Michael Jackson e Prince Foto: Reprodução

Michael Jackson e Prince: como uma bunda impediu o que seria a maior parceria do pop

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Baterista de Prince, Sheila E trouxe novos fatos à história sobre a treta entre os lendários músicos

Uma bunda foi a responsável por impedir o que seria a maior parceria da história da música pop, unindo dos ícones da música negra estadunidense, rivais mortais, cujo relacionamento sempre foi pontuado por espetadas, desencontros e mal-estar. Prince e Michael Jackson disputavam durante a década de 80, palmo a palmo, a coroa de maior prodígio da música mundial. As armas usadas nesta guerra eram pesadas: álbuns impecáveis, videoclipes milionários e performances de palco, até hoje, impossíveis de copiar. Uma batalha que terminou sem vencedor até a morte de ambos. Jackson faleceu em 2009 e e Prince em 2016. Ambos em suas casas e pelo mesmo motivo: abuso de remédios para dor.

Sobrou para Quincy Jones, Midas da indústria musical e produtor de Michael Jackson, a missão de tentar aproximar os dois. Jones sabia do poder histórico de uma parceria daquele quilate, e seu conhecimento acumulado desde os tempos de fera do jazz era mais do que suficiente para reconhecer as geniais qualidades dos dois garotos de temperamento difícil.

Após um intenso trabalho de meio campo, o produtor finalmente convenceu Prince a gravar um single junto com o rival. A canção, Bad, que se tornaria mais tarde um dos maiores sucessos da carreira de MJ, foi a escolhida como ponto de união das duas maiores forças do pop. A ideia, no entanto, nadou por um oceano inteiro e morreu na praia. Mais precisamente, na mansão estúdio de Prince, Paisley Park. Logo ao ler o primeiro verso da música, “your butt is mine” (“sua bunda é minha”), o guitar hero de Mineápolis desistiu do projeto e deu fim ao sonho de Quincy Jones. Prince achou o verso de extremo mau gosto.

A novidade que veio à tona recentemente foi contada pela baterista Sheila E, da banda de Prince, em uma entrevista para o podcast The Jason Show [via NME]. Ao contrário do que se sabia até então, a recusa do astro não foi tão imediata assim, embora Sheila e todos da banda tenham testemunhado o desdém do músico com a possessão de bunda proposta por Jackson no verso.

Segundo a musicista, Prince, depois de tirar um sarro do verso, mostrou a canção à banda, e eles gravaram um take. Sheila conta que o resultado ficou maravilhoso: “Foi uma versão incrível do que deveria ter sido. Depois que nós gravamos, ficamos todos, tipo: ‘meu Deus, mal podemos esperar para o Michael ouvir isso'”. Uma pérola musical que se tornaria um gigantesco hit da música pop.

Mas a excitação dos músicos durou pouco. Aquela bunda não saía da cabeça de Prince, e ele simplesmente não conseguia aceitar a ideia de associar sua tão amada imagem a um verso como aquele. Após algumas audições, apagou tudo das fitas de gravação (o que, segundo Sheila, não era incomum a ele), rejeitou o projeto e encerrou o assunto. A possível parceria foi ouvida somente pelos músicos que estavam no Paisley Park naquele dia.

A partir dali, a relação só azedou, por mais que as equipes de ambos os lados tentassem uma aproximação. “Uma das pessoas mais rudes que eu já conheci”, disse Michael sobre Prince, adicionando o doce comentário: “se ele quiser continuar tentando competir comigo, vai se dar mal”. Tudo poderia, porém, ter caminhado para um rumo diferente, não fosse a “sua bunda é minha”, presente na canção malvada de Jackson.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.