Exclusivo: “No Rock in Rio, os olhares da música eletrônica vão estar voltados somente ao New Dance Order”
Diretor artístico do palco eletrônico, Claudio da Rocha Miranda Filho revela novidades para 2024
Desde 2001, o Rock in Rio traz um olhar voltado à música eletrônica em sua curadoria artística. O sarrafo, entretanto, aumentou mesmo em 2019, com a instauração do seu palco exclusivamente voltado à dance music, o New Dance Order.
Com 65 metros de extensão, 24 metros de altura, 560 metros quadrados de LED Screen e pirotecnia e lasers de última geração, o espaço já recebeu em suas três aparições — também foi atração na estreia do The Town — nomes como Alesso, Vintage Culture, Alok, ANNA, Eli Iwasa, Lost Frequencies, Robin Schulz, Cat Dealers, Infected Mushroom, Tropkillaz, Claptone, Above & Beyond, Gui Boratto, DJ Mau Mau, Otto Knows, Vitalic e Kerri Chandler.
Mais recentemente, porém, os DJs mais populares foram escalados em outros ambientes, como o Palco Mundo — o que está prestes a mudar agora em 2024.
Quem garante é o diretor artístico do New Dance Order, Claudio da Rocha Miranda Filho, que, em papo com Claudia Assef para o Music Non Stop, adiantou algumas novidades para este ano. O RiR rola nos dias 13, 14, 15, 19, 20, 21 e 22 de setembro.
Claudia Assef: Você acha que o Rock in Rio já assimilou o palco eletrônico?
Claudio da Rocha Miranda Filho: O Rock in Rio, desde sua terceira edição, em 2001, traz um olhar voltado para a música eletrônica. Na época, a chamada Tenda Eletrônica contou com 25 atrações em sua estreia. O mercado de música eletrônica ganhou uma boa maturidade entre os anos 2002 e 2010. Quando o RiR retornou ao país, em 2011, a cena já era consolidada.
Dali até 2017, a tenda ganhou espaço e notoriedade, até que, finalmente, em 2019, acontece uma revolução nesse processo com o nascimento do New Dance Order. O palco chega com uma superestrutura e com um line-up mais mainstream e pop. Na época, a eletrônica já tinha também alcançado esse status de ser uma música mais acessível. O NDO foi um grande sucesso nas edições de 2019 e 2022.
Agora, a gente entra em 2024 ainda mais potentes, com uma orientação curatorial nos demais palcos de direcionar os grandes DJs para o NDO. Já tivemos DJs como Alok, marshmello e David Guetta no Brasil, além de Calvin Harris, Steve Aoki e Tiësto em Lisboa, que são atrações mainstream e que cabem em um Palco Mundo. No entanto, pelo gigantismo, estrutura e força do New Dance Order, a partir de 2024, a gente alinhou artisticamente de direcionar os grandes DJs para o palco de dance music.
Portanto, neste ano especial, não teremos DJs no Palco Mundo, no Sunset, ou em qualquer outro da Cidade do Rock. Os olhares da música eletrônica vão estar voltados somente para o New Dance Order.
Já é uma tradição, tanto para o festival quanto para o público, o encerramento de cada dia de RiR na grande festa que acontece no palco eletrônico, que tem o horário das 14h às 04h, sempre com um público muito grande nos shows dos últimos artistas, que são os headliners do espaço.
Como fazer o New Dance Order extrapolar o nicho eletrônico e alcançar mais pessoas?
Em 2024, vamos extrapolar o nicho com grandes atrações e contando com a criatividade e encontros de artistas — como já aconteceu anteriormente com Marina Lima e Fernanda Abreu com DJs de música eletrônica —, além de incrementar as experiências e as performances musicais com bandas, vocalistas e instrumentistas.
Quais as vantagens e desvantagens de fazer um palco num dos maiores festivais de rock do mundo praticamente apenas com DJs?
O Rock in Rio proporciona uma visibilidade extraordinária para os artistas que passam por ali. Em alguns momentos, temos o desafio de manter a audiência do New Dance Order quando se tem um headliner se apresentando no Palco Mundo, por exemplo. No entanto, temos a criatividade como maior aliada. Podemos proporcionar momentos, encontros, performances, efeitos e storytellings para que cada atração do palco esteja viva e acontecendo a todo momento, independentemente do vizinho.
Como é construído o line-up? De alguma forma, você busca uma conexão com a escalação dos outros palcos?
O RiR é um festival mainstream, feito para 700 mil pessoas de todas as idades. Naturalmente, é preciso ter um olhar para os grandes nomes, os populares e os medalhões. A relação com os outros palcos pode acontecer, mas não é uma regra em si. Eu já tive experiências com esses dois cenários.
Às vezes, em um dia dedicado ao rock, podemos optar por algo musicalmente mais forte. Ao mesmo tempo, um house, pop ou mainstream também pode funcionar. São muitos gostos. A eletrônica também é plural. Por mais que o DJ tenha um set e uma linha sonora, quando entende quem está tocando nos outros palcos, um pouco da energia do momento, ele de alguma forma adequa o seu set. O DJ tem essa beleza, né? Ele faz as produções próprias, mas também pega emprestado de outros produtores.
Dessa forma, a gente vai olhando, sim, na hora da curadoria, o que está acontecendo do outro lado. Ao mesmo tempo, vai tentando combinar, mas não necessariamente acontece uma coisa casada com a outra. Há uma independência, há uma autonomia e há uma liberdade criativa e artística para cada um dos palcos. Mas claro, temos uma unidade e uma narrativa que precisam, sim, estar coesas.
Poderia adiantar um pouco do storytelling do New Dance Order de 2024 pra gente?
Estamos trabalhando muito para mais uma edição histórica do Rock in Rio, que desta vez será ainda mais especial por conta da celebração de 40 anos do festival. Estamos montando um line-up gigante, que será histórico, e traçando um conceito mágico que tenho a certeza que vai impressionar a todos. O público pode aguardar que, em breve, vamos trazer todas as novidades do New Dance Order!
No universo dos DJs, foi mais fácil chegar a uma — quase — equidade de gêneros?
A música eletrônica sempre foi muito plural. Mas ao longo dos anos, foi notório o crescimento do protagonismo e destaque das mulheres na cena, desde as festas underground até no mainstream e em grandes festivais mundo afora. No universo dos DJs, existe uma cultura de acolhimento muito forte a todos os gêneros, sendo um espaço muito respeitoso. É um processo que cada vez mais está se tornando realidade.
No Rock in Rio, buscamos construir um line-up que também dá protagonismo às mulheres. Em 2022, no chamado Dia Delas, tivemos um dia inteiro apenas com atrações femininas na programação. Neste ano, não será diferente. No Dia Delas, que está marcado para 20 de setembro, o público pode esperar por um line-up repleto de mulheres talentosas e potentes, que colocarão todos para dançar até as 04h da manhã.