Álbum consolidou a cantora americana no topo da música pop
“É porque nós estamos vivendo em um mundo materialista, e eu sou uma garota materialista”, canta Madonna, na primeira música do disco Like a Virgin, chamada Material Girl, versando sobre a história de uma garota que só da chance a caras que têm dinheiro e possam “bancar seus interesses”. A letra, ácida e certeira, tirava uma onda com os yuppies, jovens totalmente focados no trabalho, cuja masturbação rolava lendo relatórios do mercado de ações.
Exatos 40 anos depois (o disco foi lançado dia 12 de novembro de 1984), a gente vive sendo bombardeado nas redes sociais com vídeos de jovens (e até crianças) exaltando o sucesso financeiro puro e simples, a “educação financeira”, os coaches, e a balela de que o segredo da felicidade está escondida dentro do iOS de um iPhone. Tristemente, nos damos conta que Like a Virgin segue atual como nunca, e de que o tempo é mesmo cíclico.
A faixa-título, terceira do álbum e outro gigantesco sucesso da cantora, é uma singela declaração de amor, um contraponto que deixa claro a intensão satírica de Material Girl, caso algum fã ainda não a tivesse sacado. Em Over and Over, a terceira música que compõe a tríade de faixas relevantes do LP, a jovem revelação da música nova-iorquina fala sobre o empoderamento, a coragem de se levantar e “sair por aquela porta”. Era Madonna exigindo que o mundo se abrisse para a garota americana, que se reconheceu no seu segundo álbum (o primeiro, Madonna, lançado um ano antes, já tinha feito um tremendo barulho) e entendeu seu lugar naquela sociedade maluca dos anos 80. Se viram garotas fortes, donas de si e de seus desejos, mostrando o dedo do meio para os merdinhas de terno que dirigiam conversíveis e idolatravam a bolsa de valores.
Like a Virgin foi um estouro. Primeiro lugar nas paradas dos Estados Unidos e Inglaterra, segundo no Brasil. Consolidava uma febre que colocaria a cantora no topo da música pop, posição que ocupa até hoje, como pudemos comprovar em seu show para 1,6 milhões de pessoas no Rio de Janeiro.
Se você conhece a diferença entre “inteligente” e “esperta”, saiba que Madonna gabarita nos dois adjetivos. Apesar de ter sido a rainha, não foi a criadora da estética que a fez explodir em fama para o mundo. Reconheceu na hora certa o movimento que havia se formado através da música e do estilo de outras garotas da new wave: as conterrâneas da The Bangles e The Go-Go’s, e as inglesas do Bananarama. Grupos femininos que se apropriaram do pós-punk para fazer música em proveito próprio, bancando o colorido novo movimento. Sonoramente, juntaram a evolução tecnológica que chegava aos estúdios na dédada de 80 com a música de festa feita por grupos como DEVO e The B-52’s.
Mas a artista sempre soube que, se era para fazer o mesmo, era preciso fazer melhor. Fã de David Bowie, correu atrás de Nile Rodgers, guitarrista genial que volta ao Brasil em 2025, no C6 Fest. A artista pirou com Let’s Dance, hit de Bowie que só foi o que foi graças à consultoria guitarrística de Rodgers. O icônico músico produziu Like a Virgin, e ainda ofereceu dois outros integrantes de sua banda Chic, Bernard Edwards e Tony Thompson, para comporem o time de músicos. O resultado foi um dos maiores êxitos da música pop da década de 80. Até o momento em que a venda de álbuns pode ser contada, o disco contabiliza 21 milhões de cópias vendidas.
Em seu primeiro disco, Madonna levantou a bola. No segundo, deu a cortada que garantiu o match point na final olímpica. Dali para a frente, foi só ouro. E para uma garota que tirava sarro do materialismo, foi uma tremenda vingança.