Bleach Imagem: Reprodução

5 fatos que você não sabia sobre ‘Bleach’, primeiro disco do Nirvana

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Álbum de estreia do lendário grupo de Seattle está fazendo 35 anos

Em 15 de junho de 1989, há 35 anos, Bleach, o álbum de estreia do Nirvana, chegava às lojas (depois de um tremendo atraso) e dava o pontapé inicial a uma aburdamente meteórica carreira para três garotos enfadados que viviam nos arredores de Seattle, nos Estados Unidos. Em apenas sete anos de atividade, o grupo alcançou o estrelato, viajou o mundo, mudou a música e acabou tragicamente, após o suicídio de seu fundador e principal compositor, Kurt Cobain.

O disco é envolto de curiosidades que comprovam que, quando foi lançado, tinha a expectativa de ser apenas mais um disco independente de uma banda de garagem estadunidense. Pelo contrário, foi um divisor de águas e, a história mambembe de seu lançamento inspirou muita gente que, com pouco dinheiro e muita energia, sonhou em seguir os passos do Nirvana.

Em uma audição nos dias de hoje, parece que o processo de gravação foi um cuidadoso processo para registrar a essência do grupo. Barulhento, cru e visceral.

Apesar do indiscutível talento criativo dos seus integrantes, dá para dizer que as condições em que Bleach foi gravado ajudaram tanto a moldar a banda quanto as próprias músicas. Confira abaixo cinco fatos que você não sabia sobre o álbum:

Bleach foi pago por um fã

Apesar de ter sido orçado em míseros 607 dólares, Kurt Cobain, Krist Novoselic, Dave Grohl e a própria gravadora, a independente Sub Pop, não tinham um centavo no bolso para tornar o sonho realidade. A solução apareceu quando Jason Everman, que havia se encantado com a primeira demo tape da banda, se dispôs a ajudar. O cara, que mais tarde faria parte do Soundgarden por um curto período de tempo, tirou a grana do bolso e financiou a gravação com o produtor Jack Endino.

Como retribuição, o Nirvana deu créditos a Everman como segundo guitarrista no disco e ainda colocou no encarte uma foto com ele posando como se ele fizesse parte da banda. O investidor mirim não tocou um só acorde de guitarra nas gravações de Bleach, mas Novoselic mais tarde afirmou: “nós quisemos fazer com que ele se sentisse em casa, enquanto estivesse conosco”.

E o perrengue não acabou por aí

Toda a história que envolve o LP está mergulhada em uma situação de absoluto caos financeiro. O valor financiado pelo amigo fã era suficiente para 30 horas de gravação, tempo utilizado para gravar todo o disco. Isso explica um pouco da crueza sonora que acabou virando marca registrada do Nirvana. Além disso, a Sub Pop não tinha dinheiro em caixa nem para distribuir os CDs paras lojas, o que atrasou o lançamento em vários meses além do plano original. Bleach só foi lançado quando a gravadora conseguiu juntar um dinheiro para pagar as despesas de distribuição e marketing.

“Vocês tem que soar grunge”

O que faltava em capacidade financeira para a Sub Pop, sobrava em princípios. A gravadora fazia questão que a banda fosse mais uma representante da nova onda grunge que se formava em Seattle, e isso não tinha negociação. Bleach, então, teve de ser todo repensado às vésperas da gravação. Kurt Cobain tirou do repertório todas as músicas que, em sua visão, soavam mais pop. As letras também deveriam ser mais soturnas e melancólicas, o que o obrigou a reescrever todas elas em pouco mais de uma noite. Mais tarde, o artista revelou que a inspiração para criar todos os versos novamente foi  “a chatice de viver em Aberdeen”.

O logotipo saiu por acidente

A capa de Bleach foi produzida usando uma foto tirada pela então namorada de Kurt, Tracy Marander. A gravadora enviou o negativo para os designers gráficos Lisa Orth e Grand Alden. Como a dupla não havia recebido o logotipo da banda, escolheu uma fonte aleatória (chamada Onix) e enviou a todos uma amostra prévia do design, aguardando até que a gravadora lhe enviasse o logotipo oficial do Nirvana, que ainda não existia. Ao ver a sugestão da capa, a banda viu seu nome escrito daquele jeito e mandou um “vai assim mesmo”, para acelerar o processo. O logotipo acidental se tornou um dos mais icônicos do rock, e hoje passeia no peito de milhares de fãs , impresso em camisetas ao redor do mundo.

Três bateristas e um álbum

No dia em que o Nirvana deveria entrar em estúdio para gravar Bleach, Dave Grohl ainda “não estava pronto”. Afinal, ele só entraria de verdade na banda no ano seguinte, em 1990. A solução foi fazer um catadão de última hora. Dale Crover, vocalista do The Melvins, apareceu no estúdio e gravou três músicas: Floyd the Barber, Paper Cuts e Downer. O resto ficou a cabo de Chad Channing, músico já com os dias contados no grupo, que completou o álbum. Dave Grohl foi oficializado somente depois do lançamento e, na história, ficou eternizado como o integrante oficial do trio.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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