Marie Davidson Foto: Corinne Schiavone/Divulgação

Estreando no Brasil, Marie Davidson está apaixonada pela discotecagem

Chico Cornejo
Por Chico Cornejo

Artista canadense se apresenta no palco Não Existe do Gop Tun Festival, a partir das 23h30

Mesmo falando por telefone, é bem difícil não se deixar levar pela empolgação que emana de Marie Davidson a cada frase que profere ao falar daquilo que preenche a maior parte de sua vida já há alguns anos.

E quando falamos em vida, ela é evocada em suas múltiplas dimensões, da afetiva à criativa, já que sua existência neste planeta é quase que integralmente devotada a fazer aquilo que ama ao lado de quem ama, o parceiro e produtor Pierre Guerineau, com quem forjou uma dinâmica colaborativa extremamente frutífera em vários âmbitos de sua carreira.

Já contando uma boa década de dedicação exclusiva a ela e uma batelada de lançamentos por uma coleção de selos consagrados, seu ânimo não arrefece de forma alguma, e ela parece incansavelmente pronta a se reinventar. E é justamente num momento de renovação de forças que ela vem ao Brasil pela primeira vez, debutando no palco Não Existe do Gop Tun Festival.

Munida musicalmente com as faixas fresquinhas que compõem Y.A.A.M., o single recém-lançado pela Deewee, a plataforma fonográfica dos dedicados belgas do Soulwax/2manydjs, os irmãos Diwaele, e preparada com uma novíssima apresentação que conjuga a corporalidade de sua performance com a musicalidade de sua persona, ela contribui com algo bastante singular à já parruda escalação do festival. Foi em torno desses assuntos que nossa conversa girou, e abaixo poderão descobrir um pouco do que nos aguarda na virada do sábado para o domingo.

Chico Cornejo: Cada show seu é muito distinto, mas a vitalidade de sua presença é um fator determinante de todos eles, junto ao uso intensivo de cada instrumento. Deve ser um pouco desafiador montar um set-up que seja tão confiável quanto versátil (e portátil) para dar conta do que precisa, não? 

Marie Davidson: Estar na estrada envolve um aprendizado constante, seja de suas próprias habilidades e das ferramentas que pretende usar para tocar, como das condições sob as quais vai se apresentar. São muitas variáveis em jogo. Depois de carregar muito equipamento comigo e minha equipe, tendo passado por inúmeros perrengues com coisas extraviadas, pagando taxas de sobrepeso em bagagem e todo tipo de incômodo que envolve essa logística, hoje em dia viajamos com um acervo bem enxuto.

A estratégia atual envolve cada um de nós três — eu e Pierre, mais o nosso soundguy — levar um item mais volumoso, como a Elektron e a Groovebox. O restante se limita a pendrives com minhas músicas, pois agora me apresento num formato híbrido, no qual uso instrumentos e CDJs. Esse formato me ajudou a ter acesso a meu crescente repertório sem ter de carregar tanta coisa que tinha de usar para executá-lo ao vivo. Mas, a bem da verdade, ele também se originou na minha mais recente paixão: o DJing.

Comecei a discotecar em 2022, sem muita pretensão, algo espontâneo que me apresentou todo um novo panorama criativo e começou a me envolver cada vez mais. O digging, o preparo de um set, o treino e a técnica. Foi inevitável me apaixonar por essa arte.

Tendo em mente a quantidade de gigs envolvidas na promoção de um álbum e considerando quantos lançou até aqui, acho que cabe perguntar como você consegue manter um equilíbrio saudável entre o tempo no estúdio e nos palcos. Tem algum segredo ou estratégia?

Infelizmente, não. E eu sei bem o quanto me beneficiaria ter algum comedimento em tudo que se refere a minha relação com a música. Mas sou assim, apaixonada e um tanto obstinada, então acabo preenchendo o meu dia praticamente inteiro com coisas referentes a minha arte. Inclusive, Pierre me alerta com frequência a respeito da minha tendência a me ocupar com mais coisas do que seria prudente para uma pessoa normal, mas eu continuo forçando a barra e não tenho muita vida fora disso.

O fato de eu ser uma perfeccionista tampouco ajuda e, quando vou ver, estou sobrecarregada e muitas vezes atrasada com os prazos que tenho. Estou melhorando nesse aspecto, planejando e praticando mais para otimizar o tempo. Junte-se a isso o quão seriamente eu estou levando a tarefa de me apresentar como DJ, já que me sinto honrada em poder tocar as músicas de outros criadores como eu, e isso ganha dimensões ainda maiores.

Coordenar todas essas frentes e fatores deve ser de fato extenuante, principalmente quando implica apresentar as músicas de um álbum novo num formato diferente. E falando nele, como surgiu essa oportunidade de lançar pelo selo dos irmãos Diwaele?

É uma história bem interessante, repleta de acasos felizes. Primeiramente nos conhecemos de maneira breve, mas bastante cordial durante o festival Making Time, que acontece na Filadélfia. Depois foi em Barcelona, eu e Pierre estávamos na sede da Futura, nossa agência, andando nas proximidades do local onde o Sónar realiza algumas das atividades diárias, e os encontramos. Convidamos para o show e eles compareceram.

Pessoalmente fiquei impressionada e um pouco curiosa, pois aquele show foi bem contundente e diferente do que usualmente faço, um tanto experimental. E eles ficaram até o final! Conversamos mais um pouco e eles acabaram pedindo para retrabalhar a minha faixa Work It, e essa colaboração rendeu uma indicação ao Grammy de melhor remix.

Quando nos reencontramos em Los Angeles por ocasião da premiação, a conversa evoluiu e propuseram que eu fizesse um álbum para eles. Foi aí que nos convidaram aos estúdios da gravadora em Gent para produzi-lo, e tudo foi maravilhoso: o lugar, os equipamentos, mas especialmente a generosidade deles. O que fazem ali é muito especial e hospitaleiro, cada aspecto envolve um forte espírito de independência e eles ajudam muito aqueles em quem acreditam artisticamente. É bem punk, profundamente inspirado na ética do do it yourself.

E qual a conexão que mantém com Montreal, sua cidade natal? Por mais que todo mundo sempre pense em Berlim como um refúgio criativo, a capital do Quebec não deixa a desejar em vitalidade, hospitalidade e diversidade. Você já pensou em se mudar?

Sequer imagino sair daqui. Toda a minha rotina funciona de acordo com os ritmos e os recursos que a cidade oferece. Minha academia, meu estúdio, minha padaria, minha casa com meus gatos… Cada parcela do pouco tempo que tenho fora do que faço musicalmente está ancorada neste lugar. 

Também tem meu pai que vive nos arredores e eu gosto muito de ir visitá-lo sempre que posso. Já vivi em Berlim por dois anos e foi o que precisava naquele momento, mas aqui é meu lar, a energia desta cidade ressoa com a minha.

Agora, falando da sua vinda ao Brasil para o Gop Tun Festival que ocorre neste final de semana, fica uma curiosidade: como alguém tão preocupada com excelência em tudo que faz se prepara para um público que nunca viu?

Mesmo ciente de que vai soar como um clichê barato, acho que nada bate a honestidade no palco. Você chegar de cabeça e coração abertos, pronta para interagir com a audiência, conduzindo juntos toda aquela energia que é gerada ali. Acredito piamente que o público sabe detectar muito bem a sinceridade ou mesmo o retraimento, então você precisa se entregar ali, de corpo e alma, mas também estar pronta para ler a plateia e aprender com ela.

Espero que gostem do que vou levar, porque é uma parte muito importante de mim.

Gop Tun Festival

Marcado para este sábado, 20, no Live Stage Canindé, o terceiro Gop Tun Festival traz expoentes da house e do techno mundial, como Octave OneHelena Hauff, Octo Octa & Eris Drew, CEM, MCMLXXV, Gigola e Marie Davidson, além de brasileiros que têm feito bonito no país, como Crazed (BR), Kontronatura, FELIX, Capetini, Ananda e Peroni. Ainda há ingressos disponíveis pela Ingresse.

Idealizado por Bruno ProttiCaio TabordaFernando Nascii e Gui Scott, o Gop Tun é um coletivo e selo musical fundado em 2012 com o objetivo de criar e difundir espaços para a música eletrônica, sempre de olho nas novas tendências musicais e diversificando os espaços a fim de encontrar “a melhor pista”.

Conhecido pela curadoria musical em suas festas, produziu alguns dos maiores eventos da cena eletrônica nacional, como o Dekmantel Festival São Paulo, e showcases do selo, que já passaram por Lisboa e Berlim. Saiba mais sobre a trajetória do grupo aqui!

Serviço

Gop Tun Festival 2024

Data: 20 de abril de 2024 (sábado)
Horário: das 15h às 08h
Local: Live Stage Canindé – Rua Comendador Nestor Pereira, 33, São Paulo/SP
Ingressos: via Ingresse
Mais informações no site oficial

Atrações

Main Stage – 15h até as 08h

15h – Mary Roman

17h – Paulete Lindacelva

19h – Bárbara Boeing

21h – Gop Tun DJs

23h – Octave One (live)

00h30 – Octo Octa & Eris Drew

03h – Roza Terenzi B2B ISAbella

05h30 – Palms Trax

08h – Fim

Palco Supernova – 17h até as 08h

17h – Peroni

19h – Capetini

21h – Ananda

23h – Cashu

01h – Helena Hauff

03h – Surgeon

05h – Herrensauna (CEM & MCMLXXXV)

08h – Fim

Danceteria – 16h até as 08h

16h – Gustavo Keno B2B Lucian Fernandes

18h30 – Kauan Marco (live)

20h – Carlim

22h – Kornél Kovács

00h30 – Larissa Jennings B2B Bea Ferretti

02h30 – Tornado Wallace

05h – Craig Ouar B2B Simon

08h – Fim

Palco Não Existe – 17h até as 06h

17h – Benjamim Sallum

19h – FELIX

20h30 – L’Homme Statue

21h30 – DJ Marcelle

23h30 – Marie Davidson (live)

00h30 – CRAZED (BR)

02h – Kontronatura

03h30 – DJ Gigola

06h – Fim

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