Conheça o DJ colombiano que grava em locais simbólicos de São Paulo
Jhonatan Ospina já se apresentou no Theatro Municipal, no heliporto do hotel Mercure, na Vila Itororó e no hotel Selina
Um DJ de Medellín, na Colômbia, que vive nos Estados Unidos e produz uma série em que toca em lugares de valor arquitetônico e cultural na cidade de São Paulo. De onde vem esta conexão geográfica? Conversando com Jhonatan Ospina, podemos dizer que surgiu através do amor e da saudade pela bagunçada metrópole brasileira. Afinal, foi a união de décadas com Fábio Lasalvia, que também vive na terra do tio Sam, a responsável por suas incursões pela cidade. “Primeiro, apenas para visitar a família do Fábio e ir a restaurantes”, contou Ospina na entrevista que deu ao Music Non Stop, direto de seu estúdio.
Jhonatan Ospina ao vivo no Theatro Municipal de São Paulo
Jhonatan já publicou quatro episódios de uma série em que discoteca na Vila Itororó, no hotel Selina, no heliporto do hotel Mercure e no Theatro Municipal. O responsável pelas captações é o videomaker Bruno Puccini, e tem o apoio da Spcine. Nos dois últimos vídeos, a direção ficou por conta de Mateus Rigola, renomado cineasta e fotógrafo que já trabalhou com nomes como Hungria, Péricles, Nando Reis, MC Guimê, DENNIS, Kevinho e Gusttavo Lima.
Jota Wagner: Como esta história com lugares bacanas de São Paulo começou?
Jhonatan Ospina: Moro nos Estados Unidos há 16 anos, onde conheci o Fábio. Fiquei, então, mais ligado ao Brasil. Aprendi português assistindo a televisão, vendo filmes com legenda (risos).
Este projeto, de gravar sets em lugares bacanas, vai acontecer só em São Paulo?
Por enquanto, sim. São Paulo tem muitos lugares bonitos, que muitas vezes a gente não vê. Então, é importante destacar que nela tem arte, tem um cultura que pode estar esquecida. O Theatro Municipal é um ícone que, para os mais jovens, pode estar esquecido. E o Theatro vai pertencer a eles no futuro. Então, acho que temos de tomar conta disso, com respeito, com cultura.
Você já publicou quatro episódios até agora…
Sim. O primeiro foi na Vila Itororó, um espaço cultural, um centro tombado e o primeiro lugar onde houve uma piscina pública em São Paulo. Foi uma quebra daquele preconceito de que só pessoas de uma classe econômica maior podiam ter acesso a uma piscina. O segundo foi o Theatro Municipal. Ali eu queria enviar uma mensagem para as pessoas que o espaço também é nosso. Nunca um DJ havia gravado techno lá dentro. Mas a música é uma linguagem universal, então tudo se encaixa. Quando fui procurar o Theatro, tinha um outro conceito sobre a pessoa que iria aprovar o projeto. Um pessoal mais velho, do mundo da música clássica. No final, foram duas meninas bem jovens e foi muito legal, porque havia também esse tipo de pessoa em um espaço do governo. Isso quebra preconceitos que também são nossos.
Meu último foi em um heliporto. O vídeo foi gravado em 360 graus. Se você puser um óculos 3D, pode ter uma vista de toda a cidade de São Paulo. Incluí uma cenografia e convidei um artista urbano bem reconhecido no Brasil, o Gueto Dub. Foi muito legal misturar essa arte no heliporto, e que servisse à cidade. São Paulo tem muito grafite e eu gosto muito de arte urbana. Pudemos também ajudar artistas que já estão há muito tempo criando e que às vezes não tem a oportunidade de conhecer profissionais de outras linguagens, e compartilhar o que criam.
Minha ideia é criar algo que fique para a história, que envie uma mensagem positiva para jovens que gostam de arte e que estão começando nessa cena também, nesse mundo da música eletrônica, um lugar difícil de entrar, com muita competição.
E você pretende gravar mais episódios?
Estou trabalhando nisso. Pensando também na Amazônia, que tem uma mensagem muito forte no sentido ambiental. Além disso, estou gravando um videoclipe com a gravadora Cactunes, que será minha primeira track lançada, chamada Mistery.
Jhonatan Ospina ao vivo no heliporto do hotel Mercure
Como funcionou a questão do financiamento? Teve algum apoio do governo ou de patrocinadores?
Não, foi através da minha atitude mesmo. Meu trabalho é que ajudou a poder sustentar esse tipo de coisa. Tenho uma grande ajuda do meu manager, que cuida desse planejamento para que eu possa focar apenas na música e na criatividade.
Houve lugares que você tentou para este projeto e que acabaram não rolando?
Por enquanto não. Acho que porque eu também vim com um equipe muito forte, como o Mateus Rigola, um diretor foda, que já gravou nomes como MC Kevinho. Tivemos também o apoio da Spcine. Não financeiramente, mas em poder direcionar do jeito correto a logística, as autorizações. Tentei fazer sempre do jeito correto. Foi a Spcine, por exemplo, que fez toda a intermediação com o Theatro Municipal.
Quanto tempo durou esse processo todo?
Foram seis meses.
E o que mudou na sua cabeça, em relação a São Paulo, depois de tudo pronto?
Muita coisa. Eu só ia a São Paulo para ficar com a família do Fábio e ir a restaurantes. Faz 15 anos que o conheci e nunca tinha visto ainda os espaços culturais, os teatros… Nunca tinha visto uma perspectiva tão diferente de São Paulo. Conheci também uma cena muito forte na música eletrônica. Para mim, é uma peça chave pode ajudar dando mais estrutura para as pessoas se animarem a fazer a coisa acontecer.
Jhonatan Ospina ao vivo no hotel Selina
Na Colômbia foi assim. Meu irmão foi a primeira pessoa a abrir a cena da música eletrônica no país. Lá por 2002, José Julian Ospina foi o primeiro a levar Mauro Piccotto, Mario Più e muitos outros. Criou uma cena muito grande por lá. Cresci bem próximo dessa cultura e tenho um amor por isso desde criança.
[Chamo o “tal” Fábio, que estava também no estúdio, e pergunto a ele como se sente na condição de responsável por mostrar São Paulo a Ospina]
Fábio Lasalvia: Quando comecei a traçar o planejamento de dar esse palco para a cidade de São Paulo, tudo era meio ilusório para mim. Fazer e ver isso acontecer foi muito bonito. Porque sou paulista, sou da Zona Leste, fui nascido e criado lá, no Tatuapé. Saí do Brasil e vim morar nos Estados Unidos. E aí quando você mora fora, você começa a ter uma outra percepção do país, da cidade onde você nasceu, viveu e foi criado. Eu também acabei conhecendo uma São Paulo que eu não conhecia. Eu nem sabia da importância da Vila Itororó. Nunca tinha pisado no Teatro Municipal. Tudo isso tudo começou, não foi nem em São Paulo; a ideia de São Paulo partiu de um trabalho que o Jhonatan fez no México, para gravar num centro de reciclagem. Foi um erro que deu certo. A gente gravou no centro de reciclagem e conseguiu passar uma mensagem. Então pensei: “vamos levar isso para São Paulo”. Eu costumo falar aqui que é a Nova Iorque multiplicada por dez.
Jhonatan Ospina ao vivo na Vila Itororó
E como você, Jhonatan, enxerga São Paulo?
Jhonatan: Eu acho que a minha percepção de São Paulo é através da comparação com a minha cidade, Medellín. Tem uma vibe muito similar, com a diferença de que aqui não tem tanta montanha. A energia, a cultura, é muito parecida. Mas em São Paulo as pessoas têm mais respeito um pelo outro, uma mentalidade mais aberta. Aceitam melhor muitas coisas do que em outros países. Eu me sinto em São Paulo como na minha cidade.
Não é primeira pessoa de Medellín que me diz isso…
Jhonatan: Sério?
Sim. Como estão os planos para o futuro?
Jhonatan: No estúdio, estou tratando sempre aprender. Escuto DJs novos e antigos e trato de me informar por toda parte. Projetos, eu tenho um milhão na minha cabeça. Mas as coisas têm de vir com tempo, para as pessoas poderem digerir e curtir também. Faço com calma para, quando entregar música para o meu público, que seja algo com que me sinta seguro, satisfeito e que, para mim, esteja completo
Fábio: Nossa ideia, nosso planejamento é realmente fincar a carreira dele no Brasil, principalmente em São Paulo. Começamos uma parceria com a Cris Piza, que é jurada do [reality show] Canta Comigo. Agora em setembro sai a primeira música por um gravadora brasileira. E estamos esperando só o sinal verde para a gravação do clipe, que já podemos adiantar, será em Paranapiacaba [distrito de Santo André/SP]. Foi uma ideia que partiu do meu sobrinho, que leu um livro baseado lá.