Ella de Vuono Rockin Rio Ella de Vuono – foto: divulgação Rock in Rio

O Rock in Rio das DJs Mulheres. As brasileiras arrasaram no palco New Dance Order em noite simbólica para o mercado da música

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Em dia totalmente dedicado às atrações femininas, o palco New Dance Order teve protagonismo brasileiro e coletividade no backstage

As mulheres deram mais um passo na busca pela igualdade nos line ups dos grandes festivais. Pela primeira vez, o Rock in Rio dedicou um dia do festival (e justamente o de encerramento) às atrações femininas.

Embora ainda tenhamos um longo caminho a percorrer – afinal, igualdade é uma curadoria 50 / 50 porcento no festival inteiro e ele deve se estender também à equipe técnica, direção e produção – a atitude do festival mostra preocupação com o tema e isso deverá certamente reverberar entre todos os outros grandes eventos. O assunto foi colocado na mesa e de lá, definitivamente, não sairá.

O Music Non Stop acompanhou de perto o palco New Dance Order, emocionante e coletivo. O grande protagonismo da noite foi das brasileiras. O que, no caso da cultura DJ nacional, não é surpreendente.

O Brasil tem uma longa história na discotecagem feminina. A primeira geração de grandes DJs de rádio teve Sonia Abreu na linha de frente, profissional que, além de estar à frente do lançamento de tendências musicais, também montou no país o primeiro soundsystem. A machadada na porta do casarão que permitiu a entrada do techno no país também foi dada por uma mulher: Andrea Gram, na ativa e operante, o que nos faz perguntar qual o sentido de seu nome não constar no line up deste e de outros festivais de grande porte.

A atração principal do New Dance Order foi Anna, DJ brasileira que hoje vive na Europa e é um dos nomes mais respeitados da nova geração do techno mundial. Anna toca e produz muito bem em seu estúdio abarrotado de aparatos analógicos.

“É um prazer estar aqui especialmente neste dia. Amo todas do line up. Um sonho. Fazz muito tempo que não venho ao rio e estar no festival no dia das mulheres, nesta luta que ainda é uma luta, infelizmente. Não é o nosso normal, ter espaço nos festivais.  Ainda temos que lutar por isso até que um dia não seja mais preciso.
Mas estar aqui, podendo representá-las é uma honra!” – contou Anna ao MNS no backstage, pouco antes de subir e se apresentar para uma pista lotada.

Na outra ponta da linha de tempo, a abertura do palco, a cabine foi comandada por uma das mais proeminentes produtoras do país e divulgadora da house music e do boogie, Mary Olivetti. Já em seu terceiro Rock In Rio, Mary encerejou seu bolo nos últimos anos com remixes que ficarão para a história da música eletrônica brasileira. Arrancou elogios emocionados de Rita Lee para sua Cor de Rosa Choque, regravou o grande hit brazuca Black Coco, lançado pelo seu pai Lincoln Olivetti, além de vários outros lançamentos nos últimos anos. Mary, ao lado de Anna, representa a profissional que produz e toca numa função só. No Rock in Rio, por exemplo, preparou uma versão exclusiva, de última hora, para uma música de Gal Costa que foi sucesso na apresentação.

Claudia Assef, sócia, fundadora desta tua amada revista e do  WME, instituição dedicada à busca por um mercado mais igualitário para as mulheres na música e responsável pela bíblia dos DJs brasileiros o livro Todo Dj já Sambou, foi a nossa dourada repórter de campo e conversou com Mary:

O início, o fim e o meio, com música de Eli Iwasa. A DJ voa alto na pós pandemia, com residências pelo país, diversos empreendimentos em Campinas, sua base desde que assumiu o clube Kraft e uma agenda de apresentações que a credencia como uma das mais importantes artistas do cenário eletrônico da república, também conversou conosco.

MNS – Qual a importância de um festival do tamanho do Rock in Rio ter um dia totalmente dedicado, em seus palcos principais, ao protagonismo feminino?

Quando um dos maiores festivais do mundo (e o maior do Brasil), faz o dia delas, mulheres, em todos os palcos do evento, mostra não só que eles se importam, como prova que este é um assunto a ser discutido e melhorado. Eles estão fazendo seu papel. Estão com a gente na luta por maior equidade, por visibilidade. Não só mulheres no palco, mas também nos bastidores. São tantos talentos que a gente admira e respeita muito.

MNS – Você acha que isso pode reverberar para outros festivais, que devem se ligar para essa necessidade?

É sobre isso! O Rock in Rio é exemplo para muitos produtores de eventos e promoters de festa. Quando o Rock in Rio faz isso, reverbera para o mercado inteiro.

O line up do domingo ainda teve Marta Supernova Blond:Ish, Ella de Vuono, Anabel Englund e Aline Rocha. O clima era de celebração coletiva nos camarins. O momento passava longe da competição e mostrou a força coletiva que este momento demanda. Nas palavras (roucas de alegria) de Claudia:

“foi muito especial porque existia um espírito colaborativo. Cada artista aplaudindo a outra no backstage. Uma energia não de competição, mas de botar a outra pra cima. O palco teve público lotado, como em todos os outros dias. Mas ontem tinha um ‘feeling’, uma sensibilidade extra no rolando no ar. Das apresentações que eu vi, foram todas muito bem elaboradas, bem pensadas. Estavam todas sentindo que era uma data muito especial”.

 

Galeria de fotos (I Hate Flash / Divulgação Rock in Rio)

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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