalhar duro se quiser chegar a algum lugar com isso. O padrão é alto e leva tempo para chegar lá, então você também precisa ser paciente.

Sterling Moss

Sterling Moss é conhecido por seu estilo de som explosivo que nunca deixa de eletrizar multidões. Tendo excursionado em mais de 25 países na América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia, África e Austrália, agora faz residência com Harley Davidson como DJ de turnê em seus Festivais. Sterling trabalhou ao lado da equipe Stay Up Forever nos últimos anos, alimentando incansavelmente uma rebelião impulsionada por 303 e 909 no estúdio, hoje leva com muito amor seu label Rebeltek que já está chegando ao seu oitavo lançamento.

Sterling Moss - in action

Sterling Moss – foto: divulgação

MNS: Conte-nos quando foi a primeira vez que você veio ao Brasil e como foi a sensação?

SM: Foi há alguns anos para Alex S na SP Groove – eu estava com Chris Liberator e foi uma festa muito legal! Também foi tão bom sair com a galera da cidade  – eles são o espírito de São Paulo.

MNS: Como está a expectativa para o seu retorno?

SM: Estou realmente ansioso para voltar! Estarei com Aaron Liberator desta vez, e vamos arrebentar na Techno Route neste fim de semana!

MNS: Como você conheceu os Liberators e como começou sua carreira musical?

SM: Eu estava organizando festas em Londres no final dos anos 90, então costumava contratar os Liberators para tocar para mim, mas eu realmente os conheci quando trabalhei na Kinetec Records em Londres por volta de 1999, e os escritórios do Stay Up Forever ficavam no andar de cima da nós, então passamos bastante tempo juntos.

Comecei a trabalhar com música na escola quando criança, aprendendo a tocar piano e saxofone, mas minha carreira realmente começou alguns anos depois quando vendi meu saxofone para comprar uma mesa de mixagem Mackie, e então começar a construir meu estúdio.

MNS: Você ainda trabalha como programador oficial da Roland (Sintetizadores)? O que há de novo?

SM: Não faço nenhuma programação para a Roland há alguns anos, embora tenha feito alguns testes de produtos para eles quando lançaram sua linha de boutique. Em termos de exploração de novos sintetizadores, eu peguei alguns dos novos analógicos Behringer nos últimos dois anos, e eles estão soando muito bem!

MNS: Como está sua gravadora Rebeltek e quais são os planos para o futuro?

SM: A Rebeltek está indo muito bem, o último lançamento número 008 será lançado nesta sexta-feira, 11 de março, em edição limitada em vinil verde marmorizado e digital, com três faixas de Acid minhas. 009 acaba de ser finalizado e conta com colaborações com DSTM, Bad Boy Pete e Miro Hard Party. Este será enviado para prensar em vinil em breve, mas a indústria está lenta para produzir discos no momento, então levará alguns meses para sair

MNS: Como você vê a cena Techno no Reino Unido e no resto do mundo e que conselho você daria para os novos djs e produtores de Acid Techno?

SM: A cena techno globalmente está muito forte no momento, com um interesse particular em Acid Techno. Para alguns pode ser uma moda, mas para nós é uma paixão, então nunca foi embora. Meu conselho para novos djs e produtores é: não desista, seja humilde, use uma combinação de equipamentos analógicos e digitais e seja real – você não pode fingir essa música.

Flyer festa Techno Route

Festa Techno Route –
foto: divulgação

Apertem os cintos então e bora para a festança que irá acontecer amanhã dia 12/03 sábado e terá início 12h00 (meio-dia).

Atrações:

12h00 Mou
13h00 Double Tech DJz
14h30 Mara Bruiser
16h00 AARON LIBERATOR (Stay Up Forever – Inglaterra)
18h00 STERLING MOSS (Rebeltek/Stay Up Forever – Inglaterra)
20h00 Fab
21h00 Alex S b2b Camilo Rocha
22h30 AARON LIBERATOR & STERLING MOSS
00h00 The End

Ingressos limitados – Venda somente online: www.technoroute.com.br

Ravers na pista da TR

Ravers na pista da TR -foto: divulgação

 

 

Com Amor POPIS 🙂

 

Colaboraram:
Camilo Rocha – https://www.instagram.com/bateestaca/
Jota Wagner – https://www.instagram.com/jota.wagner/
DJ Janczur – https://www.instagram.com/dj.janczur/
Fab – https://www.instagram.com/tecnofab/

DJ Popis

Amante e frequentadora da cena eletrônica desde o início dos anos 2000, Karina Moraes Silva aka POPIS é Musicista, nasceu e cresceu ouvindo House e Disco Music por influência do pai DJ e Radialista dos anos 80. Começou seu caminho musical na infância, estudando e tocando violino, mas sua paixão por pistas e raves falou mais alto e foi nos cdjs que ela se encontrou começando a discotecar em 2008. DJ residente da Cosmic 303 festa de Techno da Cosmic crew, POPIS agora mostra sua versatilidade compartilhando e escrevendo sobre o que mais ama na vida.. a MÚSICA!

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