Keinemusik Keinemusik. Foto: Reprodução

Como o Keinemusik tem ajudado a promover a música eletrônica brasileira

Vitória Zane
Por Vitória Zane

Com data marcada para vir ao Brasil, projeto alemão costuma tocar faixas criadas por produtores do país

O Brasil está bem próximo do Keinemusik. E não é só por conta do show de Adam Port e &ME marcado para 23 de novembro no Vale do Anhangabaú, não. O grupo, que ainda conta com Rampa, é um dos grandes nomes da música eletrônica atual, levando a afro-house para diferentes lugares do mundo e, por consequência, o som de inúmeros brasileiros para vários cantos do globo.

Mesmo com faixas autorais que passam de 100 milhões de streams, como Move, o projeto alemão vira e mexe toca produções de artistas brazucas. Não é raro ver vídeos que capturam esses momentos nas redes sociais, ambiente com o qual o Keinemusik está amplamente habituado.

Quer provas? Bom, um de seus sets mais famosos, nas Pirâmides de Gizé, no Egito, que rolou em 2024 mesmo, tem suporte para dois remixes nacionais: o de Curol para Ogum, do 3030, e o de VXSION para Pontos de Exclamação, da Jovem Dionisio. No EXIT Festival, no ano passado, os caras tocaram Nothing On Me, de Maz, Apache e Maxi Meraki feat. Tabia.

E por falar em Maz, será que podemos creditar um pouquinho da responsabilidade de viralização do remix de Banho de Folhas ao grupo? É que depois que o Keinemusik apareceu tocando a versão do DJ para o hino de Luedji Luna num rolê — que, inclusive, tinha Drake na área VIP —, a faixa passou a rodar mais e mais pelas pistas mundo afora, tornando-se um dos maiores hits do carioca. Aí, meus queridos, a porta de apoio se escancarou. Não satisfeitos, os alemães já tocaram também Todo Homem (remix dele e de Antdot para o single de Zeca Veloso) e Amana (collab com VXSION).

VXSION também é um dos queridinhos do grupo hypado. Além das faixas já citadas, o Keinemusik vive tocando a edição que o artista fez para Sweet Disposition, famosa canção do Temper Trap. Curol não fica atrás: a DJ e produtora já dividiu line-ups com o grupo inúmeras vezes (como no Réveillon Carneiros e no Zamna Tulum, por exemplo), chegando até a criar um mix para o radio show dos alemães. Seu remix para Addicted, de Zerb e The Chainsmokers, também entrou nos sets dos ícones.

Pensa que acabou? Não, peraí que tem mais! Tem também DJ e produtor já consolidado, como Soldera, que tem mais de 15 anos de carreira, chegando ao set dos alemães com Baianá (remix do hit de Barbatuques), Minha Prece (remix da faixa de Dandara Manoela, feito ao lado de Cazt) e Khanyisa, em parceria com Feels Apart e Sazi Cele.

E tem jovens talentos, como Édel e Zani, que viram seu remix paraYAWA (Man on a Mission), original de Fireboy DML, entrar para a lista de suportes brazucas do trio Adam Port, Rampa e &ME. “A ideia inicial era lançar algo no SoundCloud mesmo, só pra compartilhar a nossa interpretação da música com mais pessoas. Toda essa repercussão foi muito inesperada, somos fãs e acompanhamos o Keinemusik há bastante tempo, então ver nossa música sendo tocada por eles foi surreal”, contam os rapazes ao Music Non Stop.

“Mesmo com tudo isso, achamos importante sempre manter os pés no chão. Sabemos que ainda estamos no começo e que ainda tem muito trabalho a ser feito. Um evento como esse é uma grande motivação pra trabalhar ainda mais, mas nosso foco permanece o mesmo: fazer músicas únicas que movem as pessoas”, complementam Édel e Zani.

Victor Alc, baiano de 26 anos, viu a carreira mudar depois de uma ajudinha do grupo. Tudo começou quando ele enviou uma produção sua para Adam Port, que acabou postando nas redes sociais sobre uma das faixas que ele estava mais curtindo tocar naquele momento. Não demorou para começar o burburinho do público para saber de quem era aquela música e quando ela seria lançada. A galera chegou até o perfil de Alc cobrando pelo som nas plataformas, e muitos DJs pedindo o arquivo para poder tocá-la.

“O que mudou? Basicamente tudo. Depois que a Sudamérica começou a rodar muito, várias pessoas entraram em contato falando: ‘olha, ouvi sua música em Los Angeles’, ‘ouvi em Tulum’… Com o suporte deles, a Sudamérica conseguiu uma boa gravadora para ser lançada — a Moblack Records —, bateu o Top 4 de vendas de afro-house e entrou para o 25 do Top 100 geral do Beatport. A partir daí, começou também muito request de booking internacional e a aumentar a frequência de gigs no Brasil”, conta.

Mas por que o som dos brasileiros deu tanto match com o grupo alemão? Victor acredita que, como se trata de um país miscigenado, a cultura africana é muito forte por aqui.

“Digo por mim, eu sou de Salvador, então desde cedo já tive influência de músicas mais africanas e percussivas. Acho que tem muita relação, o povo brasileiro tem gingado, tem ritmo, tem groove — e afro-house é gingado, é ritmo, é groove. É uma comunicação muito mais fácil para nós. O ponto principal é que o brasileiro tem o molho”, brinca.

A crew alemã, hoje, ultrapassa o cenário mais underground da vertente. Basta olhar os números das plataformas e redes sociais. O projeto se popularizou tanto que acabou por despertar interesse geral para entender quem são esses três caras rodeados por gente segurando celulares em tantas festas pelo planeta.

Vitória Zane

Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música.